2007

A república dos outros, ou o cometa que não veio

por Lilia Moritz Schwarcz

Resumo

Trata-se de pensar a crise das ideias republicanas a partir dos impasses que determinaram o esquecimento da política no final do século XIX no Brasil, período em que este passou da monarquia à república, o que gerou paradoxos explorados por Nina Rodrigues, Euclides da Cunha e Lima Barreto. São de então, e desde então, temas como cidadania, livre-arbítrio, igualdade e legalidade, bem como a desconfiança que eles geraram (e geram) num país em que os “outros” eram (e são) sistematicamente eliminados.

Com os novos tempos, surgiram, de fato, verdadeiras batalhas simbólicas, em torno do hino nacional, da bandeira ou do uso de títulos nobiliárquicos, por exemplo. Por isso – a condenação ao progresso, inclusive –, o misto de euforia e receio.

O fim do século 19 no Brasil caracterizou-se pela política do esquecimento empreendida pela nova república. Com efeito, ela caprichou na produção de uma nova memória coletiva, fundada na Europa liberal ou nos Estados Unidos, democráticos e federalistas. A escravidão, por exemplo, era matéria passada. No mais, em nome de certa racionalidade, eliminou-se da paisagem tudo que remetesse aos velhos tempos e costumes, sobretudo o que havia de popular e mestiço.

Contudo, não se manipula no vazio. Isto é: não se impõe uma representação de forma exterior e aleatória. Exemplo disso deu a simbologia monárquica, tão mais popular quanto mais se tentava estabelecer a república.

A que se deveu isso?

A uma estrutura socioeconômica cuidadosamente montada, sim. Mas não só, uma vez que a partilha coletiva de tal simbologia foi notável, mesmo que reapropriada segundo um padrão algo heterodoxo.

Uma nobreza que observa a mais fiel tradição europeia ao mesmo tempo em que adota nomes e títulos indígenas. Um príncipe que se veste com rigor majestático, mas introduz em sua indumentária uma murça de papos de tucano e um manto feito de ramos de café e tabaco. Um monarca que se senta em frente a estandes brasileiros em exposições internacionais de tecnologia e exibe a coroa ao lado de produtos indígenas e de peças de arte popular.

Se qualquer uma dessas imagens evoca a ideia de uma “monarquia tropical” – tão estranha ao contexto americano quanto exótica a olhos europeus –, ela também evoca, em sua eficácia e inserção ampliada, um imaginário social que não se limitou ao seu momento político. Talvez seja essa a razão da pouca legitimidade inicial da simbologia republicana, o que a bandeira e o hino nacional vigentes, com suas muitas referências monárquicas, só o provam.

Fato era que a imagem de modernidade que a república vendia ainda se chocava com a sociedade patriarcal, personalizada e violenta.

Mesmo assim, a certeza da prosperidade daria lugar a uma sociedade de sonhos, conhecida como “belle époque”. A cidade, então, era o Rio de Janeiro. E, nela, a “nova avenida central”, atual Rio Branco; a “art nouveau”, com seus mármores e cristais; a iluminação elétrica; a proliferação de lojas de produtos importados, e a alta classe que se comportava à francesa. Paralelamente: a expulsão da população pobre que morava no Centro, a ditadura do bota-abaixo (origem das favelas) e a repressão às festas populares para a entrada do carnaval que seguia o modelo veneziano – era a regeneração.

Tanta ambiguidade havia de estar presente nos intelectuais desses “tempos nervosos”. Nina Rodrigues, por exemplo. A despeito de ser o primeiro antropólogo brasileiro a tratar de temas hoje chamados de “raciais”, ele é também um intelectual maldito, já que defensor e teórico das ontológicas diferenças raciais e da mestiçagem como origem da degenerescência da população brasileira.

Assim foi também Euclides da Cunha, que se, no início da carreira, tanto criticou a monarquia, reavaliou sua posição política com “Os sertões”, em que o mestiço passa de desequilibrado a forte; de degenerado a rocha viva.

Lima Barreto, autor e quase personagem de “Triste fim de Policarpo Quaresma”, foi um dos muito marginalizados pelo projeto republicano, pois, assim como seu personagem, que, aliás, pretendia reintegrar à cultura nacional a modinha e o tupi, Lima morreu amargurado, sem sucesso literário ou financeiro.

Desalento e progresso, esquecimento e lembrança – eis chaves de leitura dessa época; polaridades que se apresentavam como pares desagradáveis e muitas vezes incompatíveis. Incerteza e desordem imperavam ocultas numa pretensa normalidade, e a política era percebida ora como lugar do caos, ora como prática do esquecimento.


O objetivo deste ensaio é – a partir de um contexto histórico e uma problemática mais delimitada – refletir sobre grandes temas que orientam este ciclo: “O esquecimento da política.” Trata-se de pensar a crise das ideias republicanas à luz dos impasses daquela que ficou conhecida como a “geração angustiada de finais do século XIX“, e que viveu as contradições que marcaram o período de desmontagem da monarquia e do início da experiência republicana no Brasil.

Autores como Nina Rodrigues, Euclides da Cunha ou Lima Barreto bateram-se em torno do que consideravam ser a “realidade” deste país e seus evidentes paradoxos. Temas como cidadania, livre arbítrio, igualdade e legalidade entravam em pauta, e de forma inadiável. Em um momento em que se acenava com a novidade da cidadania, garantida por um novo corpo de leis, vários desses pensadores ora desconfiaram da igualdade da lei – como Nina Rodrigues, que propôs a existência de dois códigos penais -, ora digladiaram-se com um projeto de República que sistematicamente eliminava os que considerava como “outros”, e, sobretudo, diferentes daqueles que se queriam, naquele momento. “mesmos”. “Sertão”, para Euclides da Cunha, implicava não só um espaço interno, como uma nova situação política; apartada da corte, agora capital. “Frustração” era o termo que resumia não só a figura da ficção de Policarpo Quaresma como o próprio Lima Barreto, que não conseguia lugar na República dos seus sonhos.

Por outro lado, junto com o novo regime, impunham-se verdadeiras batalhas simbólicas – em torno do hino, da bandeira ou do uso de títulos de nobreza – cujo vencedor era o antigo Império; ou melhor, um certo imaginário colado ao Império. É assim que os anos que marcam a virada do século no Brasil e seu imediato início representaram, ao mesmo tempo, euforia e receio. Euforia diante da ideia – nada feliz – que estávamos condenados ao progresso, como diria o autor de Os Sertões.Receio diante da política que se esquecia (e de outra que era reiteradamente lembrada), ou então do cometa Biela, que insistia em passar por sobre as nossas cabeças.

Lembrar e esquecer

O final do século XIX no Brasil pode ser caracterizado a partir de uma política de esquecimentos. Ou melhor, com o fito de destacar a inauguração de uma nova fase na vida política brasileira, caprichou-se na produção de uma nova memória nacional, feita de algumas lembranças, mas de muitos esquecimentos. Se, de um lado, a República surgia aliada a um projeto de modernidade – cujo modelo era a Europa liberal ou os Estados Unidos democráticos e federalistas; já a monarquia e a escravidão passavam a ser matéria do passado: um “outro momento”, uma “outra realidade”. Além do mais, em nome de uma certa racionalidade moderna, retirou-se da paisagem tudo que lembrasse velhos tempos e costumes: rituais mestiçados e costumes populares passavam a fazer parte da lista de lembranças a esquecer. Além do mais, uma série de batalhas simbólicas foi, então, travada com o intuito de melhor definir essa nova nacionalidade: os emblemas da monarquia deveriam ser abolidos e em seu lugar entrava a imagem “higienizada” da República e de seus representantes, pouco convincentes ou carismáticos.

