2017

Depressão e imagem do novo mundo

por Maria Rita Kehl

Resumo

Há muitas décadas os problemas de saúde mental e a depressão, em especial, conheceram uma explosão. Apesar de esse aumento ter sido expressivo, existem muitos aspectos de natureza social e cultural, bem como interesses econômicos particulares, que vamos aqui analisar. Essas questões envolvem mudanças dos próprios critérios de diagnóstico da depressão e outras psicopatologias. Desde já, é preciso dizer que existem duas forças que tendem a favorecer o diagnóstico de depressão: a indústria farmacêutica e a própria sociedade como um todo, que pouco tolera o depressivo em vista de parâmetros de alto desempenho profissional e sucesso na vida pessoal. A depressão é um problema concreto e não há dúvida de que a vida contemporânea tende a agravá-lo, mas o avesso dessa questão é muito claro: estamos também “patologizando o curável”. De fato, os males inevitáveis da própria vida: traumas de todos os tipos, fases de tristeza sem explicação aparente, processos de luto (morte de alguém próximo, termino de uma relação duradoura etc.) tendem a ser rapidamente combatidos pela via medicamentosa. Quando não é a própria pessoa que passa por esses problemas que busca voluntariamente os remédios, são os parentes, os amigos, os médicos que estimulam o seu uso. Na maioria desses casos, o paciente não é um deprimido, ele simplesmente está atravessando um processo natural e circunstancial que implica em sofrimento psíquico, de onde temos também uma “inflação” dos diagnósticos de depressão. É aí que o problema se torna mais complexo, porque a esse “paciente”, que na verdade não é deprimido, é negado passar pelo processo de sofrimento e de luto, sem expressá-lo ou simbolizá-lo eventualmente através de uma psicoterapia. Ocorre, portanto, um tamponamento do sofrimento com remédios, sem que suas causas sejam encaradas. Algo análogo tem ocorrido com os adolescentes. Apesar de todos sabermos que essa é uma fase conflituosa por natureza em tudo o que envolve a passagem da infância para a idade adulta, “a depressão é uma crise inconveniente a ser medicada com urgência para que o garoto ou garota volte a participar da festa dos incluídos.” O próprio adolescente em sofrimento e também os seus pais tendem a não quererem assumir a alternativa de passar por uma psicoterapia, cujo processo é mais demorado; o adolescente, porque quer logo ser reintegrado por seus pares, que não querem um deprimido por perto, e os pais por ansiedade, excesso de zelo e/ou desejo de sucesso constante dos filhos, o que não os permite esperar para “resolver o problema”. Como resultando, tudo é sanado de forma imediatista, mas também é recalcado. O triste aumento das taxas de suicídios nessa idade está aí para mostrar que algo vai muito mal nessa conduta. Entre as crianças, os diagnósticos de depressão, mas também de hiperatividade e déficit de atenção são crescentes e a via medicamentosa, recorrente. Principalmente entre os mais privilegiados, existe uma cultura da ocupação permanente e os pais lotam as agendas dos filhos com atividades extraclasse, e quando as crianças estão livres ainda vão gastar o tempo restante em computadores, celulares, jogos eletrônicos e televisão. Não sobra tempo para ela ter contato livre consigo mesma, não há tempo nem lugar para o desenvolvimento do ócio e de sua livre imaginação. Dado todo esse contexto, é impossível, finalmente, deixar de questionar o longo menu de remédios divulgados pelos grandes laboratórios para os profissionais da saúde, mas acessível também à população em geral. Seus produtos se propõem a tratar as mais variadas formas de sofrimento psíquico. O laboratório Wyeth, por exemplo, fez uma longa e vaga lista: “tristeza, ansiedade, irritabilidade, medo, insegurança, indecisão, falta de prazer, fadiga, redução na autoestima e na capacidade de concentração, visão pessimista do futuro, sono e apetite perturbados, queixas físicas variadas, diminuição do apetite sexual […]”.


A depressão, forma contemporânea do spleen, tão em voga em nossos dias quanto foi a histeria nos tempos de Freud, é uma expressão da dor psíquica que desafia todas as pretensões da ciência de programar a vida humana na direção de uma otimização de resultados. Fatia de mercado disputada pelos laboratórios farmacêuticos, os depressivos formam um grupo desunido e incômodo a desafiar, ainda que inadvertidamente, a norma do bem-estar prêt-à-porter predominante nas sociedades ditas avançadas: estas que se tornaram incapazes de refletir sobre a dor de viver. Estas que, convencidas de que a riqueza se mede pela abundância de mercadorias em circulação, se tornaram incapazes de tolerar a falta, de criar estéticas para o vazio, de usufruir da lentidão e vislumbrar o saber contido na tristeza.

