2014

O silêncio dos amantes e, mais particularmente, das mulheres…

por Pascal Dibie

Resumo

A história do silêncio é particularmente ligada à do amor, com sua economia de trocas e distribuições de papéis entre homens e mulheres; os amantes. Se a palavra latina “silentium”, em seu primeiro emprego em francês (1190), significava “ausência de ruído”, ela rapidamente passou a designar também, ao mesmo tempo em que se feminizava, ausência de palavra, além de passar as ideias de “repouso”, “inação”, “ociosidade”, o que se deve a “silere”, ou seja, “ser silencioso”, “calar”, “calar-se”.

No começo do século 13 (1210), passou a designar (como substantivo feminino) “a negação da expressão do pensamento, oralmente ou por escrito”, uma acepção que durou até o final do século 17 quando, sob a pressão e o desenvolvimento do vocabulário religioso na vida secular, passou a ser amplamente usado no domínio moral. Nesse sentido, falava-se, por exemplo, do “silêncio das paixões” ou de “reduzir alguém ao silêncio”… Por seu lado, o amor – condutor do mundo – construía-se a partir da palavra latina “amare”. Assinale-se que o verbo francês “aimer” [amar] é, segundo os linguistas e para a felicidade dos psicanalistas, um termo popular derivado de “amita”, “tia”, “amma” e “mamãe”. Não surpreende, pois, que se aproxime da “philia” e do “eros” gregos, ou seja, um índice afetivo ou sentimental e outro erótico. “Quem sente afeição” foi o sentido que primeiro se deu para “amante” (1130), ou seja, o amigo que, a partir de 1160, passou a designar “quem ama e é amado” por uma mulher ou a amante (século 12). Os “amans”, que constituíam “um casal ligado por um amor compartilhado”, só se impuseram linguisticamente – e não no sentido carnal – na metade do século 13. O silêncio ambíguo do termo vigorou até o final do século 17 para designar pessoas que amam (mantivessem ou não relação sexual). No século 18, o masculino impôs-se na definição mesma da palavra “amante”, e o elemento afetivo tornou-se menos importante do que o sexual. O feminino recuou para dar lugar a “maîtresse” [amante no sentido de amásia], cujos papéis sexual e social desenvolveram-se no silêncio e no segredo das alcovas.

Para além da etimologia, note-se que o silêncio remonta a Adão e Eva, passa pelo amor cortês da Idade Média, para assumir, enfim, formas religiosas e românticas. Em todo caso, foi estratégico no discurso e nas relações amorosas, antes de ser uma experiência não objetivável ou mesmo um momento privilegiado de presença a si através da experiência do outro. Mas o silêncio entre os amantes, embora seja uma linguagem em sentido pleno, é também a expressão, talvez, de uma desigualdade e de uma forma de condenação que atravessa a linguagem, dimensão em que a mulher exerce domínio sobre o homem.


O silêncio foi sempre a mais viva eloquência dos amantes.

É assim que um belo fogo se faz melhor observar,

E tem-se pouco amor quando o amor se pode explicar.

THOMAS CORNEILLE, Le geôlier de soi-même

Corneille, em Le geôlier de soi-même[1], doura, ou melhor, resume o que homens de teatro, escritores e poetas, sobretudo, não cessam de clamar: estamos repletos “do silêncio ensurdecedor de amar”, como escreve Aragon em Le fou d’Elsa[2]. É verdade. Empoleirado em nosso século XXI, sempre a contemplar o amor, eu diria de bom grado que amor, amantes (os que o fazem) e silêncio combinam muito bem, vont très bien ensemble. No entanto, ao escutar esses maravilhosos “silêncios a dois”, ou melhor, o que se diz do silêncio, muitas pequenas frases e provérbios “inesquecíveis” ouvidos ao longo dos meus anos de educação ficaram gravados na memória. A começar por uma frase de Sófocles cuja origem eu ignorava totalmente, mas que ouvi milhares vezes e nos mais diversos contextos: “Para as mulheres, o silêncio é um enfeite”. Voltando recentemente da Inglaterra, ouvi da boca de um porteiro (eu fazia uma pesquisa sobre a influência das portas sobre o silêncio!) um provérbio que talvez tenha sido também tomado de Sófocles: “O silêncio é a mais bela joia de uma mulher, mas ela raramente a usa”. Um estudante africano, a quem eu fazia outro dia perguntas sobre a importância do silêncio para os enamorados em sua sociedade, saiu-se com este outro provérbio: “O silêncio é a única coisa de ouro que as mulheres não apreciam” – e não fiquei sabendo muito mais que isso… Eu mesmo lembro uma frase de Molière, em Escola de mulheres, que carrego desde o ginásio e às vezes tiro do bolso para bancar o esperto: “Madame, quando uma mulher tem o dom de se calar, ela tem qualidades acima do vulgo…”. Interrompo aqui o massacre, acho que o tom está dado, ou melhor, que a questão está implicitamente colocada. Por que todas essas sentenças machistas? O que as mulheres não nos fizeram ou fizeram demais para que possamos tão “naturalmente” lhes pedir para silenciar até mesmo no amor?