O fato é que qualquer nação passa por vários momentos de fundação e guarda muitas memórias. Com efeito, é possível dizer que o Estado está sempre refundando o passado e dando-lhe novos significados que passam por um processo de seleção que leva a determinados esquecimentos. A memória da nação implica, assim, “naturalizar” determinadas lembranças, legando para o terreno do “natural” o que de fato é parte do jogo da política. Nesse movimento, algumas imagens se sobrepõem em detrimento de outras, da mesma maneira como certos símbolos, rituais de celebração e de pertencimento ganham evidência. Por sinal, pode-se dizer que todo poder instituído gera suas próprias imagens e símbolos.

Essa iconografia oficial, cujos suportes são variados – insígnias, ícones, alegorias, rituais e a própria etiqueta -, leva, em última instância, a que a opinião pública se acostume a associar o Poder a uma imagem mental do Poder. Isto é, transforma-se o Estado constituído na única forma de poder possível e visível. Por isso mesmo, uma representação official excessivamente nova é em geral sinal de desprestígio, e acaba não reforçando o poder que simboliza. É assim que esse jogo constitui-se como uma disputa entre o velho e o novo; ou melhor, determinadas tradições são reinventadas, ou imaginadas, no sentido de dar continuidade e fazer sentido para o momento presente. Como diz Benedict Anderson, a nação se transforma numa “comunidade afetiva”, em que são reelaborados elementos que combinam a mais longa duração com a mais breve experiência.[1]

Não quero exorcizar a tarefa de “inventar” e muito menos desconstruí-la: tarefa tão inglória como ingênua. Afinal, como bem mostra Roy Wagner, não há como não inventar culturas, e é isso que fazemos o tempo todo.[2] Mas é possível pensar nas outras maneiras em que se constituem esquecimentos, uma vez que nem tudo pode ser exclusivamente explicado a partir da lógica do poder. De um lado, e nomeando o contexto aqui selecionado, não há como negar que são as elites políticas e sociais – imperiais ou republicanas – que reorganizam a memória oficial, no sentido de encontrar coerência e sentimentos comuns, que impliquem pensar em um só território. De outro lado, porém, não existe discurso que vingue sem uma certa “comunidade de sentidos”; um sentimento de pertencer a uma mesma sociedade cujas marcas são dadas pela experiência e pelos costumes que se acumulam em uma história longa e às vezes breve (mas feita longa).

Verniz ou não, o fato é que não se manipula no vazio, e que, apesar de muitas vezes intencionais, os rituais e emblemas não se impõem de forma exterior e aleatória. Fazem parte de uma agenda interna e, de maneiras não-evidentes, partilhadas.[3] Neste ensaio, falaremos dessa construção a partir de três cenários diversos, mas convergentes: as batalhas simbólicas sobre emblemas pátrios que foram travadas no momento de desmontagem do Império e início da República; as cidades-teatro construídas durante o início da República e três autores da chamada “geração angustiada”.

1. Símbolo contra símbolo

Nos momentos de desmontagem da monarquia, uma intensa batalha simbólica em torno dos emblemas pátrios foi travada entre republicanos e monarquistas. Mais interessante ainda é que, menos do que atentar para o fracasso da simbologia republicana, nos seus primeiros anos de vida, vale a pena perceber a penetração da simbologia monárquica que deitou raízes mesmo durante o período republicano. Ou seja, se na década de 1880, ideologicamente, a monarquia estava falida e isolada, subsistia enquanto imaginário simbólico.

Entender as marcas simbólicas da realeza, ainda no período republicano, significa perceber como é possível descobrir intencionalidade na cultura política, mas também iluminar a especificidade desse regime que criou raízes no imaginário popular, não só porque o contexto financeiro lhe era favorável – com a alta do café e o final do tráfico de escravos em 1850 -, como também em função de uma imagem pública cuidadosamente talhada e de uma releitura feita de muitas partes. Estamos falando, portanto, de símbolos e representações que, além de estarem ancorados na estrutura socioeconômica, na qual foram concebidos e da qual fazem parte, são partilhados coletivamente, mesmo que reapropriados segundo padrões nem sempre idênticos. E se o Primeiro Reinado foi fundamental no estabelecimento dessa primeira “arquitetura fundacional”, deve-se delegar ao Segundo Reinado, de d. Pedro II, a tarefa de, nos seus termos, “cuidar da nação”. Cuidar sempre significou destacar e obliterar; lembrar e esquecer.

Alguns exemplos isolados: o que significa inventar uma corte em território americano buscar todas as regras na mais fiel tradição medieval europeia, mas adotar nomes e títulos indígenas? Como explicar um príncipe que se veste com o rigor majestático das grandes cortes, mas introduz uma murça de papos de tucano, tal qual um cacique, e um manto com ramos de café e tabaco? O que dizer da famosa fazenda Santa Cruz, retirada dos jesuítas quando de sua expulsão e protegida pelos monarcas portugueses aqui residentes, que agrupava um número elevado de cantores escravos de música sacra? De que maneira entender um monarca que se sentava na frente dos estandes brasileiros das exposições universais – verdadeiras festas de exibição dos feitos tecnológicos e industriais das jovens nações capitalistas – e exibia sua coroa ao lado de produtos indígenas e da arte popular? Por outro lado, se for correta a versão que diz que o termo Império seria uma referência não só à extensão do território,[4] ou uma homenagem de d. Pedro I a Napoleão – segundo seus biógrafos, sua maior influência-, mas uma alusão ao imperador, escolhido na festa do Divino, estaríamos, então, diante de um regime que desde os momentos de fundação dialogava com as culturas locais, criando novos significados para tradições longínquas.[5]

Cada um desses temas fala, em seu conjunto, de uma “monarquia tropical”, tão estranha ao contexto americano quanto exótica diante dos exemplos europeus. Falam também de um imaginário social, de uma comunidade imaginária que não se limitou ao momento político específico de sua vigência, mas rompeu as barreiras que os marcos políticos delimitavam. Por sinal, boa parte de nossos símbolos pátrios é herdeira da lógica imperial·.

Talvez seja essa a razão da pouca legitimidade inicial dos símbolos republicanos, em um país ainda atrelado à eficácia e à inserção alargada dos emblemas da realeza. O fato de os ícones republicanos mais bem sucedidos – como o hino e a bandeira – estarem de alguma maneira ligados à simbologia monárquica evidencia não apenas o pequeno impacto da “invenção de tradições” republicanas, como, sobretudo, a penetração de uma simbologia imperial.[6]

José Murilo de Carvalho demonstrou como a mesma elite que ajudara a derrubar a monarquia lutava pela implantação de uma simbologia particular, para o recém-instalado Estado republicano, sem conseguir, no entanto, impor um imaginário particular.[7] A história da escolha do hino nacional, logo nos primórdios do novo regime, é significativa: a despeito do resultado final do apressado concurso, que já em 20 de janeiro de 1890 pretendia escolher uma nova composição para representar o país, acabou ganhando o velho hino de Francisco Manuel da Silva, que não havia nem ao menos entrado na competição. “Prefiro o velho!!”, teria dito o Marechal Deodoro, deslocando o primeiro colocado – o hino de Leopoldo Miguez, com letra de Medeiros e Albuquerque – e oficializando-o, no mesmo decreto, como “Hino da Proclamação da República”.[8] O hino nacional continuava a ser o mesmo da monarquia, apesar da suspeita de que teria sido d. Pedro I seu compositor.

