1991

A astúcia

por Marcelo Masagão

Resumo

Escrever sobre televisão é difícil. Isso porque seria preciso, em primeiro lugar, definir o lugar da escrita. Há, nesse sentido, quem trabalha ou trabalhou com televisão e quem dela está distante, como um ensaísta, professor, semiólogo etc. Neste caso, tende-se a demonizar a televisão, em favor da abstração. No outro, corre-se o risco de perder o meio de vida. Por isso, há que se agir com prudências tática e estratégica acerca da emissora em que se trabalha, de outra em que se pode vir a trabalhar ou do sistema de comunicação como um todo.

Resulta disso que o discurso sobre a televisão supõe um sistema de escamoteação ou eufemismo. E isso no que se refere a todo o universo político e social. Note-se, por exemplo, a questão do sistema de concessões, que é um escândalo. O funcionamento da televisão no Brasil é o produto de um conluio entre o Estado e a iniciativa privada, que funciona através de regras secretas, barganhas e pressões mais ou menos clandestinas. Claro que nenhuma pessoa ou entidade de prestígio político ou social trata disso, ou porque teme ser “esquecido”, ou porque não dá importância ao tema. Assim, a primeira conclusão a que se chega é que a maioria dos analistas submete-se a uma espécie de autocensura.

Na prática, independente das liberdades estéticas e políticas de que se disponha, há em geral um grande problema na televisão que torna eventualmente pouco relevantes os esforços para divulgar mensagens progressistas ou mesmo subversivas. É que ela é apreendida como um mosaico, em que o importante para o espectador é o fluxo da programação, que se sucede tão naturalmente como os ciclos naturais. Aliás, a televisão já parece ser uma segunda natureza. Sabe-se que o público tende a confundir a realidade — do jornalismo — com a ficção das novelas ou dos comerciais. Tudo assim acaba virando uma espécie de ficção suspensa, ambígua. Daí que o efeito global da programação é muito mais forte do que qualquer programa específico, por mais genial que ele seja. Vale é o fluxo, que restabelece a ordem, depois de qualquer desordem. Se o Cid Moreira, no Jornal nacional, resumisse em um minuto o “Manifesto comunista”, não haveria muito problema, desde que a programação retomasse em seguida seus direitos. Já se ele ficasse mudo durante um minuto ou chorasse sem motivo, haveria um escândalo. Mas ainda assim amenizado pela volta do fluxo de programas e comerciais.

Uma palavra sobre a televisão nos países socialistas ou ex-socialistas. Se, no Brasil, há uma enxurrada de fatos e nenhuma interpretação – na medida em que o mosaico confunde tudo –, o que se observa nos países socialistas é o contrário. Isso porque com as palavras, sem os fatos, pode-se construir um mundo que não existe, até esse mundo despencar.

Já num país como os Estados Unidos, em que os cinquenta canais revezam fatos e análises, o povo não é tão bem informado como se supõe, pois o que há é a saturação da informação e do estímulo audiovisual. Isso que, associado à impaciência para permanecer num canal, resulta numa degradação geral, com a banalização das palavras e das imagens, todas se equivalendo ou não fazendo mais sentido.


Não gosto de falar em público, salvo se me fazem perguntas. Nunca se sabe se o que se está dizendo interessa. O texto de apresentação que fiz para essa palestra, e está impresso no catálogo, é um texto convencional, acadêmico, e além disso supõe uma estrutura que não vai haver na minha fala. Anotei alguns pontos, mas sei que minha fala vai ser caótica, cheia de lacunas e sem conexões lógicas. Outros já falaram das questões genéricas, filosóficas da televisão. Pretendo fazer algumas colocações de um ponto de vista puramente pessoal.