O silêncio tem uma história e uma história particularmente ligada à do amor, ou seja, às trocas e à distribuição dos papéis dos homens e das mulheres na economia do amor e, mais ainda, na dos amantes… Um pequeno desvio pela etimologia nos esclarecerá sobre essa questão aberta do silêncio e das mulheres. Se o latim silentium foi, em seu primeiro emprego em francês (1190), uma palavra masculina que significava ausência de ruído, ele não tardou, ao mesmo tempo em que se feminizava, a qualificar igualmente a ausência de palavras, e mesmo a ideia de repouso, de inação, de ociosidade, sentidos derivados de silere: ser silencioso, calar, calar-se. No início do século XIII (1210), ele designava no feminino, mais precisamente, “o fato de não exprimir seu pensamento, oralmente ou por escrito”, acepção de gênero que durou até o final do século XVII quando, sob a pressão e o desenvolvimento do vocabulário religioso secularizado, passou a ser amplamente utilizado no domínio moral; falava-se, por exemplo, do “silêncio das paixões”, assim como de “reduzir alguém ao silêncio”… Por seu lado, o amor, a palavra “amor”, construiu-se a partir do latim amare sob a forma amer. Assinalo que o verbo amar é, segundo os linguistas e para a felicidade dos psicanalistas, uma palavra popular expressiva próxima de amita, “tia”, e amma, “mamãe”, portanto não é nada surpreendente que tenha tomado esses dois valores iniciais fortes herdados da Grécia (philia e Eros), ou seja, um valor afetivo ou sentimental e um valor erótico. É “aquele que tem afeição” que prevaleceu primeiro para qualificar o “amante” (1130), isto é, o amigo, que desde1160 se especializou para designar “aquele que ama e é amado” por uma mulher, a amante (século XII). Os amans (século XIII), termo definido como “um casal ligado por um amor compartilhado”, só se impuseram na paisagem linguística e não obrigatoriamente carnal na metade do século XIII. O silêncio ambíguo do termo permaneceu até o final do século XVII para designar as pessoas que amam, tenham ou não relações sexuais. No século XVIII, na definição mesma da palavra amant em francês, o masculino se impôs e o elemento afetivo tornou-se menos importante que o elemento sexual. O feminino amante recuou para dar lugar a maîtresse, cujo elemento sexual e o papel social se desenvolveram no silêncio e no segredo das alcovas; maîtresse entrou em concorrência com amante, mas abandonou seu lugar de feminino de maître[3], para designar principalmente “a mulher que se entregou a um homem que não é seu esposo” (1660). No século XIX, maîtresse, avoir une maîtresse[4] era uma expressão tão corrente que a palavra se associou ao segredo das alcovas e não era mais que cochichada como um termo sexual…

Vocês devem ter compreendido que me dirijo lentamente a uma antropologia do silêncio, mas de um silêncio específico, o que desenvolvemos em nossos amores e que, para além de todo grito, vai de par, em última instância, com o discreto. É do íntimo que eu gostaria de falar aqui, desse tempo particular em que tudo se cala como para selar o pacto da detenção nos corpos, desse momento maravilhoso do depois, quando não há mais objetivo a buscar, quando não se tem mais nenhum papel. Momento em que o silêncio “faz passar de repente meu sentimento interior, o mais interior, à interioridade do Outro, apagando entre nós a fronteira, entregando meu íntimo e abrindo-me o dele”, como escreve François Julien em seu livro De l’intime[5]. O silêncio é de natureza abrupta, ele cai quando se deixou para trás toda intenção; chega quando não há mais conhecimento, e remete à essência de um universal cujo gosto sentimos. O silêncio se experimenta, mas não pode jamais se dizer senão sob a forma de um “nada”, esse nada absoluto buscado por místicos como San Juan de la Cruz… Pelo menos é o que acreditei por muito tempo até minha visão, não do silêncio mas dos que o fazem, ser iluminada pela questão colocada por Adauto Novaes que está na origem deste livro – O silêncio e a prosa do mundo; descubro que o silêncio, como tudo o que concerne ao nosso universo humano, se é uma experiência não objetivável ou mesmo um momento privilegiado de presença de si através da experiência do outro, construiu-se de fato como uma estratégia central no discurso e nas relações amorosas entre homens e mulheres. Eu gostaria de mostrar aqui que o silêncio entre os amantes, se é uma linguagem em sentido pleno, apoiada por toda uma panóplia simbólica que entrou no folclore popular, pode ser também a expressão de uma desigualdade e uma forma de condenação translinguageira em que a mulher continua sendo a principal acusada de um domínio que exerceria sobre o homem, e nisso condenada a fazer silêncio, o silêncio exprimindo uma submissão a formas de destino.