Mesmo a bandeira nacional, apesar das inúmeras explicações surgidas a posteriori (que falavam do verde de nossas matas, do azul do nosso céu e do amarelo das riquezas minerais), continuava a ostentar seus vínculos com a tradição imperial: o verde, cor heráldica da Casa Real Portuguesa de Bragança; o amarelo, cor da Casa Imperial Austríaca de Habsburgo. Além disso, o desenho republicano reaproveitava o losango da bandeira imperial – que representava uma constrangedora homenagem de d. Pedro I a Napoleão-, apenas retirando o brasão monárquico, com as armas imperiais aplicadas, para introduzir o lema positivista de “ordem e progresso”.[9]

Se essa versão é exata, estaríamos diante de um caso de redefinição, típico do nosso processo cultural: elementos tradicionais do armorial europeu, com seu significado preciso de homenagem aos soberanos da jovem nação, acrescidos de uma modalidade de distribuição do espaço na bandeira francesa, passavam a representar nossa realidade física, destituídos de seu significado anterior. A fisionomia da bandeira republicana, considerada durante gerações como expressão autêntica de características da terra, teria nascido de transposições e substituições. Isso sem esquecer dos nomes. Afinal, nomear é ato primeiro de selecionar. Falemos dos nomes da nobreza brasileira. Se a nobreza brasileira foi original, e distanciou-se dos padrões de sociabilidade europeus, soube construir sua estrutura utilizando-se das franjas, dos detalhes que as leis heráldicas permitiam prever. Suas cores eram diferentes, porém possíveis; suas figuras eram excessivas, previsíveis, todavia, assim como seu caráter mais descritivo. Num evidente movimento de ressignificação, a nobreza brasileira teria representado uma leitura tropical de um modelo medieval europeu. Não era hereditária no Brasil, e “dar nomes” era prerrogativa do rei: e o rei gostava dos nomes indígenas, como, por exemplo, Quixeramobim do alto e também de baixo.

No entanto, a nobreza recém-constituída revestiu-se de um rigor necessário. O costume fará, inclusive, parte do texto da lei: o ritual não é matéria apenas do costume, mas está assentado na Constituição. E lentamente os títulos de nobreza foram ganhando reconhecimento. Não é coincidência que um dos primeiros atos da República brasileira, ainda em 24 de fevereiro de 1891, aboliu os títulos honoríficos imperiais. Tendo a nobreza como companheira próxima do rei, e dele dependente (ao menos para receber o título), sua continuidade poderia simbolizar a sobrevivência da própria monarquia.

Era dessa maneira que, em meio a um duplo ato falho, extinguia-se a titularidade. Floriano Peixoto enviou correspondência a Rio Branco informando-o sobre a medida. Nessa ocasião, teria endereçado o envelope ao “Barão do Rio Branco”, e esse de pronto teria respondido com um “Ciente” e traiçoeiramente assinado: Barão do Rio Branco. Além desse deslize, ainda há outro: na Constituinte de 1891, vários nobres assinaram como titulares e sem parênteses.

Mais representativa do que esse tipo de anedota política é a prática que vingou no Brasil, entre as famílias nobres do Império, de conservar não o título – que corresponde à posição na hierarquia da nobiliarquia -, mas a denominação; qual seja, o nome que acompanha o título. Dessa forma, foi comum ver-se a denominação do titulado incorporada ao próprio nome de nascimento. Esse é o caso de Rio Branco – que tirou o título de “barão”, mas passou a se chamar José Maria da Silva Paranhos do Rio Branco -, e de tantos outros, que usaram desse passado para justificar uma origem “quiça” e distinta. Com efeito, se os títulos foram abolidos, a partir de um dos primeiros decretos da jovem República, conservavam-se os nomes.

O fato é que esquecemos a não-hereditariedade, para conservar a forma. Como símbolo, a titularidade permaneceu como um tipo de “tradição”, constantemente acionada quando se trata de afirmar prestígio e respeito. Em um país de história curta e memória rarefeita, dizer-se nobre é passar um atestado de antiguidade – mesmo que breve – em meio a um ambiente em que, com frequência, se reclama da falta de tradição.

Na verdade, é hora de refletir sobre as relações complexas que se estabelecem entre a política mais tradicional e o ritual de ordem simbólica e, sobretudo, sua eficácia política. Trata-se de pensar de que maneira as representações são historicamente produzidas – pelas práticas articuladas que são políticas, sim, mas também sociais, culturais, simbólicas e discursivas.

Levar a sério os universos simbólicos produzidos por uma sociedade é de alguma maneira insistir não só nos “fundamentos sociais da vida simbólica”como propôs E. Durkheim, nas Regras do método sociológico, mas também nos fundamentos simbólicos da vida social. Cada sociedade carrega suas cosmologias, suas concepções próprias e arraigadas de mundo, transformando em “eventos” apenas alguns acontecimentos particularmente carregados de significado. A atenção desloca-se dessa maneira para a dinâmica cultural; isto é, para a contínua reelaboração que se dá entre a emissão de um evento e sua própria recepção. Ora, pensar na maneira como a elite política imperial manipulava não implica explicar, por decorrência, sua popularidade e mesmo o enraizamento desses símbolos. Para tanto, é preciso pensar nas nossas cosmologias, em particular. Nada como vislumbrar a nova teatralidade republicana.

2. Três cidades: três cenários da modernidade no teatro republicano

Nunca se sonhou tanto como na passagem do XIX para o XX. Era esse o século das grandes realizações e invenções, da efetivação de pro­ jetos de controle das intempéries naturais ou do controle do céu e da terra. Não pairava no ar o cheiro da guerra – que estava para estourar

-, a ideia do conflito parecia controlada pela fantasia do progresso e os novos avanços técnicos passavam a ideia de um domínio absoluto da natureza e dos homens.

As ambiguidades do progresso estavam, porém, também presentes, e assustavam. Os aviões subiam aos céus, mas o cometa Biela passava pelos ares, gerando medo e apreensão. A mesma luz elétrica que movia os bondes e tirava as cidades da escuridão promovia acidentes, choques às vezes fatais. Na corte carioca, conviviam, também, realidades distintas: os saraus elegantes com seus costumes à francesa e as festas populares que deixavam as ruas coloridas com tantas congadas, reisados, batuques, entrudos e procissões. Os novos carros que começavam a circular causavam engarrafamentos e trombadas, sobretudo quando emparelhados aos veículos puxados a animais. Por fim, não há como esquecer que a escravidão era, ainda, uma marca evidente no cotidiano local. Não se passa impunemente pelo fato de ter sido a última nação ocidental a abolir o cativeiro, já que até maio de 1888 era possível garantir, no Brasil, a posse de um homem por outro. Não à toa o hino da República (que não era nacional) entoava em alto e bom som: “Nós nem cremos que escravos outrora tenha havido em tão nobre país.” Ora, outrora era um ano ou no máximo dois atrás, mas o passado – nessa política de esquecimento – virava, de maneira derradeira, o passado.