Pouca gente discutiu aqui a dificuldade de falar em público sobre a televisão. É uma fala complicada porque você teria de definir primeiro o lugar de onde você fala, coisa que a televisão nunca define. Você poderia dividir os falantes em dois tipos — as pessoas que trabalham ou trabalharam em televisão, ou cujo trabalho depende diretamente da TV, e as que dela estão distantes: ensaístas, professores, semiólogos etc. Esse segundo grupo tem a tendência de “demonizar” a televisão, sua fala em geral vai no sentido da abstração. Agora, os do primeiro grupo, além de poderem ser riscados do mapa — como todos, aliás —, podem pôr em risco seu meio de vida. Gente como o Boris Casoy ou o Fernando Mitre fala com prudência tática e estratégica em relação à emissora em que trabalham, em relação a outra em que podem vir a trabalhar, em relação ao sistema de comunicação como um todo.

Resulta que a fala sobre a televisão supõe um sistema de escamoteação, de eufemismo. E isso abarca todo o universo político e social. Veja, por exemplo, essa questão do sistema de concessões, que é um escândalo. As concessões e o funcionamento da TV no Brasil são o produto de um conluio entre o Estado e a iniciativa privada, cheio de regras secretas e barganhas e pressões mais ou menos clandestinas. Mas nenhuma pessoa de prestígio político e social, nenhuma entidade ou partido político põe o dedo na ferida, ou porque temem ser riscados do mapa, ou não dão ao tema a prioridade que ele merece. Assim, a primeira conclusão é que muitos dos que falaram aqui submeteram-se — como acontece na TV – a uma espécie de autocensura.

Ao contrário do que esse intróito faria supor, tenho a dizer que, do ponto de vista pessoal, minha experiência na TV, na Globo, foi muito importante, foi muito boa para mim, com todos os problemas que possa ter havido nos nove anos em que lá estive. Larguei o cinema em 1971, fiz jornalismo durante quatro anos e em agosto de 1975 fui para o Globo repórter. Graças à televisão pude então voltar a mexer com imagem e tive minhas primeiras experiências com documentários. Pelo menos até 1981, aprendi muito, viajando, filmando, conversando com as pessoas que entrevistava, fiquei sabendo o que podia usar na TV e o que, sendo desaconselhado ou vetado na TV, poderia usar no cinema, se um dia voltasse a fazer cinema. Além de tudo, pela primeira vez na vida recebia um salário bom e pago em dia.

As pessoas que fazem cinema no Brasil em geral têm ou tinham um desprezo aristocrático pela TV. Deveriam trabalhar nela por uns seis meses, como exercício de humildade, para aprender o que é ter patrão, cumprir prazos rigorosos, os ossos do ofício etc. Por outro lado, os caras de TV lucrariam se um dia se libertassem da segurança da TV, que também é uma camisa-de-força, para enfrentar os riscos da insegurança e da liberdade implícitas no trabalho independente. De qualquer modo, estou falando dos anos 70, quando, paradoxalmente, em plena ditadura, era mais arejado trabalhar na Globo do que hoje em dia, na área do jornalismo. Porque então o inimigo era externo.

Fala-se muitas vezes do cinema como meio arcaico e do vídeo, do equipamento eletrônico como o moderno, o progresso. O que vi no Globo repórter mostra como essas análises puramente tecnológicas, sem levar em conta os condicionamentos sociais, estão condenadas a ser tolices abstratas. O Globo repórter foi um caso típico em que a passagem do artesanato cinematográfico para o teipe foi usada para controle de rentabilidade em todos os níveis — econômico, político, ideológico, estético. Até 1981 um programa era feito em filme reversível e o local de trabalho era uma casa a uns cem metros da sede do jornalismo da Globo, o que tornava duplamente difícil o controle da sua produção pela Central Globo de Jornalismo. Examinar um documentário em processo de montagem era difícil — você tinha que tirar o filme da moviola, levar em banda dupla para o estúdio de mixagem e depois telecinar. Isso tudo levava algumas horas, e tempo em TV conta muito, como se sabe. Isso aumentava nossa autonomia. Outra coisa: como o filme era reversível, isto é, não havia copião, o filme original era montado na moviola, podendo ficar riscado, sujo, portanto em desacordo com a limpeza técnica do padrão Globo. Resumindo — nessa época, até o final dos anos 70, o Globo repórter era uma espécie de nicho dentro do jornalismo da Globo — sujo, mais autônomo, mais lento, mais aberto à controvérsia e à experimentação, menos obcecado pelo problema do Ibope, da concorrência. É por essa razão que fizeram trabalhos para esse programa, como funcionários ou freelances, cineastas como Valter Lima, João Batista de Andrade, Hermano Pena, Maurice Capovilla, Sílvio Back, Eduardo Escorel, Osvaldo Caldeira, Jorge Bodanski, Alberto Salvá e outros que posso ter esquecido. Vocês concebem esses cineastas fazendo documentário na TV hoje em dia?