Quem quer fazê-las calar? Por que elas se calam? Como aprenderam a “fazer silêncio”? Eis aí várias questões que devo me colocar “até o meio da cama”[6], lá onde a Igreja se instalou, que digo?, se impôs, se interpôs entre a mulher e o homem[7]. A história remonta longe no passado. Deixo de lado a Antiguidade alegre em que o feminismo de Aristófanes, em Lisístrata, fez das mulheres verdadeiras heroínas; os diálogos pornográficos de Luciano; o grande temor que a ironia das mulheres fortes e debochadas inspira aos homens nas Priapeia, com o risco de serem ameaçadas Ad costem tibi septimam recondam (Te penetrarei até a sétima costela); a Ars amatoria (A arte de amar), o tratado de erotologia de Ovídio, em que ele descreve minuciosamente a conduta de um amante na cama que só se dirige às mulheres para lhes dar conselhos e lhes ensinar a arte de agradar os homens… Em suma, deixo de lado todos esses saberes e essas aprendizagens para ficar com as histórias mais bem conhecidas por nós, se não vividas, pelo menos exercidas inconscientemente: o erotismo cristão. Parece que foi em Bizâncio, na alta sociedade cristã, que tudo começou. Ao contrário dos pagãos da época, que manifestavam reservas em relação às obscenidades literárias, os cristãos do século IV se entregaram livremente a jogos sexuais sem julgá-los incompatíveis com sua ética, o direito canônico não prevendo nenhuma sanção contra essa literatura erótica, desde que ela não fosse difamatória. A beleza das moças foi celebrada em concursos de bundas (assim como há no Brasil os concursos de Miss Bumbum). Mais relacionado com nosso tema, Paulo, o Silenciário – silenciário era um oficial do palácio imperial que tocava com sua vara de ouro todo cortesão que falasse muito alto -, mostrou-se grande conhecedor de beijos, e deixou poemas ardentes e sensuais que exaltavam delicadamente a carne. Mas a grande inovação do erotismo cristão, observa Alexandrian em sua Histoire de la littérature erótique[8], foi ousar celebrar os charmes voluptuosos das mulheres maduras (o que nunca aconteceu em Atenas nem em Roma), sem reservá-los apenas às mulheres jovens e bonitas; Paulo, o Silenciário, junto com Nicetas e outros poetas, foi um grande apreciador delas. Em todo caso, foi na Bizâncio cristã que “nasceu a tradição da homenagem ao corpo sempre desejável de uma mulher na menopausa, ao seu temperamento amoroso e às suas carícias experientes […] introduzindo no erotismo um sentimento que o paganismo ignorou ou não quis exprimir”[9].

Em nossa aventura cristã, o silêncio de Adão e Eva, rompido pela concupiscência, é evidentemente fundador. Como foi que Eva, tirada pela simples imaginação de Deus das costelas de Adão, vinda ao mundo sem ter tido a necessidade de entrar por nenhuma porta, pôde romper seu silêncio? Deus lhes recomendou apenas serem fecundos e lhes proibiu somente uma coisa: consumir o fruto da árvore do conhecimento. Sabemos o que se passou a seguir: foi após terem comido esse fruto que eles descobriram o poder da nudez, e Eva teve de costurar folhas de figueira para transformá-las num avental que ocultasse o que doravante se convencionou chamar de pudenda, as partes vergonhosas (do latim pudere, ter vergonha)[10]. A natureza irreprimível do desejo carnal e seu resultado, a vergonha, instalaram-se assim em silêncio em nossas vidas. Deus, que se fez homem por um momento e não mulher, anunciou que Eva e todas as suas descendentes dariam à luz com grandes sofrimentos, e que ela seria “ávida de seu homem” quando este a dominasse “como chefe”. A relação não era mais de diálogo! Surge mais tarde, na Idade Média, a ideia de luxúria. que não pertencia a nenhum sistema religioso ou moral da Antiguidade greco-romana. Ora, essa noção, conhecida também pelo nome de impudicícia, indicava que se entregar imoderadamente aos prazeres carnais era um dos pecados capitais que desviavam o homem de sua salvação. O reconhecimento pelos cristãos da existência da luxúria ocasionou uma nova ideologia da carne, que passou a ser condenada. Isso implica, obviamente, que seu corolário existia: praticava-se a luxúria às escondidas, o que fez que essa questão se tornasse pesada e presente em todos os silêncios. O universo dos fabliaux e das farsas medievais nos informa infinitamente sobre a visão de mundo dos amantes e, mais particularmente, sobre o tratamento das mulheres. O inevitável adultério, na base de muitas historietas, era escusável apenas para o homem, a mulher só podendo safar-se por sua astúcia e por seus silêncios; mas seu sexo, chamado então “sua boca de baixo”, podia romper esse silêncio muito feminino, respondendo diretamente às acusações por palavras inteligíveis, diz um fabliau, aos goliardos, monges ou universitários desclassificados, que percorriam as estradas e ganhavam alguns vinténs contando histórias de que “ela andava às vezes com a bunda descoberta”, e nesse caso, mas somente nesse caso, “o cu responderia por ela”[11]. A erotologia cortês veio sublimar um pouco os pesados gracejos medievais ligados à luxúria, e buscou sobretudo dominá-la transcendendo a sexualidade. Pode-se dizer que o amor cortês veio contrabalançar essa misoginia geral, ao fazer do sentimento amoroso uma virtude comparável à honra. Decidiu-se, por exemplo, que a mulher amada devia ser socialmente superior ao homem. Isso implicava que havia então obrigação, para o homem, de respeitá-la. Era preciso também “que ela fosse casada com outro; o ilegítimo de suas relações exigia que houvesse cuidados, condição expressa da cortesia”[12]. Mais ainda, imaginaram-se relações amorosas como imitação do serviço feudal, a dama identificada ao suserano, o amante ao vassalo. Uma vez na ação, ou melhor, para evitar qualquer precipitação grosseira, o amor cortês exigia técnicas para ‘bem amar”, como o enamourement, sempre produzido pelos olhos ou pelos ouvidos e que podia se realizar a distância. Criou-se uma espécie de erotismo purificado, dito.fin’s amor. O “serviço amoroso” comportava então vários graus; o primeiro é o de fenhedor, o suspirante, que se contentava em sonhar a distância com o ser amado, em silêncio; o segundo, precador, suplicante, aproximava o candidato que devia declarar-se, mas “a dama podia deixar-se rogar três vezes antes de responder”.