Era difícil a convivência entre o projeto republicano, que, recém­inaugurado em novembro de 1889, vendia uma imagem de modernidade, e a presença evidente do sistema escravocrata, que levava à conformação de uma sociedade patriarcal, personalizada, violenta e na qual vigorava um profundo preconceito em relação ao trabalho. Por outro lado, as teorias raciais continuavam vigentes e representavam o pensamento científico da época. Silvio Romero, em seu livro Históría da literatura brasileira (de 1888), teria dito: “Não tenhamos preconceito; reconheçamos as diferenças.” Preconceito era, portanto, supor a igualdade; não o contrário.[10]

Por outro lado, civilização e modernidade convertiam-se em pala­vras de ordem desse contexto; viravam instrumentos de batalha, além de fotografias de um ideal alentado. O Brasil entrava no novo século XX tão confiante quanto as demais nações: nada como imaginar que seria possível domesticar o futuro, prever e impedir flutuações. Sem dúvida, tratava-se de um tempo de aposta em verdades absolutas, em normas morais rígidas, na resolução de todos os imponderáveis. Não à toa foi chamado por Eric Hobsbawm de o tempo das certezas. Um século que só terminou em 1914.[11] Foi então, e com a realidade da Primeira Grande Guerra mundial, que se pôs fim a essa era de certezas.

A certeza da prosperidade daria lugar a uma sociedade de sonhos ilimitados, hoje conhecida pelo nome de belle époque. No Brasil, por sua vez, a atmosfera no Rio de Janeiro foi chamada de “Regeneração” e parecia corresponder ao surto que ocorria em outras partes do mundo, além de passar a sensação de que o Brasil estava em harmonia com o progresso e a civilização. O suposto é de que a República representava a modernidade que se instalava no país, tirando-o da “letargia da monarquia” ou da “barbárie da escravidão”.

Uma verdadeira batalha simbólica é então travada, quando nomes, símbolos, hinos, bandeira, heróis e modelos são substituídos, com o intuito de impor uma alteridade que não se encontrava na realidade. Símbolo maior dessa era foi Santos Dumont, que levantou aos ares as expectativas brasileiras de alcançar as alturas das nações modernas. Ícone dos novos tempos foi também a “nova avenida Central” – atual avenida Rio Branco -, marco do novo projeto urbanístico da cidade do Rio de Janeiro, que se transformava em um verdadeiro cartão-postal, com suas fachadas art nouveau, feitas de mármore e cristal, seus modernos lampiões a luz elétrica, lojas de produtos importados e transeuntes à francesa. Marco paralelo é a expulsão da população pobre que habitava os casarões da região central. Era a ditadura do “bota­abaixo”, que demolia residências e disseminava as favelas, cortiços e hotéis baratos – os “zunga” -, onde famílias inteiras deitavam-se no chão. Isso para não falar da repressão às festas populares e procissões, que passavam, igualmente, por esse processo de civilização, na época denominado de “regeneração”: saía o entrudo, entrava o limpo carnaval de Veneza.

Estávamos nos tempos do presidente Rodrigues Alves, que montou uma equipe a que concedeu poderes ilimitados. Na verdade, com o intuito de fazer da cidade uma vitrine para a captação dos interesses estrangeiros, concebeu-se um plano em três direções: a modernização do porto ficaria a cargo do engenheiro Lauro Müller, o saneamento da cidade – acometida por doenças e epidemias infecciosas – seria responsabilidade do médico sanitarista Oswaldo Cruz, e já a reforma urbana restaria a cargo do engenheiro Pereira Passos, que havia conhecido de perto a reforma de Paris, empreendida pelo barão de Haussmann. Lima Barreto comentava a velocidade da reforma: “De uma hora para a outra a antiga cidade desapareceu e outra surgiu como se fosse obtida por mutação de teatro. Havia mesmo na coisa muita cenografia.[12]

Consequência dessa cenografia foi a Revolta da Vacina de 1904; decorrência da política autoritária foram movimentos messiânicos como os de Canudos, que estouraram de 1893 a 1897. Resultado desse processo de modernização “a qualquer custo” é o desabafo de Euclides da Cunha que, bem no final do seu livro Os Sertões, de 1902, conclui: “Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram apenas quatro: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê­ lo. Esta página imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerremo-la vacilante e sem brilhos. Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem…”[13] Aí estariam duas faces de uma mesma moeda. De um lado “a vertigem” da modernidade, com seus ganhos; de outro, a exclusão e o autoritarismo das medidas disciplinares. Mais uma vez, e por outro lado, estamos falando de certas lembranças e memórias e de muitos esquecimentos.

Também nesse momento, e mais precisamente a partir da década de 1870, São Paulo torna-se palco privilegiado para transformações socioeconômicas, urbanísticas, físicas e demográficas. Na verdade, prensada em meio à prosperidade crescente da lavoura cafeeira, de um lado, e as tensões ligadas à crise final da escravidão no país, a antiga cidade de barro dos viajantes que lá passavam, o velho burgo de estudantes, da faculdade de direito do Largo São Francisco, se transforma, de forma acelerada, na “metrópole do café”, como bem a caracterizou Ernani da Silva Bruno. Todo esse conjunto de fatores, por sua vez, implicou alterações profundas das funções e dos espaços vivenciados na cidade, “em favor de um maior controle e racionalização, de modo a assegurar para São Paulo o status de entreposto comercial e financeiro privilegiado para as relações entre a lavoura cafeeira paulista e o capital internacional”.[14] Essa é a época da criação do Instituto Butantã, da iluminação elétrica; assim como dos transportes, que tomam novo impulso com a inauguração, em 1872, da estrada de ferro Jundiaí­ Campinas, pela Companhia Paulista. Em dezembro de 1872, o político João Theodoro Xavier de Mattos assume o governo da província de São Paulo e passa a alterar a infra-estrutura local: abre novas ruas, prolonga velhas estradas, amplia largos, reforma a Várzea do Carmo, cria jardins públicos… Em suma, após três anos de gestão, a nova administração preparava a cidade para a entrada dos capitalistas do interior ou, nas palavras de João Theodoro: “… A capital engrandecida e circundada de atrativos e gozos, chamará a si os grandes proprietários e capitalistas da Província, que nela formarão seus domicílios ou temporárias e periódicas residências.”[15]

Todas estas alterações – sociais, tecnológicas e econômicas – levam, por sua vez, a mudanças aceleradas nos comportamentos da população local, que passa a transitar pelas ruas da cidade e deixa o ambiente exclusivo da casa patriarcal. Também em São Paulo (mas no mesmo ritmo que o Rio de Janeiro), a “boa sociedade” descobre os hábitos sociais, entre os bailes, o turfe, o trottoir e as noitadas no teatro.