A experiência da depressão talvez prove que algo no humano resiste à aliança entre tecnologia e publicidade, assim como às novas formas de credo que elas promovem. Do homem, sabemos, a máquina de moer carne capitalista aproveita até o berro: os depressivos, porém, não oferecem nem isso. Os depressivos não berram. Seu silêncio, seu recolhimento, sua falta de interesse por todas as ofertas de gozo em circulação, fazem do depressivo a expressão do sintoma social contemporâneo. O depressivo, como no verso do poeta suicida Torquato Neto, desafina o coro dos contentes nesta primeira década do século XXI.

A depressão é a marca humana porque remete à experiência inaugural do psíquico. O psiquismo, acontecimento que acompanha toda a vida humana sem se localizar em nenhum lugar do corpo, resulta de um trabalho de representação contra um fundo vazio que poderíamos chamar, metaforicamente, de um núcleo de depressão. O núcleo de nada de onde há de emergir um sujeito capaz de simbolizar o objeto que lhe falta.

A rigor, a vida não faz sentido; nossa passagem individual pelo planeta não tem nenhuma relevância. A rigor, o eu que nos sustenta é uma construção fictícia, depende da memória e também do olhar do outro para se reconhecer como uma unidade estável ao longo do tempo. A rigor, não existe um Ser Superior que nos proteja, que se preocupe com nossas desgraças e nos salve de nossos tropeços. Não existe um Deus que nos forneça uma bula em que se leia: “vida, modo de usar[1]”. Ninguém, a não ser pai e mãe – dois pobres-diabos tão confusos e desamparados quanto nós mesmos –, espera nada de nós, ao longo de nossa breve passagem pelo mundo. Inventamos os deuses, ou um único Deus, para que Ele espere algo de nós, para que satisfaça nosso desejo de servidão. Inventamos Deus, e seus desígnios, de modo a atribuir a Ele a resposta para o enigma do desejo do Outro: “o que Ele quer de mim?” – e assim nos livrarmos do duro dever de desejar. A esse Deus a quem nada falta, entretanto, falta existência. Daí que nosso único dever, no dizer de Lacan, é acreditar Nele.

Ora, se nossa crença é que sustenta a existência de Deus, voltamos à estaca zero: estamos nus sob um céu desabitado.

Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo, o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços – “destinos pulsionais”, como se diz em psicanálise – que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo.

Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões. Amamos: a vida, os outros, e sobretudo a nós mesmos. Estamos condenados a amar, pois com esta multiplicidade de laços libidinais tecemos uma rede de sentido para a existência. As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar nisso o tempo todo; é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente.

A depressão é o rompimento desta rede de sentido e amparo: momento em que o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta preencher. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. Algumas pessoas conseguem evitá-lo a vida toda. Outras passam por ele em circunstâncias traumáticas e saem do outro lado. Mas há os que não conhecem outro modo de existir; são órfãos da proteção imaginária do “amor”, trapezistas que oscilam no ar sem nenhuma rede protetora embaixo deles. “A depressão é uma imperfeição do amor”, escreveu Andrew Solomon, autor de O demônio do meio-dia[2], vasto tratado sobre a depressão publicado nos Estados Unidos e traduzido no Brasil no final de 2002. Faz sentido, se considerarmos o sentido mais amplo da palavra amor. Se “amor” é o conjunto de laços que atam o sujeito à vida, aliado a representações imaginárias que produzem sentido à existência, a depressão pode ser entendida como uma imperfeição amorosa. Não confundir com o luto, mergulho necessário na dor e no vazio que decorre da perda de uma pessoa amada. O luto não é uma patologia, a não ser nos casos em que algum conflito inconsciente impeça o enlutado de superar a perda.