Se consentisse em aceitar o demandante, ela o transformava então em seu entendedor, seu amante acolhido, numa pequena cerimônia em que se ajoelhava diante dele, com as mãos juntas, e em silêncio lhe dava o beijo de confirmação. Tudo devia transcorrer em silêncio e com discrição, seguindo um ritual extremamente codificado feito de dissimulação e de pacientes silêncios, até o amante poder penetrar em segredo no quarto da dama e contemplá-la nua. A recompensa suprema era o asag, o teste, em que a contenção do homem se punha à prova. O autocontrole era a base mesma do amor cortês. Os dois deitavam nus lado a lado, podiam se acariciar em silêncio, mas sem chegar ao “fato”. Se sucumbissem, seria a prova de que não se amavam o bastante e eram indignos do fin’s amor. Em realidade, temia-se o final desse manejo requintado do homem e da mulher completamente silenciados…[13]. A verdade é que a erotologia cortês depreciou o casamento, a ponto de permitir à dama ter um amante-vassalo que a servisse com respeito – pois era raro o marido ser escolhido livremente e o casamento não implicava necessariamente a felicidade da esposa. Isso não impediu que as farsas amorosas medievais se exprimissem sob todas as formas entre os séculos XIV e XV. Nelas, os amantes “cavalgavam sem sela”, “quebravam a noz”, “arrombavam a porta”, em suma, praticavam todas aquelas “aleluias de amor” em que os “bons fodedores” rivalizavam com o verdor das mulheres, que não ficavam a dever… No entanto continuava-se a esconder as mulheres atrás da porta – “para respeitar as regras”, dizia a moral cristã da época.

Em minha pesquisa sobre as portas[14] no Ocidente cristão, deparei com um livro florentino de 1443 intitulado Della famiglia, que se apresentava como o porta-voz de todos os maridos e, por isso, se autorizava ser também o das mulheres – de acordo com o olhar dos homens. Esse tratado dissertava especialmente sobre “a reserva, a moderação que ela deve mostrar em tudo”. Obrigada a ficar dentro de casa, mas entreabrindo às vezes a porta, o marido permitia à sua mulher uma fugaz aparição na entrada da casa, isto para que ela tivesse autoridade e, cito, para que “se apresente fora, diante da porta aberta, com uma bela reserva e um ar sério que fará sua prudência ser reconhecida pelos vizinhos, que a louvarão, enquanto os de nossa casa a respeitarão ainda mais”. Na verdade, essa “aparição como convém”, para não dizer essa verdadeira “arte da aparição”, lhe permitia apenas roçar o espaço público como o queria o costume da época, no qual uma mulher casada devia permanecer em silêncio no interior da casa, separada da cidade. Havia então em Florença a interdição muito estrita, para as mulheres, de penetrar no espaço público, domínio exclusivamente reservado aos homens e aos “negócios superiores”. Convém precisar que o interior da casa, tão logo cruzada a porta, era o reino da mulher, reino secreto sob o governo absoluto das esposas e das mães. Nessa vida florentina do século XIV, a mulher não só não era admitida sozinha na vida pública, mas também não devia ter contato com o marido quando ele estivesse a serviço da cidade. Tratava-se antes de tudo de impedir que o feminino interferisse nos assuntos públicos dos homens e de preservar a pureza da polis. É em tal contexto que se pode compreender que o isolamento e mesmo a exclusão iam bem mais longe, para as mulheres, que a simples porta da casa. O grande temor, que para os homens residia no corpo da mulher, chegava até sua porta íntima, seu sexo, cuja entrada todo marido devia guardar!

Em seu trabalho sobre “a natureza feminina”, Claude Thomasset mostra como era entendida a representação da mulher no pensamento medieval[15]. Reduzida pelos teólogos a uma função única, ela era considerada “como uma força inquietante, como um corpo que escapa ao domínio de um espírito, como um ser governado por seus órgãos, particularmente seus órgãos sexuais. Ser natural, a mulher o é por inteiro, pois é o instrumento da continuidade da raça humana, pois é o elemento essencial da Natureza, essa força ativa que estabeleceu e que mantém a ordem do universo.[…] Assim, a linguagem mesma registra esse pertencimento do ser feminino à matéria, julgamento que contém a implícita reprovação dos clérigos, dos homens cuja vocação é libertar-se dos laços com essa matéria, com esse mundo”[16]. A mulher inquietava o homem por sua enorme aptidão de acolher os sopros, e a anatomia da Idade Média fazia inclusive uma espantosa analogia entre a úvula e o clitóris. Evoca-se o caso de uma mulher que, por sua própria confissão, obtinha seu prazer pela ação do vento. Essa historieta do final do século XIII mostra bem, em todo caso, “a obsessão do homem ante a liberdade absoluta da mulher, ante a possibilidade de uma concepção sem a participação viril”[17].