No entanto, esse é só um lado da mesma história. Não há como esquecer os limites da urbanização paulistana, já que, segundo Florestan Fernandes, até o final do século o que se reconhecia era “uma sociedade rural que desempenhava, por circunstâncias peculiares, a função de centro comercial, bancário, intelectual e burocrático de uma província estritamente agrícola”.[16]

Na verdade, destaca-se a persistência de velhos padrões de sociabilidade, próprios do mundo rural escravocrata e patriarcal brasileiro, que continuam atuantes nessa São Paulo em expansão, na segunda metade do XIXAo lado das novas tecnologias, das atividades econômicas e ocupações sociais mais recentes – e propriamente urbanas – estão presentes as marcas de um passado no qual as hierarquias sociais são dadas por padrões rígidos de nascimento e de inserção. É por isso mesmo que a urbanização paulistana implicou um “embelezamento” da cidade – paralelo ao observado no Rio de Janeiro -, mas, simetricamente, uma “expulsão da pobreza” e do mundo do trabalho. Essa é a época da aprovação de uma série de regulamentações oficiais (“posturas”) que previam multas e impostos para atividades que, até então, caracterizavam o dia-a-dia da cidade. Além disso, a especulação imobiliária e a intervenção urbanística levam a ganhos e perdas. Por um lado, a infra-estrutura da cidade muda com a abertura de novos bairros e ruas elegantes que alteravam o, até então, pacato cotidiano paulistano. Essa é a época, também, da avenida Paulista, com seus casarões imponentes e sua população que se portava à francesa. Por outro lado, no bojo desse mesmo processo, são demolidos muitos casebres e favelas, tudo em nome do prolongamento das ruas e da ampliação de largos e praças. Como bem mostra Maria Odila Dias Leite, o mesmo processo que levou à inchação da pobreza acabou, finalmente, por expulsá-la dos bairros centrais da cidade, onde agora ficavam as casas de ópera e as lojas comerciais.[17]

Outras cidades brasileiras passavam, nesse momento, por processos semelhantes. Um caso paradoxal é o da cidade de Belo Horizonte, criada e arquitetada para ser capital do Estado. Promulgada pelo Congresso mineiro, reunido em Barbacena a 17 de dezembro de 1893, a lei estabelecia a mudança da capital para a cidade que se deveria edificar no arraial de Belo Horizonte, com o prazo improrrogável de 4 anos para a construção. A não ser entre os ouro-pretanos e demais partidários da permanência da capital na cidade histórica mineira, a opinião geral era favorável, e gerou a corrida de uma série de aventureiros e investidores, que, em busca de fortuna e felicidade, passavam a apostar na demolição do arraial e na construção da moderna cidade.

A 14 de fevereiro de 1894 o governo do Estado de Minas Gerais promulgava regulamento, pelo qual era criada a Comissão Construtora e regulamentados os seus serviços, e por outro decreto, da mesma data, nomeava para chefe desta o engenheiro Dr. Aarão Reis; era a primeira vez que se planejava a construção de uma cidade, em moldes modernos e civilizados. A primeira providência foi ligar a nova capital ao plano geral de viação do Estado, o que implicava a construção de uma estrada de ferro, imprescindível para o transporte de material necessário. Além disso, e mais uma vez, um processo de desapropriação da população então residente se inicia, a fim de abrir espaços para a nova metrópole que surgia de forma apressada. Os planos previam o transporte, mas apostavam também nas edificações que garantiriam, ainda que simbolicamente, que Belo Horizonte seria a capital. É por isso mesmo que são logo desenhados a matriz, a capela e – não poderia deixar de ser – o Palácio Presidencial, que, de tão grandioso e decorado com motivos art nouveau, mais se parecia com um dos palacetes que adornavam a Ringstrasse na Viena de finais do século.

Mas nem tudo era cenário nessa nova Belo Horizonte, propositadamente projetada. Correndo a notícia das rendosas obras que se encetavam em Belo Horizonte, com prognósticos de ganhos fáceis e abundantes, crescia, na mesma proporção, a chegada de operários e

imigrantes, em boa parte italianos, que iam improvisando barracões e cafuas como moradias.[18] Diziam-se maravilhas da nova cidade, que era definida como um novo eldorado que recordava os tempos gloriosos das Minas. Nada como um pouco de utopia nesses tempos de tanta “mundanidade”.

O clima de euforia não contagiava, porém, os habitantes da velha capital do Estado, que, apesar de receberem lotes de terra a título de compensação pela desvalorização de suas propriedades, se desinteressavam por completo daquele direito ou, mesmo, nem se davam ao trabalho de visitar as obras de Belo Horizonte. Papudópolis, poeírópolís, formigópolis, eram termos que definiam bem os ânimos dos ouro-pretanos em relação à nova capital. Os trabalhos, a despeito do ambiente mais beligerante, seguiam em frente, assim como as novas instalações que faziam do reduto uma cidade: o Correio é fundado, o telégrafo é inaugurado em 1896, casas comerciais são abertas e residências de melhor padrão são edificadas. As obras públicas vão ganhando forma e revelando um estilo que indicava como a cidade se aproximava do século XX, que a saudava. Esse é o caso do Palácio da Justiça ou do Palácio do Congresso; da Capela do Rosário, do prédio da Imprensa Oficial, da Secretaria do Interior e das Finanças. Por outro lado, os primeiros hotéis começam a aparecer, não atraindo, ainda, uma população mais distinta. O Hotel Monte Verde e mesmo o Floresta, com seus quartinhos de fundo, mais se aproximavam dos cortiços locais ou dos bom-será na gíria local, onde se reuniam até as altas a boêmia local em rega-bofes e comes-e-bebes, ao som de muita concertina. A “boa sociedade teria mesmo que esperar mais um pouco. Mas os andamentos dos trabalhos andam a contento e logo chegam ao local a água, a iluminação e a força elétrica (1895); símbolo maior da entrada da modernidade. No trabalho de embelezamento não poderiam faltar os parques – com seus restaurantes, cassinos e observatories – e própria arborização da cidade; tudo muito caprichado para receber tanta civilização”.

O passo seguinte foi estabelecer normas de higiene e legislar sobre o estado sanitário que deveria ser almejado a partir de então. Enfim, tomadas todas as medidas·, aproximava-se o dia 17 de dezembro de 1897, termo do prazo estabelecido para efetuar a transferência do Governo do Estado para Belo Horizonte. Enfim, após o 13 de maio de 1888 (quando se aboliu a escravidão) e o 15 de novembro de 1889 (que colocou fim à monarquia no Brasil), Minas Gerais aguardava a transferência da nova capital como um marco dos novos tempos que não podiam esperar. Para celebrar a data, ao anoitecer, como que por um desses encantos modernos, a cidade ficou, de repente, toda iluminada pelas centenas de lâmpadas elétricas que pontilhavam a cidade até então nascitura. Os edifícios (ainda inacabados), as praças e avenidas, tudo ganhava forma e cor em função da iluminação que simbolicamente marcava o nascimento da cidade. Era 12 de dezembro de 1897, e a cidade embrionária amanheceu toda embandeirada e em clima de festa. Não faltaram discursos, foguetes e festas; afinal, era a primeira cidade planejada republicana que ganhava vida e mostrava que o futuro estava ali, bem à frente de nós.