Não confundir, também, a depressão com o tipo de sofrimento decorrente de abandono, de maus-tratos, de falta de amor na infância. A depressão, ao contrário do que propõe a perspectiva teórica norte-americana autodenominada ego psychology (psicologia do ego), é uma posição do sujeito. Não deve ser confundida com o tipo de abatimento, ou de confusão mental, resultantes do que denominamos vulgarmente um trauma. É óbvio que a rede de proteção do psiquismo pode ser rompida por uma eventual invasão traumática do Real: guerras, calamidades, formas extremas de violência que recaem sobre uma pessoa indefesa na forma de magnitudes de energia tão intensas que o psiquismo é incapaz de simbolizar o ocorrido. Eventos traumáticos abatem o sujeito porque inutilizam a principal função da consciência, que é a de proteger o psiquismo dos estímulos inesperados do mundo real. Freud explicou a natureza dos sonhos traumáticos, que reproduzem repetidas vezes um evento violento sofrido pelo sujeito, como tentativas de simbolizar o trauma.

Mas mesmo as piores “desgraças da vida” recaem sempre sobre um sujeito, incidem sobre uma posição desejante e são rearticuladas pelas formações do inconsciente, que são formações da linguagem. Na clínica psicanalítica, observa-se com frequência que, a depender da posição assumida pelo sujeito, as consequências de uma agressão, uma perda ou uma calamidade podem ser muito diferentes: luto ou luta; abatimento ou ressentimento; melancolia, depressão, sublimação – a lista de possibilidades é infindável. A pior forma de abordar aquele que sofre é tratá-lo como mera vítima; ainda que, em alguns casos, o sujeito possa não ter tido nenhuma participação nas causas de seu sofrimento, o psicanalista deve ajudá-lo a superar ativamente o mal que o vitimou. A passividade, além de uma forma mortífera de gozo com a dor, é uma posição fatalista que impede a superação do trauma.

Pode parecer paradoxal, mas uma sociedade narcisista tende a favorecer o culto à vítima. A vítima está sempre preservada da responsabilidade, ou da participação, em relação às causas de seu sofrimento. Do ponto de vista do vitimismo, a cura das dores da vida, assim como da depressão, consistiria na eliminação de todo traço de “má notícia” que advenha do inconsciente. A vítima está a salvo do conflito e da divisão subjetiva, assim como da indagação sobre seu desejo. Ninguém mais íntegro do que uma vítima, do ponto de vista do narcisismo do eu. Nietzsche entendeu, com grande perspicácia, a pureza da vítima – a vítima está sempre alheia ao mal assim como, diria um psicanalista, figura-se como inocente diante do gozo. É sempre de fora, do outro, que advém a causa de seu sofrimento[3].

A ideia de que os depressivos sejam meras vítimas dos acidentes da vida é compatível não apenas com a ilusão narcisista a respeito da pureza e da integridade dos sujeitos, mas também com os interesses da indústria farmacêutica, que visa eliminar rapidamente as expressões do mal-estar para tornar os deprimidos, os tristes, os enlutados e os entediados aptos a produzir e, principalmente, a consumir. A psiquiatria e a indústria farmacêutica aliam-se nesta luta pela eliminação da subjetividade. “Assistimos a um conluio curioso entre a descrição psiquiátrica e a própria queixa do deprimido”, escreve Daniel Delouya[4]. “A ignorância a respeito do psíquico une o fenômeno depressivo com a parafernália nosográfica da psiquiatria.” O autor é crítico em relação a esta perspectiva, assim como em relação ao ideal de remoção química de toda a dor de existir. “Nós patologizamos o curável. Quando existir uma droga contra a violência, ela será encarada como uma doença.”

Mas justamente porque a depressão vem expor, a uma sociedade que não quer saber nada sobre o psíquico, a “má notícia” de que as formações do inconsciente resistem à domesticação farmacológica, entendo o crescimento atual das depressões como um sintoma social.

SINTOMA SOCIAL

Analisar as depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os depressivos constituam, em seu silêncio e seu recolhimento, um grupo tão incômodo e ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX. A depressão é a expressão de mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo generalizado. A depressão é sintoma social porque desfaz, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta e ordena a vida social desta primeira década do século XXI. Por isso mesmo os depressivos, além de se sentirem na contramão de seu tempo, veem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social de sua tristeza. Se o tédio, o spleen, o luto e outras formas de abatimento são malvistos no mundo atual, os depressivos correm o risco de ser discriminados como doentes contagiosos, portadores da má notícia que ninguém quer saber. “Entre nós, hoje em dia, o blues não é compartilhável”, escreve Colette Soler. “Uma civilização que valoriza a competitividade e a conquista, mesmo se em última análise esta se limite à conquista do mercado, tal civilização não pode amar seus deprimidos, mesmo que ela os produza cada vez mais, a título de doença do discurso capitalista[5].”