Bem, em 1982, o Globo repórter entrou na era eletrônica, como já tinha acontecido com o jornalismo diário, e mudou sua sede para o prédio da emissora. Assim, era só passar no corredor onde se editava todos os programas, pegar a fita com o produto em processo ou acabado e levar para ser julgado pela direção geral de jornalismo. Nesse início dos anos 80 houve várias crises, as quais não interessa detalhar aqui, até que, finalmente, por volta de 1986, o programa tinha se tornado mais um complemento na linha de jornalismo da Globo, totalmente integrado, neutralizado, asséptico; praticamente perdeu qualquer sentido de documentário, reduzindo-se ao nível da reportagem, em que tudo é presente e a dimensão temporal das coisas deixa de existir. Esse processo todo, que descrevi sumariamente, não é para incriminar A ou B — ele resulta da lógica do processo industrial tal como ele se desenrola na Globo e na televisão em geral. Lógica da homogeneização e da rentabilidade.

Agora, a questão do controle está quase sempre associada, nas críticas, ao conteúdo, mas na verdade ele começa — ou termina — como um controle de forma, de linguagem. Há um episódio curioso num livro sobre a história do Jornal Nacional. Sílvio Júlio, veterano jornalista da emissora, comentando os tempos heroicos do jornalismo, conta que, numa matéria para o final do Jornal nacional, resolveu bolar um final diferente, com o Carlitos se afastando na estrada — sem música, sem ruído, sem narração. O Sílvio diz no livro que essa bolação, que ele tinha achado maravilhosa, adequada, provocou um escândalo. Porque ele tinha rompido um tabu da nossa TV: nenhuma imagem no jornalismo pode entrar pura, sem o comentário que a explique, sem a música que lhe dê sentido. Uma imagem muda é perigosa porque a busca de seu sentido fica livre, o mundo pleno de significado oscila em sua base. Em consequência dessa compreensão, acredita-se que o espectador tende a mudar de canal ou a supor que haja uma falha técnica da emissora.

Isso prova um pouco, de maneira caricatural, que esse papo de “TV é imagem” é mais uma frase feita do que outra coisa. Eu diria até que, num certo nível, a TV tal como se pratica aqui depende tanto do som quanto da imagem, ou mais do som que da imagem.

Mas há sons e sons. A fala do locutor ou do repórter é uma necessidade vital no jornalismo da TV, para atestar que aquilo é verdade, que tal coisa tem tal sentido e não outro. Já a fala do chamado “popular”, essa deve ser restrita e sobretudo prevista, para evitar surpresas. E deve sobretudo ser curta. Eu me lembro que no primeiro documentário longo que fiz para o Globo repórter, em 1976, Seis dias de Ouricuri, uma vítima da seca contava como tinha comido raízes para sobreviver. E contava isso mostrando as raízes. O plano durava três minutos de fala contínua. E foi para o ar integralmente. Hoje, isso não poderia acontecer. E por questão de forma.

Independentemente das liberdades estéticas e políticas que você tenha, há outro problema na TV em geral que torna eventualmente pouco relevantes os esforços para divulgar mensagens progressistas ou mesmo subversivas. A TV é apreendida como um mosaico, em que o importante para o espectador é o fluxo da programação, que se sucede tão naturalmente como os ciclos da natureza. Aliás, a TV já parece ser uma segunda natureza. Sabe-se que o público tende a confundir a realidade — do jornalismo — com a ficção das novelas e com a realidade-ficção dos comerciais. Tudo assim acaba virando uma espécie de ficção suspensa, ambígua. E as pessoas comuns sentem falta dos breaks comerciais, já está na pele das pessoas. Tanto que eu penso que as emissoras como a TVE e a Cultura agravam sua falta de audiência, seu caráter elitista e chato porque não têm verdadeiros comerciais, só têm institucionais. O condicionamento do público é achar que, quando um programa não tem comerciais, é algo desvalorizado. Por isso, as TVES da vida deviam criar comerciais fictícios sobre produtos inexistentes ou vendendo coisas como o ar, a água, as ondas do mar etc.