Três casos, três destinos distintos: uma corte que se rearranja em função da nova República; uma cidade que se aparelha em função do potencial econômico advindo da cafeicultura; um centro que é projetado como capital. Em todos, porém, a permanência de certos elementos estruturais. Estamos falando de uma sociedade recém-egressa da escravidão, que guarda marcas e hierarquias arraigadas, e de um novo projeto político republicano que tenta se impor a partir da difusão de uma imagem de modernidade e de civilidade que é criada na contra­ posição com o Império. Cidades são cenários, e nesses desenhava-se um novo teatro da “modernidade” que vinha no lugar de outras faces, digamos assim, menos alentadas. A pobreza, os hábitos populares, as diferenças regionais… tudo devia ser “esquecido” em nome da nova política articulada aos novos tempos.

Mas deixemos um pouco as coisas como estão e as novas metrópoles nesse seu movimento ambíguo de inclusão e exclusão. Nada como voltar ao glamour dessa sociedade que portava chapéus com plumas, vestia-se com enchimentos e sedas, desenhava penteados de um metro e mais, ia a festas e saraus, almoçava e jantava em restaurantes e confeitarias; era para ela que o século se preparava para dobrar.

3. Uma geração angustiada

Tanta ambiguidade havia de estar presente, de uma maneira ou de outra, nos intelectuais desses “tempos nervosos”. Racismo ou liberalismo, adesão à modernidade ou crítica do progresso; livre-arbítrio ou controle; cidadania ou tutela; igualdade ou diferença … eram temas da agenda. Em meio a um momento em que se acenava com a novidade da cidadania, garantida por um novo corpo de leis, vários pensadores desconfiavam ora da igualdade da lei, ora dessa República dos “outros”.

Nina Rodrigues, por exemplo, é um autor marcado por esse tipo de ambivalência, e talvez por isso tenha legado uma imagem paradoxal.

A despeito de ser considerado – a partir da publicação de seu livro Africanos no Brasil – o primeiro antropólogo brasileiro a tratar de temas hoje conhecidos como “raciais”, ele é também um autor maldito, reconhecido como aquele que tratou de defender – e teorizar – as diferenças ontológicas existentes entre as diversas raças no Brasil, e em especial por considerar a mestiçagem sinal de degenerescência.

No entanto, as posições desse médico, mesmo em sua época, sempre foram paradoxais e de difícil doma. De um lado, é evidente a sua aceitação das teses do darwinismo social e da antropologia criminal, bem como da concepção de que hierarquias rígidas marcariam as diferenças internas existentes entre as raças. De outro lado, porém, é igualmente evidente a tentativa de Nina Rodrigues de “pensar a diferença” e, sobretudo, nomeá-la. É certo que sua defesa da existência de dois códigos penais, em As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, de 1894, é um exemplo das certezas que grassavam nessa época marcada por determinismos. No entanto, a leitura cuidadosa desse texto aponta, também, para os impasses da ideia de diferença e as decorrências de sua aceitação.

Parte da “maldição” que recaiu sobre Nina Rodrigues advém de seus livros e estudos sobre criminalidade, que se concentraram nos finais dos anos 1880 e inícios da década do século XX. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894); Negros criminosos (1895), O regicida Marcelino Bispo (1899); Mestiçagem, degenerescência e crime (1899), entre outros textos e ensaios, representam um novo momento na carreira desse médico que vê na criminalidade mestiça uma diferença; uma particularidade dessa nação evidentemente misturada não só em credos como em raças.

O suposto comum é o da “desigualdade” e, portanto, da necessidade de criação de códigos penais diferenciados, que permitissem o estabelecimento de responsabilidades atenuadas. Pautado em seus vários “estudos de caso”, Nina Rodrigues procuraria fazer de suas teses não uma questão pessoal, mas matéria de ciência, fartamente amparada na bibliografia da época.

E o contexto não poderia ser mais revelador. Afinal, nesse momento perguntava-se, exatamente, sobre qual era o lugar dessa população negra recém-saída da abolição e sujeita ao arbítrio da República, que justamente surgia alardeando a igualdade. O modelo aplicado pelo médico implicará, portanto, a explicitação da tese inicial – a diferença de imputabilidade entre as raças -, a demonstração da farta bibliografia técnica concernente ao tema e finalmente a demonstração dos “casos clínicos” para chegar-se ao corpo doente, marcado pelas manifestações de epilepsia, neurastenia (fadiga), histeria ou alienação. Todos os casos permitiriam demonstrar a degeneração e a inviabilidade do próprio código, enganado pelo princípio voluntarista da Ilustração: a falácia da igualdade.

O contexto em que o médico Nina Rodrigues escrevia e pesquisava era dado a determinismos de toda ordem: raciais, biológicos e até mesmo sociais. Por outro lado, nesse contexto, e como bem mostrou Nicolau Sevcenko, a ciência era quase uma missão, tal a maneira como ela se vinculava ao Estado; ou melhor, ao que eram consideradas necessidades do Estado.[19] E Nina Rodrigues seria, talvez, um dos intelectuais brasileiros mais coerentes, ao adotar o darwinismo de forma bastante radical, e coerente, negando o evolucionismo social e adotando a criminologia italiana de Lombroso como modelo de análise.

Diferentemente de seus colegas da Escola de Recife – especialmente Tobias Barreto e Sílvio Romero -, Nina Rodrigues negou o suposto do evolucionismo social de que a “perfectibilidade” era possível e presente em todas as “raças”. Além do mais, ao conferir às raças o estatuto de realidades estanques e ontológicas, passou a advogar que toda mistura de espécies era sinônimo de degeneração. Nesse sentido, se opôs frontalmente aos estudos de Sílvio Romero, que acreditavam numa certa mestiçagem “possível”. Afinal, o jurista teria afirmado, provocativamente, que “éramos mestiços no sangue, na alma e nas ideias”, revelando que a mestiçagem era uma realidade e melhor seria, de alguma maneira, aceitá-la.[20]

Com sua posição, extremada e pessimista para a própria época, Nina Rodrigues, ao contrário, opôs-se aos colegas de direito, que eram, justamente, os responsáveis pela conformação do Código Penal de 1894. Para ele, só os médicos teriam o arbítrio sobre esses corpos doentes, e o direito, nomeadamente o jus-naturalismo, apostava em concepções “ultrapassadas” – como a igualdade e o livre-arbítrio -, que, segundo o médico, levariam ao obscurantismo.

Defendeu, pois, uma ideia bastante “moderna” da relatividade do crime, e a associou à questão da imputabilidade: certas raças seriam responsáveis; de outras não se podia cobrar o que, simplesmente, não existia. A noção de diferença – nesse caso diferença racial – aparece claramente delineada no modelo de Nina Rodrigues e ainda mais em As raças humanas e a responsabilidade penal, também de 1894. Conforme ironizava: “se um país não é antigo para se fazer conhecer por sua tradição; rico para se destacar por sua economia; precisa ser diferente”. Para Nina, éramos diferentes, e essa diferença deveria ser, de fato, levada a sério. O problema não era o diagnóstico, mas sim a solução. “A liberdade é uma aparência”, dizia o médico, uma “ilusão da liberdade”,[21] e a conciliação de ideias se tornava, portanto, impossível: só nos restava a intervenção.