A falta de empatia que encontramos em nossa cultura em relação aos depressivos costuma ter, entre os adolescentes, efeitos catastróficos; não é incomum que meninos e meninas de 14, 15 anos, se precipitem em tentativas de suicídio (por vezes, fatais) não tanto em função da gravidade de seu quadro depressivo – que poderia muito bem ser um episódio passageiro, característico da chamada crise adolescente –, mas por não suportarem a imensa perda de autoestima, os sentimentos de incompreensão e de isolamento provocados pelo estigma da depressão, que afasta amigos e os torna alvo de chacotas e de sérios preconceitos. A depressão entre os adolescentes é a mais inconveniente expressão do mal-estar psíquico. Em função de sua disponibilidade para a novidade, para o consumo e a moda, os adolescentes foram escolhidos como garotos-propaganda das atuais sociedades de mercado. Deles se espera que estejam sempre dispostos a aceitar todas as ofertas de gozo, todas as formas de diversão, todas as engenhocas tecnológicas postas em circulação.

A popular crise adolescente perdeu seu antigo prestígio. A adolescência, transição entre a infância e a vida adulta criada pelas condições sociais da modernidade, sempre foi um período difícil de enfrentar. A não ser em função das obrigações escolares, o adolescente habita uma espécie de terra de ninguém, sem nenhuma função social relevante, dependente dos pais, limitado em sua liberdade sexual, improdutivo. Refiro-me a adolescentes das classes média e alta, que não precisam trabalhar para sobreviver. A crise adolescente é motivada pela dificuldade de substituir as referências da infância por novas referências significativas; daí a pergunta angustiada – “quem sou eu?” – que meninos e meninas se fazem, a partir dos 14, 15 anos. Angústia, sentimento de inutilidade e de vazio, desânimo, falta de amor-próprio etc. eram considerados, até pelo menos os anos 1970, características normais da passagem pela adolescência. O adolescente tinha direito a essa crise, e sentia certo orgulho em compartilhá-la com os amigos. Passar por uma crise, sentir angústia, ficar na “fossa” eram entendidos como sinais de maturidade. A infelicidade que o adolescente compartilhava com os amigos era prova de sua sensibilidade, de seu espírito crítico em relação ao mundo adulto, de seus ideais elevados. O adolescente que se deprimia não se desesperava, nem se isolava de seus companheiros, que sabiam escutá-lo e valorizar sua crise. Podiam se identificar com ele; ainda não viviam sob as ordens da sociedade do espetáculo.

Ocorre que, a partir dos movimentos jovens das mesmas décadas de 1960 e 1970, o mundo capitalista encontrou um lugar privilegiado para

os adolescentes: o de cidadãos com direito a novas experiências de consumo, assim como de novas e inesgotáveis modalidades de gozo. Pascal Bruckner, em A euforia perpétua, resume bem a questão:

O que ocorreu para que a crítica da sociedade de consumo tivesse tão rapidamente, a partir dos anos 1960, conduzido ao triunfo do consumismo? É que as palavras de ordem lançadas à época: “Tudo imediatamente”, “Morte ao tédio”, “Viver sem prorrogação e gozar sem entraves”, se aplicavam menos ao domínio do amor e da vida do que ao da mercadoria. Acreditava-se estar subvertendo a ordem estabelecida, mas favorecia-se com total boa-fé a propagação do mercantilismo universal. […] A intenção era libertária, o resultado foi publicitário: liberou-se menos a libido do que nosso apetite de compras sem limite, nossa capacidade de agarrar sem restrição todos os bens[6].

A adolescência, cujas pulsões sexuais até então deveriam ser fortemente reprimidas, tornou-se a idade de ouro da sociedade de consumo. A operação que Herbert Marcuse chamara, em Eros e civilização, de dessublimação repressiva, consistiu em fazer das forças pulsionais recém-liberadas o motor do impulso consumista. Seduzir é desviar alguém do seu caminho; ao transformar a antiga ordem repressiva em uma ordem regida pela sedução, o capitalismo liberal consolidou sua aliança com as forças do inconsciente e solidificou-se como o sistema produtivo como modo de dominação mais eficiente da história do planeta. Não se trata mais de pedir ao adolescente que se comporte, mas que se divirta. “Divertir-se é estar de acordo”, escreveu Adorno em 1947, antecipando o que Fredric Jameson viria a qualificar de colonização do inconsciente pelo capitalismo.