Há muitos lai[18], como o Lai de Guigemar, em que uma mulher é condenada à não comunicação, prisioneira numa torre ou em fuga perpétua, tentando escapar ao desejo incestuoso de um pai; dor que ela esconde no silêncio e que a obriga a desfazer-se de sua identidade para não se submeter. Muitas vezes para se defender, a mulher se cala e espera; ela sabe que qualquer palavra de revolta ou de recusa não pode ser ouvida. Diz-se que o silêncio das mulheres se acompanha de uma renúncia à identidade e de uma fuga, mais de uma fuga que de um protesto inaudível. Em sua provação, a heroína Grisélidis, por exemplo, aceita o desdobramento do seu ser, abandona o domicílio conjugal “honnestement et vergogneusement à grant silence, le chief enclin”[19]. No Roman de Silence, escrito por Heldris da Cornualha no século XIII há uma história estranha: nunca mais no reino da Inglaterra uma mulher deverá herdar[20]. Para que uma moça possa herdar a terra da Cornualha, os pais vão travesti-la e dar-lhe um nome ambíguo:

Silêncio,

segundo o nome de Santa Paciência,

pois o silêncio retira a inquietação […]

Mas o romance esclarece que

[…] ela será chamada Silencius,

e se por acaso descobrirem

sua verdadeira natureza,

mudaremos o us por a,

e o nome será Silencia.

Se tirarmos portanto esse us,

lhe devolveremos seu ser natural,

pois esse us é imposto contra a natureza,

enquanto o outro lhe caberia por natureza.

O nome Silêncio servirá para mascarar a ausência de linhagem masculina e para proteger aquela que não deveria mais existir. O artifício e a dissimulação poderão travestir Silêncio, mas Silêncio continuará dilacerado entre seu desejo de um us de mulher, um ser-mulher que a Natureza lhe impõe, e a necessidade de sua condição, observa Danielle Régnier-Bohler.

Silencius! Quem sou eu então?

Sei que levo o nome Silencius

ou sou outra que não fui.

Ah, mas há uma coisa que sei bem!

É que não posso ser outra.

Por conseguinte, sou Silencius,

parece-me, ou sou ninguém.

Silêncio se entregará por muito tempo à razão (dos homens), tendo compreendido que neste mundo vale mais ser homem que ser mulher… Ela se servirá desse nome enquanto puder, até que sua identidade oculta de mulher lhe permita capturar Merlin na floresta, revelando assim que ela é de fato Silencia (e não Silencius), para poder enfim desposar, como mulher, o rei da Inglaterra!

Com essa história “ligada à transgressão da pureza gramatical, à inversão sexual e à deriva da sucessão”, observa Howard Bloch em sua antropologia literária da Idade Média francesa[21], descobre-se também que as alegorias são com frequência mulheres, a alegoria sendo ao mesmo tempo uma ilustração impressionante e um distanciamento do vício. Isso não impede que, se a qualidade intrínseca das mulheres está em céler et taisir[22], a palavra das mulheres seja, na literatura medieval profana, uma linguagem má, apesar das injunções para tentar mantê-la no caminho de uma fala comedida, do tipo: “A mulher não deve se deixar levar levianamente pela palavra perniciosa nem pelo ato mau; pois, se falar mal, lhe responderão ou pela verdade, ou pela mentira, o que resultará para ela em confusão e vergonha por toda a sua vida”, como escreveu Philippe de Novare[23].

O Renascimento que seguiu não reabilitou as pessoas do sexo, Rabelais opondo sempre o callibistri ao braquemard fantasiado e potente dos homens; a influência do Decameron (1470) e do realismo de Boccaccio, que zombava dos amantes muito pacíficos, continuava misturando as relações nos fragores dos corpos e dos sentimentos, mais do que nos silêncios contidos. Mas, por trás do júbilo e do lento refinamento dos costumes que se instalava, a Igreja vigiava e se insinuava sempre no corpo das mulheres para melhor atá-las – e aos homens através delas. Por toda parte ela fazia ouvir suas sentenças: não é verdade que “suportar em silêncio seu mal é um privilégio muito raro para que se fale dele”? Não é verdade também que as mulheres podem falar livremente de seu caminho espiritual, mas são obrigadas a certa reserva quando o corpo entra em jogo? A moral cristã afirma claramente que “elas devem dar seu testemunho, mas conservando uma grande modéstia, falar das graças recebidas sem se vangloriar delas”[24]. Vemos surgir Santa Teresa de Ávila (1515-1582), que em seus êxtases sensuais, de olhos fechados, o corpo disponível, se oferecia inteiramente ao Silêncio que engloba o mundo; Teresa que sabia “morrer tão bem em si”, como ela exprime neste poema muito citado, “Muero porque no muero”:

Vivo sin vivir em mí

Y tan alta vida espero

Que muero porque no muero.

Vivo ya fuera mí

Después que muero de amor, Porque vivo en el Señor

Que me quiso para Si.