Em resumo, o efeito global da programação é muito mais forte do que qualquer programa específico, por mais genial que ele seja. Vale é o fluxo, que restabelece a ordem, depois de qualquer desordem. Se o Cid Moreira, no Jornal nacional, resumisse em um minuto o Manifesto comunista, não haveria muito problema, desde que a programação retomasse em seguida seus direitos. Já se ele ficasse mudo durante um minuto, ou chorasse sem motivo, haveria um escândalo. Mas ainda assim amenizado pela volta do fluxo de programas e comerciais.

Quando a televisão desembesta, ela é muito interessante. Por exemplo, quando fecharam a TV Tupi, que já era um caos, na noite final os técnicos e artistas, pelo menos aparentemente, tomaram conta da emissora e ficaram no ar durante a madrugada implorando que a Tupi fosse salva. A câmera entrou em lugares onde não lhe era permitido entrar, os artistas e alguns anônimos invadiram o palco, ninguém se entendia e todo mundo podia falar. Acresce que, em casa, você se perguntava se os tanques também viriam para acabar com a “baderna” — porque isso foi nos anos da ditadura. Outro caso interessante foi quando o seu Sete da Lira baixou no programa do Flávio Cavalcanti. Enfim, os programas ao vivo têm esse valor extraordinário de permitir a intervenção do acaso. Por isso, a Globo, que cultiva sua competência industrial, odeia os programas ao vivo.

A maior homenagem que as televisões prestariam a um de seus donos quando ele morresse seria o singelo minuto de silêncio, muito mais que duzentos especiais sobre sua vida e obra. Imaginem dez minutos de silêncio, que homenagem seria…

Uma palavra sobre a televisão nos países socialistas ou ex-socialistas. Lá o problema do jornalismo é ou era o contrário: aqui, muitos fatos — não todos, é claro — e nenhuma possibilidade de compreendê-los, na medida em que o mosaico confunde tudo e não se dá tempo para qualquer análise, nos países socialistas, muitas, inumeráveis palavras, mas pouquíssimos fatos. Porque com as palavras, sem os fatos, se pode construir um mundo que não existe, até esse mundo despencar.

Já num país como os Estados Unidos há muitos fatos e muitas palavras na TV, e nem por isso o público americano é tão bem informado como se supõe. Eles dispõem eventualmente de cinquenta canais, mas a saturação da informação, dos estímulos audiovisuais, ajudada pelo controle-remoto, acaba resultando numa degradação geral, com a banalização das imagens e das palavras, todas se equivalendo ou não fazendo mais sentido.

Estamos mal, portanto, nesta modernidade dita pós-moderna. No Brasil, estamos péssimos. A única utopia possível é a existência de pluralismo, palavra-chave que define a democracia, pluralismo de fontes, de emissão, de controle. Televisão pública — nem estatal, nem privada, submetida a controles da sociedade. Mas é óbvio que supor alguma coisa “pública” no Brasil é uma grossa utopia. Precisamos dar os primeiros passos para um dia chegar a isso. Então, virão novos e melhores problemas.

QUESTÕES

Gostaria de saber, na sua opinião de homem de televisão e de cineasta, se você acha que não há nada a fazer com a TV enquanto a sociedade não mudar, ou se nós podemos fazer alguma coisa com a televisão.

Claro que a gente pode. Quero dizer apenas o seguinte: mesmo num mundo ideal, continuará a haver problema. Não há paraíso. Esse limite do mundo não impede que se possa e deva lutar para mudar.