A adolescência do terceiro milênio não se parece mais com a travessia em terreno desconhecido que o sujeito empreende para se reencontrar – como o jovem Sidarta, personagem do livro de cabeceira dos adolescentes de trinta anos atrás. A adolescência contemporânea não é uma passagem: é uma chegada abrupta, talvez precoce, em um lugar privilegiado que os meninos e meninas não tiveram que conquistar.

A passagem por uma depressão, neste caso, tem um sentido muito diferente das crises adolescentes do século XX. Do ponto de vista do grupo social a que o adolescente pertence, a depressão é uma crise inconveniente a ser medicada com urgência para que o garoto ou garota volte a participar da festa dos incluídos. Aquele que se deprime, com maior ou menor gravidade, sente que falta sentido ao seu sofrimento, assim como faltam interlocutores solidários ou interessados em sua experiência.

Ouvi, de um psicanalista que também trabalha como psicólogo em um colégio de classe alta em São Paulo, que ao longo de seu primeiro ano na escola teve a oportunidade de conversar com cerca de quarenta meninos e meninas que haviam passado por algum acontecimento difícil: morte na família, separação dos pais, desemprego e queda de padrão de vida etc. A todos eles o psicólogo perguntara se haviam conversado sobre o que o afligia com algum amigo. Apenas um deles disse que sim. Os outros não entendiam o sentido de compartilhar seu sofrimento. “Para quê?” “Não tem nada a ver.” “Ninguém se importa…” E de um analisando de 19 anos que não se encorajava a enfrentar a fúria por diversão que caracterizava as baladas de sábado à noite: “Sinto-me como se em algum lugar houvesse uma festa fantástica, imperdível, onde todos os outros estão, mas eu nem ao menos sei o endereço”.

Mal sabe ele que grande parte de seus colegas que parecem tão bem adaptados à regra da euforia perpétua está apenas se esforçando para fazer um papel que não lhes diz respeito.

Mas os adolescentes também inventam suas novas estratégias de compartilhar o sofrimento. Talvez nas salas de bate-papo na internet, sob a proteção do anonimato, eles encontrem a possibilidade de conversar sobre as várias modalidades de tristeza que experimentam escondidos, envergonhados por se sentirem na contramão dos mandatos de gozo e prazer que imperam no imaginário de sua faixa etária.

Tudo o que é recalcado, sem acesso à simbolização, tende a retornar no Real. O crescimento alarmante do número de suicídios entre adolescentes de classe alta, nas grandes cidades brasileiras, demonstra dramaticamente que a crise da adolescência, hoje, lança os meninos e meninas em um isolamento social e em um sentimento de inadequação insuportáveis. A mesma rede virtual que abriga as salas de bate-papo onde os adolescentes podem compartilhar suas angústias oferece sites e salas que incentivam e orientam os que pensam em se suicidar. A estetização do suicídio é a face bárbara do retorno do recalcado em uma sociedade que proíbe a dor, silencia sobre o mal-estar e faz da tristeza uma praga perigosa a ser “curada” com o emprego de drogas pesadas.

Por que privilegio a adolescência ao abordar o fenômeno depressivo na vida contemporânea? Porque o adolescente, por sua posição particular no laço social, está mais sujeito a absorver inconscientemente as formações ideológicas de seu tempo, assim como a reagir em ato às contradições que o capturam. Não importa se a passagem ao ato adolescente é de natureza violenta, transgressiva, autodestrutiva ou silenciosa (como nas crises de depressão). O importante é que as passagens ao ato indicam dificuldades de simbolização. Situados precariamente entre a infância e a vida adulta, os adolescentes são muito mais dependentes das limitações e fantasias dos pais do que eles próprios conseguem perceber; ao mesmo tempo, convidados a ocupar espaço no teatro do mundo, potentes sexualmente e impotentes como sujeitos da ação política, os adolescentes sofrem de falta de referências, tanto éticas quanto identitárias.

A poeta brasileira Ana Cristina César criou uma formulação luminosa para se referir à posição periclitante do adolescente: “É muito mais difícil ancorar um navio no espaço[7]”.

Talvez sejam eles os representantes mais numerosos da forma de mal-estar que Alain Ehrenberg chamou de fatigue d’être soi même[8]. As referências que se produzem através da transmissão entre as gerações – mesmo quando contestadas pelos jovens – perderam sentido sob o império da novidade, da obsolescência programada das mercadorias que obriga o sujeito, sempre na posição de consumidor, a renovar continuamente os objetos e as atitudes associadas a eles (pois são os objetos que comandam nossas atitudes, e não o inverso). Os adolescentes, em fase de construção de novas identificações e novas referências, veem-se diante da missão impossível de construir o ser a partir do nada. Ehrenberg considera que o aumento das depressões resulta de uma espécie de “fadiga identitária”. Para o autor, a sociedade contemporânea caracteriza-se por uma dinâmica “cujas duas faces são a liberação psíquica e a insegurança identitária”.