Quando el corazón le di

Puso en él este letrero:

Que muero porque no muero […]

Assim, absorvida em sua relação privilegiada com Deus, a futura santa atingia por fusão, por infusão, o aniquilamento de toda palavra, de toda ideia, de toda consciência do mundo, à espera da ressurreição do seu bem-amado… Diante desse silêncio único, ela pensava falar com intimidade do verdadeiro, do inexplicável. Essa “maneira anoréxica muito particular de estar no mundo”[25], na esperança louca de escapar semiviva a este, na busca da capacidade de viver sem sono, sem alimento, sem evacuação e sem palavra, serviu de modelo a muitas mulheres (e também a alguns homens piedosos).

Entre os séculos XV e XVIII desenvolveu-se assim uma lenta interiorização dos controles sociais e emocionais sobre a sexualidade na Europa Ocidental. Não só a Igreja contribuiu para isso, os rituais de sedução e de convívio também tiveram grande influência, os costumes e o folclore intervindo, inventando novas palavras, dissimulando o silêncio reticente dos educadores. Em realidade, os amantes raramente estavam a sós – a intimidade, como a entendemos hoje, é uma noção muito recente, os leitos eram, com frequência, compartilhados e os quartos em geral estavam cheios durante as noites. Famílias inteiras trabalhavam, comiam e dormiam juntas, era inevitável ficar exposto à atividade sexual entre adultos e, nessa promiscuidade permanente que durou muito tempo, as crianças, meninas e rapazes, cresciam à espera do (e muitas vezes vendo o) ato físico do coito, esses amores não silenciosos, mas abafados, que permitiam gerar. As relações mais passionais aconteciam ao abrigo dos olhares indiscretos nos sótãos, nos celeiros, nos moinhos, na orla dos bosques e, nas cidades, em parques, porões, ruas estreitas, entre as portas, no escritório etc.

Mas, se tudo era visto e sabido, nada era dito! Havia rituais de convívio amoroso mais ou menos por toda parte na Europa, sob o nome de maraichinage ou albergement na França, de night courtship ou bundling na Inglaterra, o mesmo na Itália, na Espanha etc. Tratava-se de uma estada noturna na residência da moça, com o consentimento tácito dos pais. Convém esclarecer que na maioria dos casos isso só acontecia após uma promessa de casamento em presença dos pais, de amigos ou de um homem da Igreja. Esses convívios noturnos permitiam aos jovens prometidos avaliar seus recursos físicos e emocionais antes de se comprometerem pelo casamento[26]. Do mesmo modo, divertimentos ritualizados permitiam que os jovens se conhecessem e flertassem antes de passar à etapa mais séria da corte amorosa. A questão era saber como dizer quando era difícil exprimir-se ou no caso de ser tímido demais; sem contar que se recomendava às moças desde a mais tenra infância a reserva, e o meio mais seguro era ficar em silêncio em qualquer situação. Os amores se soltavam na primavera; começavam em primeiro de maio, com a plantação da árvore de maio e com discretas palavras floridas que se espalhavam pela aldeia. Eu mesmo ainda as empreguei nos anos 1960-1965, em minha pequena aldeia da Borgonha[27]: nas portas das casas onde moravam as meninas, punham-se buquês de flores mais ou menos bonitas, mais ou menos eloquentes para dizer sem dizer o que pensávamos e o que esperávamos delas… Nossa gramática, naqueles anos, se reduzia ao lilás, e o que contava para nossas apreciações era a quantidade e o cuidado dos buquês… Já não ousávamos mais oferecer flores silvestres, muito vexatórias para nossas jovens amigas. No entanto a linguagem das flores, inventada por enamorados condenados ao silêncio ou excessivamente submetidos a um controle social tradicional, por muito tempo permitiu exprimir ternura e sentimentos, sob os olhos das matronas, dos pais e dos maridos ciumentos. A acácia homenageava a graça, o áster a elegância, o bom-dia o coquetismo; já o boa-noite era um convite para aquele mesmo anoitecer, enquanto o aciano expressava o charme e o botão-de-ouro a zombaria. O sólido buxo: “Não vou mudar”; a madressilva: “Somos um para o outro”. O junquilho acusava a mentira, o cíclame dizia adeus, e o cipreste vinha confirmar que “Nosso amor morreu. O morangueiro lembrava as delícias, a zaragatoa, “que tua imagem está gravada em meu coração”. O goivo amarelo: “Gostaria que fosse já”. O visco assegurava um triunfo próximo, a hortênsia reprovava a frieza, o jacinto azul significava suspeitas. O louro-rosa propunha um simples flerte, enquanto a inocente margarida perguntava se se era amado, e o miosótis, como todos sabem ainda, pelo menos os ingleses, dizia: forget me not. A rosa, sempre muito oferecida, torna a dizer que se ama com matizes nas cores: a rosa pompom, que será somente um namorico, a rosa creme, que vai se amar deliciosamente. A tuberosa fala de volúpia até morrer, e a zínia, enfim: “Silêncio, estão nos espiando!”[28].