Também Euclides da Cunha oscilou em seus prognósticos e previsões. Se, por um lado, começou atacando o que julgou ser um cancro monarquista e um sinal do atraso – a revolta de Canudos, por outro, e ao final de seu livro, refez seu trajeto e reavaliou seus pressupostos arraigados. Assim, se na própria montagem da obra evidencia-se um projeto determinista – geográfico ou racial -, já ao final, em meio à luta, Euclides da Cunha reconhece as falácias dos seus conceitos e da sua primeira avaliação. O mestiço, de desequilibrado, vira um forte; de degenerado, uma rocha viva. “Sertão”, para Euclides da Cunha, passa a significar não só um espaço interno como uma nova situação política, apartada da corte, agora capital. O deserto e a ausência de povoamento, como mostra Heloisa Starling, metaforizam a nova realidade políti­ ca e a falta de ordem da política republicana.[22]

Dessa maneira, se foi Euclides quem tratou de acrescentar ao imaginário republicano a categoria dicotômica do sertão – esse mundo rural, analfabeto e silencioso, destituído de direitos, e marcado pelo trabalho semi-servil -, oposto em tudo à modernidade urbana, foi ele também que, talvez pela primeira vez, anotou o destino trágico de sua própria história.

Se as primeiras investidas, ainda como repórter de O Estado de São Paulo, mostravam o “otimismo dos novos tempos certeiros”, já a etnografia que não previu permitia duvidar das possibilidades políticas de uma República incapaz de lidar com a alteridade e disposta a eliminá-la. A barbárie estava recolhida naquele recôndito da Bahia ou teimava em reaparecer na capital, que eliminava aqueles habitantes diversos do mesmo país chamado Brasil.

Os Sertões de Euclides da Cunha representavam, portanto, uma denúncia ou a dúvida com relação à existência de um Brasil homogêneo, assim como anunciavam seus párias; aqueles que, em nome da modernidade, deveriam ser esquecidos ou apagados. Aí estava uma terra sem nome ou história, mergulhada numa grande ausência e solidão que resultaria em tragédia. Aí estavam também os sinais de uma história pouco edificante da República e que vinha a contrapelo desse sonho de modernidade. Modernidade não vinga sem esquecimento, e a República revelava, para angústia de seus velhos protagonistas, a falta de compaixão, a indiferença diante da euforia do progresso.

“Estamos condenados ao progresso” era um desabafo, um lamento, uma previsão de Euclides da Cunha, que passava a se sentir, ele próprio, um pária dessa República carente de valores públicos. O sertão virava assim metáfora não da barbárie alheia, mas da barbárie republicana, que desfazia de projetos e revelava a ausência de projetos de igualdade, nesse novo regime que se abria, no alvorecer do novo século. Utopias ao léu… Mais uma vez, o meio físico era parte integrante nesse teatro da aventura da civilização brasileira. “Desterrados em nossa terra”, como dizia Sergio Buarque de Holanda, vivíamos, na metáfora euclidiana, um drama em meio à paisagem. Sertão era nosso desterro, nossa ausência fundamental.[23]

Mas Euclides da Cunha não é, porém, figura solitária a lamenter os males na nova República “que não foi”. Lima Barreto, autor e (quase) personagem de Triste fim de Policarpo Quaresma, pode ser reconhecido, também, como uma das “viúvas” do novo projeto republicano, que, em sua sanha civilizatória, inseria alguns e acabava por excluir tantos outros. Assim como seu personagem, que pretendia elevar a modinha e o tupi, também Lima terminou seus dias amargurando a ambiguidade dos novos tempos. Sem sucesso literário, sem sucesso financeiro, lamentou os autoritarismos da política e a inexorabilidade das teorias que viam no mestiço, como ele, um sinal de degeneração. Temeu, sobretudo, ser confundido com as teorias que condenava. Por isso, tal qual mau augúrio, lamentou a morte do pai por embriaguez, assim como cuidou para que sua irmã não seguisse o destino de tantas mulheres “de sua raça”, como se dizia à época.

Em Diários do hospício fica evidente a noção de “não-pertencimento” que vai tomando Lima Barreto. Funcionário público, jornalista e boêmio, Lima Barreto representa uma espécie de “sina na contramão da mestiçagem”. Seu diário traz sua crítica à ciência, seus problemas com a imprensa e seu sentimento de humilhação e dilaceramento. Internado por três vezes, por depressão, delírio e alcoolismo, Lima morreria de colapso cardíaco em 1922. “A ironia vem da dor”, desabafaria em seu diário, na mesma medida em que desfazia de doutores, bacharéis; lugar a que paradoxalmente também aspirava. “A capacidade dos negros é discutida a priori e a dos brancos a posteriori”, dizia ele em seu relato.[24] No entanto, era o próprio autor quem lamentava “o sentimento doloroso” que tinha de sua casa: o temor de sua irmã “entrar na vida” e de seu pai perder-se na bebida. Dizia que “era preconceito o que hoje é conceito”,[25] acusava as “mensurações idiotas” da ciência, os malefícios dos jornalistas, mas nada disso o redimiria de virar personagem de si mesmo. No dia 13 de julho confessava que teria tido “um pavor burro: estarei indo a loucura?”. Após o desabafo vinham a anotação de entrada no hospício e a crítica às mazelas do progresso: “Fresco progresso … somos de uma estupidez formidável.”[26]

Depois disso há só a bebida. A bebida e a volta do fantasma do pai. Não um Macbeth que se separa do pai, mas aquele que vive o fantasma em seu “próprio vício” e na impossibilidade (absurda) de não repetir os vaticínios da ciência.

Parodiando Balzac, Lima deixa suas últimas palavras anotadas no diário: “O homem é um bufão que dança sobre os precipícios.”[27] Grande precipício eram a República, a modernidade, o progresso e a ciência; palavras de ordem desse período que fazia da ciência seu mito de uso contemporâneo.

“Frustração” era, assim, o termo que resumia não só a figura da ficção de Policarpo Quaresma como o próprio Lima Barreto, que não conseguia lugar na República dos seus sonhos.

4. Para terminar

Os anos que marcam a virada do século no Brasil e seu imediato início representaram, assim, e ao mesmo tempo, euforia e receio. Euforia diante da ideia de que estávamos destinados à civilização; receio diante da realidade que insistia em não combinar com uma concepção decalcada de modelos vindos do exterior.

Desalento e progresso, esquecimento e lembrança constituíam-se em chaves de leitura dessa época; polaridades que se apresentavam como pares desagradáveis e muitas vezes incompatíveis. Incerteza e desordem imperavam por detrás de uma pretensa normalidade, e a política era percebida ora como o lugar do caos, ora como a prática do esquecimento. Nina acabou abrindo mão das conclusões de sua ciência determinista (que condenava o livre-arbítrio); Euclides desconfiou do progresso que tanto alardeou, e Lima morreu tal qual seu pai e seu personagem Policarpo. Quaresma não via os moinhos de Quixote, mas padeceu também de seus próprios sonhos.

Novas cidades, como São Paulo e Belo Horizonte, desenhadas a partir de uma forma republicana, carregavam os ventos da modernidade e deixavam submersos outros tempos e historicidades; tal qual a história de Borges em que um mapa dos grandes cartógrafos soterra os territórios que ajudara a localizar, desenhar e, no limite, constituir.[28]

Na vitória dos emblemas monárquicos em meio a um país republicano, na conquista das novas cidades (modernas, por definição) ou no descrédito de intelectuais quase que orgânicos da jovem República, vemos diferentes faces de um esquecimento encarnado e empatado nessa história. O momento de tão certeiro combalia as incertezas, mas as contradições não deixavàm de se apresentar.