Se a liberação psíquica foi rapidamente capturada pela publicidade, a insegurança identitária manifesta-se sob a forma de síndromes do pânico, de depressões, que a indústria farmacêutica apressou-se em domesticar. Ehrenberg é pessimista quanto aos resultados dessa empreitada:

As novas moléculas não são mais eficazes que as antigas, a porcentagem de depressões resistentes não diminuiu, os efeitos sobre os pacientes são aleatórios, estamos longe [da descoberta] de uma molécula que possibilite o domínio dos afetos […] segundo nossos gostos.

O que resultou dos milagres da farmacologia com a transformação da depressão em uma doença crônica[9]?

Analisar o aumento significativo das depressões como sintoma do mal-estar social no século XXI significa dizer que o sofrimento dos depressivos funciona como sinal de alarme em relação àquilo que faz água na grande nau da sociedade maníaca em que vivemos. Que muitas vezes as simples manifestações de tristeza sejam entendidas (e medicadas) como depressões graves só faz por confirmar esta ideia. A tristeza, os desânimos, as simples manifestações da dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta na euforia como valor agregado a todos os pequenos bens em oferta no mercado.

Do direito à saúde e à alegria passamos à obrigação de sermos felizes, escreve Danièle Silvestre. A tristeza é vista como uma deformidade, um defeito moral, “cuja redução química é confiada ao médico ou ao psi[10]”. Ao patologizar a tristeza, perde-se um importante saber sobre a dor de viver. Aos que sofreram o abalo de uma morte importante, de uma doença, de um acidente grave, a medicalização da tristeza ou do luto rouba ao sujeito o tempo necessário para superar o abalo e construir novas referências, até mesmo outras normas de vida mais compatíveis com a perda ou com a eventual incapacitação. Aos que verdadeiramente se deprimem, as tentativas de cura através de psicofármacos correm o risco de atropelar o tempo psíquico de que o sujeito necessita para recuperar sua capacidade de simbolização e superar o sentimento de vazio que o abate.

Talvez aqueles que, na contramão das promessas de quimioterapias milagrosas, procuram a psicanálise estejam em busca de tempo. A psicanálise, com sua lentidão inegociável, pode representar a esperança de um (re)encontro com a temporalidade perdida. A delicadeza da vida subjetiva das crianças, adolescentes e adultos, exige uma relação mais distendida com o tempo; episódios de luto ou de conflito próprios da infância e da adolescência podem custar a perda de um ano escolar, o mau desempenho em atividades esportivas ou mesmo a perda de popularidade entre os amigos de escola – motivo de importante dor narcísica em uma sociedade em que o valor de cada um é avaliado a partir do “valor de gozo” que o grupo social lhe confere. Mas é importante que os pais suportem o tempo de que seus filhos necessitam para atravessar e superar a crise, assim como o preço em popularidade, ou em competitividade, que isso há de custar. São os pais, e não as crianças, que não suportam que seus filhos estejam expostos aos conflitos e crises inevitáveis da vida, assim como não toleram a ideia de que as vicissitudes da vida subjetiva possam deixá-los para trás na corrida precoce por boas colocações no futuro. São os pais que se apressam a medicar o sofrimento de seus filhos de modo a (re)ajustá-los rapidamente às exigências da vida escolar e dos ideais da vida social.

O PAPEL DOS LABORATÓRIOS NOS ÍNDICES DE AUMENTO DAS DEPRESSÕES

Da década de 1990 em diante, o diagnóstico psiquiátrico das depressões, que a psicanálise vem tentando recuperar para seu campo de investigação, tomou o lugar que fora da melancolia até as primeiras décadas do século XIX[11]. Depressão é o nome contemporâneo para os sofrimentos decorrentes da perda do lugar dos sujeitos junto à versão imaginária do Outro. O sofrimento decorrente de tais perdas de lugar, no âmbito da vida pública (ou pelo menos, coletiva), atinge todas as certezas imaginárias que sustentam o sentimento de ser. O aumento da incidência dos chamados “distúrbios depressivos”, desde as três últimas décadas do século XX, indica que devemos tentar indagar o que as depressões têm a nos dizer, no lugar até então ocupado pelas antigas manifestações da melancolia, como sintomas das formas contemporâneas do mal-estar. Em 1970, em um colóquio internacional dedicado às depressões em Nova York, o psiquiatra Heins Lehmann divulgou uma projeção segundo a qual a depressão estaria se tornando a doença mental de maior expansão no planeta, atingindo 3% da população mundial, equivalente na época a cem milhões de pessoas[12]. Na década seguinte, na França, o número de depressivos teria aumentado em 50%[13].