Tão eloquente quanto o idioma das flores, a linguagem corporal desempenha um papel importante nos encontros preliminares à corte amorosa. Quando faltam as palavras, os gestos falam, e geralmente bem mais ou mais diretamente: roçar de dedos, ombro e mãos pressionados, beijos roubados; pequenos beliscões ou lutas fingidas entre os adolescentes; esses gestos se espalhavam então pela Europa camponesa no claro-escuro dos serões: como deixar cair um carretel que se recolhia em troca de um beijo, e muitas outras “honestas familiaridades permitidas”. Diz-se que uma mulher com um anel no indicador significa “Quero que nos amemos”; se é no dedo médio, é para dizer “Já dei meu coração”; no anular, “Nem pense nisso! Já sou casada ou noiva”. No dedo mindinho, é uma confissão: “Quero pentear Santa Catarina” (ficar solteira). No que se refere a braceletes, um no punho direito significa: “Estou livre, mas só aceitarei o casamento”; no punho esquerdo: “Estou livre para a união que você desejar”; enfim, um bracelete em ambos os punhos quer dizer claramente: “Nada feito. Estou comprometida!”. Há também objetos roubados ou dados, como um lenço, uma fita, uma luva, que podem dizer em silêncio as coisas “sem ceder a virtude”. De acordo com os códigos, quando se tratava de uma mulher casada que cedia ao marido, os dois podiam ir adiante, por exemplo, no que se refere às posições do corpo. Se o casal quisesse ter um garoto, a mulher devia deitar-se sobre o lado direito logo após a relação – pensava-se que o lado esquerdo do útero gerava meninas. Quanto ao marido, este devia prender o testículo esquerdo para deixar livre apenas o direito, o que supostamente fabricava o sêmen masculino[29]. Mas sobre a mulher pesa, mais uma vez, uma injunção: ela tem a obrigação moral e religiosa de ceder seu corpo ao marido, “pois recusar-lhe esse alívio legítimo, diziam os moralistas, podia conduzi-lo a aventuras amorosas, e nesse caso a esposa seria responsável pela má conduta sexual do seu esposo”[30].

Silêncio, silêncio das mulheres, silencia as mulheres; silêncio também expresso no diário do inglês Samuel Pepys, que conta que, entre 1660 e 1669, teve mais de cinquenta encontros extraconjugais, em sua maior parte com mulheres casadas cujos maridos tinham alguma relação com o escritório onde ele trabalhava, na esperança de obter cargos ou pensões para esses maridos complacentes…[31]. Calar-se tornou-se cada vez mais uma arte, e A arte de calar-se do abade Dinouart, de 1771, mostra bem como a sociedade de então foi ganha pelas artes retóricas; nesse caso, “a arte não é silenciar, mas sim fazer alguma coisa ao outro por meio do silêncio”[32]. A arte de calar-se tornou-se paradoxalmente uma arte de falar e uma disciplina do corpo; a Igreja queria introduzir “a dimensão do silêncio na eloquência do corpo” – e o conseguiu maravilhosamente[33]. Com o século XIX, num mundo em plena urbanização, o silêncio participou integralmente da construção da urbanidade, particularmente nas relações entre homens e mulheres. A polidez passou a concorrer com a decência e a hierarquia, e lentamente separou-se do protocolo. Na polidez há silêncio, especialmente no que concerne às relações mudas entre homens e mulheres no sistema mundano. Uma das dimensões essenciais da vida privada burguesa foi colocar em cena a relação social e, sobretudo, assumir sua continuidade sem espalhafato. Do costume de escrever passou-se a uma verdadeira mania epistolar, que se desenvolveu a ponto de não haver um dia em que donas de casa e amantes habituais não recebessem um poulet (cartinha de amor), um bilhete ou um cartão deixado ou passado debaixo da porta. Essa loucura de “se escrever às portas” já fora apontada nos Tableaux de Paris de Sébastien Mercier, em 1782. Quanto mais se avança no século XIX mais a vida se regula, e momentos como a hora e a duração das visitas se ritualizam. Retenhamos apenas o período das cinco às sete, hora feliz dos amantes da boa sociedade que se anunciavam (sobretudo os homens) de manhã por um buquê de flores com um cartão espetado atrás – significação mesma do buquê, verdadeira gramática, como eu disse, dos que deviam ir direto ao coração da amada. As estratégias de acolhida dispensavam palavras; penso nas encenações tão bem descritas no Às avessas, de Huysmans, ou na Dama das camélias camélia que significa “Sempre te amarei”, ou seja, a constância -, a mulher recebendo em sua sala ou em seu quarto, tendo às costas uma janela a fim de permanecer na penumbra e ver bem a pessoa que entra. Tudo isso para dizer que os silêncios instituídos fazem parte dos discursos amorosos e foram usados por muito tempo, e de forma muito ampla, até um período recente.

Eis chegado o momento em que o silêncio pode também ser linguagem do poder, e entre os amantes esse silêncio, tão recomendado às mulheres, poderá ser também usado como uma arma de resistência ou como a expressão extrema de uma subversão, “criação de uma nova ordem da esfera simbólica sobre o peso de uma sobrecarga pulsional”[34]. De fato, o silêncio pode ser uma arma de subjugação para quem tiver consciência dele, ser um antidiscurso absoluto completamente murado, o mutismo por excelência, que permite apagar as fronteiras porque não pode mais nomear nenhuma. O silêncio é então, por essência, fora de ordem, pois deixa advir sem perigo o que está mais profundamente enterrado e que não pode ser articulado por discurso algum; o não dito não expõe mais sequer aquele, ou melhor, aquela que não cessou de fingir sua vida desde a criação mítica e que se calou com tanta força.

