Barnett Newman: o que é pintar?
por Carlos Zilio
Resumo
Entre os pintores expressionistas abstratos americanos do pós-guerra (Pollock, de Kooning, Rothko…), Barnett Newman foi quem teve o reconhecimento mais tardio porque foi visto de início apenas como teórico e professor. Para ele não bastava que a pintura fosse action painting, isto é, tivesse a ação como referência. Sob o risco de cair no que chamava de expressionismo ornamental europeu, a obra exigia uma reflexão sobre o que pintar. Durante algum tempo Newman chegou mesmo à conclusão de que a pintura tinha morrido. Escreveu alguns textos teóricos afirmando que “o tema da criação é o caos” e que se deve buscar um novo começo “a partir de rabiscos”. Ele opunha ao belo o sublime com seu caráter universal de terror, a fim de reencontrar uma grandiosidade metafísica que, a seu ver, a arte havia perdido. Sua proposta é de um antiformalismo que elimine todo resíduo de representação – relação figura/fundo, equilíbrio, contraste. Em 1948, pinta um quadro de superfície vermelha escura e no centro fixa uma fita vertical colante. O enigma dessa obra, que ele chamará de Onement (Singularidade), lhe parece impor-se como evidência de uma relação não mais com o espaço, mas com o tempo. Diante do caos inicial aterrorizador, a linha vertical (denominada “Zip”) provoca o prazer negativo que Burke identificava com o sublime. Toda a sua obra (que inclui também esculturas como Broken obelisk, por exemplo), coloca sempre a questão da fisicalidade do quadro e sua experiência temporal com o espectador.
Imagino que meu esquecimento não colocando um título no resumo que foi pedido para divulgação do ciclo Arte e Pensamento tenha levado Adauto Novaes a improvisar a feliz denominação “Barnett Newman — o que é pintar?”. Encontro-me, pois, diante de um tema dado que, aparentemente, poderia soar como um tanto normativo, mesmo sob a forma de uma interrogação. Nada mais ilusório. Para Barnett Newman a questão “o que é pintar?” é central.[1] Aliás, não se tratava de uma dúvida apenas sua, mas abrangia o conjunto dos artistas conhecidos como expressionistas abstratos. Para eles havia um esgotamento na arte europeia manifesto pela incapacidade de responder ao sentimento de crise moral que culmina na Segunda Guerra Mundial com a dimensão destrutiva que o conhecimento ganha com Hiroshima.
O que não pintar estava claro para os americanos. Tratava-se de negar a compreensão quase repr