Em 1994 o relatório DSM-IV, quarta versão do Manual estatístico e diagnóstico das doenças mentais publicada nos Estados Unidos, estimou que a “depressão unipolar” (um quadro predominantemente depressivo, diferente dos ciclos alternados característicos da melancolia freudiana, hoje chamados transtornos “bipolares[14]”) teria sido, em 1990, “a principal causa de anos vividos com incapacitação” em países desenvolvidos[15]. O DSM-IV aponta um crescimento em taxas epidêmicas dos diagnósticos de depressão nos países industrializados. Só nos Estados Unidos, estima-se que 3% da população norte-americana sofre de depressão crônica – cerca de 19 milhões de pessoas, dos quais 2 milhões são crianças. Outros estudos norte-americanos, como o NCS (National Comorbidity Survey), estimam a prevalência da depressão na determinação do tempo de vida para 17% da população do país[16]. A depressão é a principal causa de incapacitação em pessoas acima de 5 anos de idade. Quinze por cento das pessoas deprimidas deverão cometer suicídio. Os suicídios entre jovens e crianças de 10 a 14 anos nos EUA aumentaram 120% entre 1980 e 1990. No ano de 1995, mais jovens norte-americanos morreram por suicídio do que da soma de câncer, Aids, pneumonia, derrame, doenças congênitas e doenças cardíacas.

O que mais nos espanta, diante desses números, é que vivemos em uma sociedade que parece essencialmente antidepressiva, tanto no que se refere à promoção de estilos de vida e ideais ligados ao prazer, à alegria e ao cultivo da saúde quanto ao que se refere à oferta de novos medicamentos no combate às depressões. No entanto, esta forma de mal-estar tende a aumentar, na proporção direta da oferta de tratamentos medicamentosos: há vinte anos, 1,5% da população dos Estados Unidos sofria de depressões que exigiam tratamento. Já no século XXI este número subiu para 5%, e a OMS divulgou que os “transtornos depressivos” tornaram–se a quarta causa mundial de morte e incapacidade, atingindo cerca de 121 milhões de pessoas no planeta – sem contar, evidentemente, os que nunca se fizeram diagnosticar. O aumento das depressões entre crianças, adolescentes e jovens também indica que as depressões tomaram o lugar de sintoma emergente do mal-estar na civilização que, no século XIX, fora ocupado pela histeria.

A revista Época de 5 de junho 2006 publicou outra pesquisa, da Associação Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência, segundo a qual se estima que 1 em cada 33 crianças norte-americanas sofra de depressão. Na adolescência, o número salta para uma em oito. Um estudo da Universidade de Washington apresentado no Congresso da Academia Americana de Psiquiatria avaliou que os sintomas depressivos foram encontrados em 7% das crianças entre 4 e 7 anos, o que representa um aumento de 98% em dez anos. “Fatores estressantes”, como o aumento do número de compromissos na vida das crianças pequenas, foram incluídos entre as causas mais tradicionais do sofrimento infantil, como a herança genética e a estrutura familiar. Vale observar que tais “fatores estressantes” pertencem exatamente ao estilo de vida atribulado e supostamente estimulante que os pais impõem a seus rebentos, de modo a prepará-los desde cedo para a disputa feroz por boas colocações no mercado de trabalho. Crianças que desde pequenas se acostumam a um cotidiano de agenda cheia, no mesmo estilo de seus pais, são privadas do tempo ocioso indispensável ao desenvolvimento da fantasia, do devaneio, da invenção de brincadeiras que não só proporcionam prazer legítimo como emprestam encanto à vida, para muito além da infância. Para Donald Winnicott[17], fantasiar e brincar são atividades fundamentais para que a criança desenvolva confiança em sua capacidade criativa de enfrentar as dificuldades da vida.