É verdade que o Brasil teve a história que teve, a formação profissional que teve, sociedade fraca e Estado forte. Tudo bem, isso é verdade. A televisão reflete isso, é verdade. Mas é preciso continuar a dizer que a situação que hoje a gente vive no Brasil é um absoluto escândalo. O que me torna cético, muitas vezes, é que isso em geral não é considerado coisa prioritária, nem pelas entidades voltadas a mudar o mundo, a representar os dominados. Elas não parecem entender que não mudarão nada enquanto não mudarem o sistema de comunicação. E isso tem de ser feito antes, paralelamente e depois da mudança social.

Além disso, entendo, há o medo de ser riscado do mapa. Isso tem a ver com o poder extraordinário da TV no Brasil, em relação com os outros meios de comunicação, o Congresso, a cultura tradicional etc. Veja o caso do Ministério da Cultura, no tempo do Celso Furtado, numa época em que não era um absurdo o Estado patrocinar ou tomar as medidas de regulamentação do mercado, no caso do cinema. Ele, como outros antes ou depois, nunca entendeu que esse ministério, sem poder sobre a televisão — no sentido de estabelecer cotas para o filme brasileiro, obrigação de uma parcela de produção independente para suprir as emissoras etc. —, não passava de um Ministério de Corte e Costura, totalmente obsoleto.

Se as entidades de esquerda não dão prioridade para a questão da comunicação de massa, a TV, que importância darão à cultura do corte e costura, artesanal, como é o cinema no Brasil?

O único político de prestígio nacional que se expõe nessa polêmica com a TV é o Brizola. Mas ele se limita a atacar a Globo e o Roberto Marinho quando eles são simplesmente produtos de um sistema perverso de controle da informação e da publicidade — com larga participação do Estado — que estende seus braços aos estados, com suas oligarquias detendo e vendendo concessões que são sinônimo imediato de poder político e econômico. De passagem, falando em política de mercado, como o governo Collor insiste em falar, ninguém diz que o mais inepto e corrupto empresário da cultura de corte e costura ficaria milionário com uma concessão de repetidora da Globo em qualquer estado do país. A concessão é o lucro — mesmo que um débil mental fique na administração.

Portanto, se o sistema continua igual, amanhã não será Roberto Marinho o grande vilão, mas outro ou outros — com outro estilo mas com efeitos semelhantes.

Quanto à visão otimista de pessoas como Boris Casoy e outros, que dizem que a televisão melhorou muito no que se refere a esse problema de pluralismo e liberdade de informação, me parece que eles se equivocam deliberada ou inconscientemente. Não porque não tenha havido alguma melhora, mas porque o sistema de televisão ainda está separado por um abismo do país real — embora, do ponto de vista do mercado e da visão popular, a televisão brasileira seja ótima, genial, a “melhor do mundo” depois da TV dos Estados Unidos. Bem, no que toca ao jornalismo, ela é ruim e pouquíssimo democrática, com o povo sendo visto como uma espécie rara de orquídea que convém olhar com distante consideração e muito folclore; no que toca ao documentário, ele simplesmente não existe na televisão regular — só existem reportagens, show e o mais virulento naturalismo. Porque, para os nossos diretores de televisão, tudo o que não for informação é poesia inútil, antropologia pretensiosa, divagação elitista.

Além da mudança das leis, quais seriam os passos específicos, objetivos, para se chegar a uma TV pública?

TV pública exige a participação de todos os setores da sociedade, para permitir que a maior parte dos pontos de vista existentes na sociedade sejam expostos, sejam eles minoritários ou estigmatizados. Há lugares onde isso funciona, com mil problemas, é claro — como no Channel 4 inglês ou na Holanda. Eu não tenho ideia da estratégia e tática política para chegar a isso, mas a Constituinte já foi uma etapa meio perdida nesse sentido. Estas discussões ajudam num nível modesto, mas ajudam. Agora, o grande problema é o de levar a sociedade a acreditar que o mundo não vai bem e que é preciso mudar. O único detalhe é que o canal privilegiado para se dirigir ao povo é exatamente o pivô da questão. De qualquer forma, se a sociedade não participar e influir, nada se poderá fazer, nem a conquista do Estado resolverá. Como no caso do cinema brasileiro, hoje um belo agonizante, com a aceitação tranquila da sociedade. Que, naturalmente, tem outros problemas com que se inquietar.

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