Tradução de Paulo Neves.

PEQUENA BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

COSNIER, Colette. Le silence des filies: de l’aiguille à la plume. Paris: Fayard, 2001.

FONTENAU, Françoise. L’éthique du silence. Paris: Seuil, 1999.

Le silence. Direção: Louis Delluc. França, 1920, 21 min.

Le silence est d’or. Direção: Van Paris. França, Studios Pathé-Cinéma, 1947, 100 min.

VARJAC, Victor. Les amants du silence. Sainte-Geneviêve-des-Bois: Maison rhodanienne de poésie, 1983.

V L. P. Apologie du silence en amour. Paris: J. B. Loyson, 1649.

Notas

  1. Le geôlier de soi-même, O carcereiro de si mesmo, é uma peça do dramaturgo francês Thomas Corneille, de 1655.
  2. Louis Aragon, Le fou d’Elsa, Paris: Gallimard, 1963.
  3. A “maîtresse du logis”, a dona da casa. (N.T).
  4. Em português, “ter uma amante”. (N.T.)
  5. François Julien, De l’intime. Loin du bruyant amour, Paris: Grasset, 2013.
  6. Au mitan du lit, como diz uma antiga canção popular francesa. (N.T.)
  7. Pascal Dibie, Ethnologie de la chambre à coucher, Paris: Grasset, 1987; Métailié, 2000.
  8. Sarane Alexandrian, Histoire de la littérature erótique, Paris: Seghers, 1989, p. 31.
  9. Idem, ibidem, p. 32.
  10. Reay Tannahill, Le sexe dans l’histoire, Paris: Rohert Laffont, 1982.
  11. Anatole de Montaiglon, Recuei/ général et complet des fabliaux, siecles XIII et XIV, VI, Paris: Librairie des Bibliophiles, 1872-1890.
  12. Sarane Alexandrian, op. cit., p. 39.
  13. André Chapelain, Traité de l’amour courtois, Paris: Klincksieck, 1974. Ver igualmente: Josy Marty-Dufaut, L’amour au Moyen Âge: de l’amour courtois aux jeux licencieux, Paris: Autres Temps, 2002; Eugene Aroux, Les mysteres de la chevalerie et l’amour platonique au Moyen Âge, Puiseaux: Pardes, 1988; Estelle Doudet, L’amour courtois et la chevalerie: des troubadours à Chrétien de Troyes, une anthologie, Paris: Librio, 2004; Catherine Bernard-Cheyre, Les femmes aristocratiques et les formes de déformations de l’idéal courtois de l’amour dans l’Angleterre élisabethaine, Paris: Université Lille 3, ANRT, 1984; Charles Baladier, Eros au Moyen Âge: amour désir et délectation morose, Paris: Cerf, 1999.
  14. Pascal Dibie, Ethnologie de la porte, Paris: Métailié, 2012.
  15. Claude Thomasset, “De la nature féminine”, em: G. Duby e M. Perrot (dir.), Histoires des femmes en Occident, t. II, Le Moyen Âge, Paris: Perrin/Tempus, 2002.
  16. Idem, ibidem, p. 66.
  17. Claude Thomasset, op. cit., pp. 71-72.
  18. Canção ou pequeno poema. (N.T.)
  19. […] com dignidade, na vergonha e no silêncio, de cabeça baixa. (N.T.)
  20. Danielle Régnier-Bohler, “Voix littéraires, voix mystiques”, em: Histoire des femmes en Occident, t.II, p. 557.
  21. Howard Bloch, Etymologie et généalogie. Une anthropologie littéraire du Moyen Âge français, Paris: Le Seuil, 1989.
  22. Em português, “esconder e calar”. (N.T.)
  23. Philippe de Novare, Les quatre tiges de l’homme: traité de moral, ed. Marcel de Freville, Paris: Didot, 1888.
  24. Georges Vigarello, Jean-Jacques Courtine e Alain Corbin, Histoire du corps, t. I, Paris: Seuil, 2005.
  25. Idem, ibidem, p. 49.
  26. Idem, ibidem, p. 177.
  27. Pascal Dibie, Le village retrouvé, Paris: Grasset, 1979; Aube, 2008.
  28. Le petit langage des jleurs, La Tour d’Aigues: Édition de l’Aube, 2004.
  29. Georges Vigarello, Jean Jacques Courtine e Alain Corbin, op. cit.
  30. Idem, ibidem, p. 193.
  31. Samuel Pepys, The diary of Samuel Pepys F.R.S., Londres: J. M. Dent & Sons, Ltd., 1910; Pascal Dibie, Ethnologie du bureau (a ser publicado).
  32. Abbé Dinouart, L’art de se taire, Paris: Jerôme Million, 2001.
  33. Jean-Claude Schmitt, La raison des gestes dans l’Occident médiéval, Paris: Gallimard, 1990.
  34. Yushna Saddul, artigo, “Le silence ou le langage du pouvoir dans ‘L’Amant’ de Marguerite Duras”, Canadá, Université Victoria, 2013.

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