Esses vários cenários de um mesmo processo revelam, entre outras coisas, como o esquecimento passa a fazer parte, nesse contexto específico, da própria prática política nacional. Nomes viram termos, assim como a monarquia do rei “que se inscrevia no mundo dos homens” cedia lugar à higiênica república dos “cidadãos dos outros”. A certeza das ciências, do progresso, da república, da igualdade entre iguais, gerava uma operação maciça de “memória” que era feita, como dizia Benjamin, por um recurso que consiste em ir ao passado repleto de “agoras”.[29]

Pretendemos refletir, assim, na crise das ideias republicanas à luz dos impasses dessa “geração angustiada”, que conheceu o final da monarquia e o início da experiência republicana no Brasil. Não havia, por um lado, o consenso que o modelo liberal alardeava. Por outro lado, em nome da modernidade, abolia-se o conflito ou esse era jogado para o “terreno da barbárie” ou da degeneração.

Mas bárbaro há de ser o outro. Como dizia Montaigne no seu famoso texto “Os canibais”,[30] ao fazer um verdadeiro elogio à maneira como os tupinambás realizavam a guerra: “ou muito bem eles são bárbaros ou nós o somos”. É assim que os anos que marcam a virada do século no Brasil representaram, ao mesmo tempo, euforia e angústia. Os tempos eram incertos, e a política se fazia, como nunca, na base de poucas lembranças. Mas há que ter sorte. Afinal, o cometa Biela, que anunciava o final do mundo, acabou não vindo, desviou a rota e foi parar em algum outro lugar.

Notas

  1. Benedict Anderson, Imagined Communities. London/ New York, Verso, 1991. 
  2. Roy Wagner, The invention of culture. Chicago, The University of Chicago Press, 1981. 
  3. Cf. Marshal Sahlins, Ilhas de história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000. 
  4. O termo império estaria ligado à ideia de um território vasto e com muitos povos convivendo. Além disso, o império faria parte de uma monarquia, sistema político em que o poder supremo é assumido por um só titular, designado por hereditariedade e ungido de um caráter sacro. Essa definição clássica tornou-se apenas formal na medida em que vários impérios não fizeram jus às três grandes caracterizações: realeza, território amplo, convivência entre povos diferentes. 
  5. Cf. Lília Moritz Schwarcz, As barbas do Imperador, São Paulo, Companhia das Letras, 1999. 
  6. Foi Arno Mayer (A invenção da tradição. São Paulo, Companhia das Letras, 1987) quem utilizou essa expressão (1987), quando apontou para a persistência do Antigo Regime na Europa de finais do XIX. Segundo o autor, foi só a partir da Primeira Guerra Mundial que se vislumbrou uma nova sociedade. 
  7. José Murilo Carvalho, A formação das almas, São Paulo, Companhia das Letras, 1998. 
  8. Quando Pedro I abdicou, em 1831, Francisco Manuel da Silva compôs a melodia do hino que, em primeira execução, na partida da família imperial para Portugal, apareceu com letra de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva. Em 1841, na coroação de Pedro II, esse hino foi executado novamente, com letra diferente da primeira e de autor desconhecido. Durante o segundo reinado foi executado em solenidades civis e militares, mas sem letra, adotado por consenso, sem nenhum ato que o oficializasse. Foi também executado no exterior, como, por exemplo, na abertura da Exposição Mundial de Filadélfia, em 9 de maio de1876, na presença do imperador d. Pedro II e do general Grant. 
  9. Antônio Cândido, “A literatura durante o Império”. ln: Holanda, Sergio Buarque de. História geral da civilização brasileira. São Paulo, Difel, 1989, p. 53. 
  10. Sílvio Romero, História da literatura brasileira. Recife, s/ed., 1888. 
  11. Eric Hobsbawrn, Era dos extremos. breve século XX. 1914-1991. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. 
  12. Para uma visão mais abrangente sobre a cidade do Rio de Janeiro nesse período de grandes mudanças vide, entre outros, Nicolau Sevcenko. (org.) História da vida privada no Brasil. República: da belle époque à era do rádio. São Paulo, Companhia das Letras, 1998, e Sidney Chalhoub. Trabalho, lar e botequim. cotidiano dos trabalhadores, do Rio de Janeiro da belle­époque. São Paulo, Brasiliense, 1986. 
  13. Euclides da Cunha, Os Sertões, São Paulo, Cultrix, 1973, p. 392. 
  14. Ernani da Silva Bruno, Tradições e reminscências da cidade de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1954. 
  15. Cf. Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial por João Theodoro Xavier de Mattos, 14 de fevereiro de 1875. 
  16. Cf. Florestan Fernandes, “Do escravo ao cidadão”, ln: Bastide, R., Fernandes, F. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo. São Paulo: Anhembi, 1955, p. 42. 
  17. Uma série de obras vem analisando o cotidiano paulistano nesse contexto específico de finais do século. Dentre elas destacamos Richard Morse, Formação histórica de São Paulo (De comunidade a metrópole). São Paulo, Difel, 1970; o artigo de Maria Odila Leite da Silva Dias “A interiorização da metrópole”. ln: Mota, Carlos Guilherme (org). 1922: Dimensões São Paulo, Perspectiva, 1982; Florestan Fernandes, Mudanças Sociais no Brasil. Aspectos do desenvolvimento da sociedade brasileira. São Paulo, Difel, 1960; Nicolau Sevcenko, Literatura como missão. 2ª ed. São Paulo, Companhia das Letras, 2005; e o trabalho de Faya Frhese, Entre o passado e o presente, entre a casa e a rua: tempos e espaços na cidade de São Paulo de fim do Império. São Paulo, Universidade de São Paulo, tese de rnestrado,1999. 
  18. Abílio Barreto, Belo Horizonte. Memória histórica e descritiva. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e culturais, 2 vol, 1995, p. 347. 
  19. Nicolau Sevcenko, Literatura como missão, SãoPaulo, Companhia das Letras, 2005. 
  20. Romero, Sílvio, op. cit. 
  21. Nina Rodrigues, A responsabilidade penal. Salvador, s/ed., 1888. P. 60. 
  22. Heloisa Starling, “A república e o Sertão”, em Caderno Especial O Estado de S. Paulo “Grande Sertão Veredas 50 anos”, 27 de maio de 2006, p. H 6, 7. 
  23. Sergio Buarque Holanda (1936), Raízes do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2006. 
  24. Lima Barreto, Diários íntimos. 2ª ed. Rio de Janeiro, Graphia editorial, 1998, p. 34. 
  25. Ibidem, p.71. 
  26. Ibidem, p. 131. 
  27. Ibidem, p. 143. 
  28. Jorge Luís Borges, “Do rigor na ciência” in: História universal da infâmia. 1ª edição. Porto Alegre: Globo, 2001. 
  29. Walter Benjamin, 1989. 
  30. Montaigne, “Os canibais” in: Os pensadores. São Paulo: Abril, 1980. 

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