Coerentemente, estes pais que não toleram que seus filhos descubram ou inventem por conta própria estratégias criativas para lidar com o vazio são os mesmos que, por ansiedade ou por amor, se apressam a levá-los a um psiquiatra que lhes prescreva medicamentos para atravessar todas as crises e percalços da existência.

O recurso ao tratamento farmacológico como único modo de enfrentar as diversas manifestações da dor de viver é alarmante. Em novembro de 2006 o jornal Folha de S.Paulo reproduziu uma reportagem do New York Times sob o título “Hipermedicação de crianças alarma os EUA[18]”, relatando o abuso de medicamentos psiquiátricos utilizados por pais de crianças supostamente hiperativas ou depressivas, tratadas com “coquetéis de drogas” por pais desorientados, ou mal orientados por médicos e psiquiatras, sem atentar para os efeitos colaterais de tais excessos.

No ano passado, nos EUA, cerca de 1,6 milhão de crianças e adolescentes, 280 mil dos quais com menos de 10 anos, receberam tratamento por meio de combinações de ao menos dois medicamentos psiquiátricos, de acordo com uma análise conduzida pela Medco Health Solutions a pedido do NYT. Mais de 500 mil crianças usaram combinações de pelo menos três medicamentos, e mais de 160 mil tinham receitas para quatro remédios combinados.

A reportagem se encerra com dados da Medco segundo os quais, entre 2001 e 2005, o uso de medicamentos antipsicóticos para tratamento de crianças e adolescentes cresceu 73%.

Em julho de 2007 a mesma Folha de São Paulo publicou um estudo citado na revista norte-americana Archives of General Psychiatry[19] que indica que o número de crianças e adolescentes diagnosticados como portadores de “transtorno bipolar” nos EUA aumentou 40 vezes em nove anos (entre 1994 e 2003): de 25 a cada 100 mil pacientes até 19 anos, entre 1994 e 1995, para 1.003 a cada 100 mil pacientes na mesma faixa etária, entre 2002 e 2003. De acordo com os psiquiatras entrevistados no artigo citado pela Folha, tal aumento, chamado de “surto” no título, indica apenas um aperfeiçoamento dos métodos diagnósticos dos transtornos bipolares.

Mas há, ainda, a vontade desesperada de alguns pais de enquadrarem o comportamento explosivo de seus filhos em uma definição clínica e, na opinião de alguns críticos, a pressão das indústrias farmacêuticas – já que as drogas indicadas para o transtorno são bem mais caras do que as empregadas contra ansiedade ou depressão[20].

Em 90,6% dos casos, foi prescrita medicação para as crianças e adolescentes diagnosticados como bipolares. O psiquiatra Mark Olfson, do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, prudentemente sugere que, antes de pensar em medicar seus filhos, os pais deveriam aprender a lidar com seus ataques de raiva e suas crises de desânimo. Embora Olfson não questione o diagnóstico psiquiátrico de bipolaridade, não deixa de ser corajosa sua posição, ao convidar os pais de crianças-problema a assumir seu lugar de educadores responsáveis por ajudar seus filhos a atravessar as crises e conflitos da vida, com seus inevitáveis altos e baixos de fúria e desânimo, onipotência e inapetência de viver, antes de pensar em “estabilizar o humor” das crianças à base de medicamentos. Quanto ao Brasil, a reportagem de Márcio Pinho, na mesma edição, sugere que o menor aumento do número de crianças e adolescentes bipolares se deve à insuficiência de diagnósticos. Ainda assim, no Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, do HC de São Paulo, o número de pacientes atendidos saltou de 22, em 1995, para 135 em 2007.

Não é possível precisar se todos esses crescimentos estatísticos revelam um aumento epidêmico das depressões (assim como dos transtornos bipolares e da hiperatividade infantil), um aperfeiçoamento de métodos diagnósticos, uma estratégia de expansão da indústria farmacêutica ou, na pior das hipóteses, uma atuação conjunta de todos esses fatores. Alguns psiquiatras preocupam-se com a possibilidade de que o desenvolvimento de medicamentos cada vez mais especializados venha provocando uma falência teórica no seio da psiquiatria, que já não conta com hipóteses etiológicas para a compreensão das doenças mentais. Medicam-se comportamentos, detectados um a um através das exaustivas tabelas propostas pelo DSM-IV; o diagnóstico se estabelece a posteriori, a depender do sucesso da medicação. Como o número de comportamentos incluídos entre os indicadores de depressão é cada vez maior, o diagnóstico vem se tornando cada vez mais impreciso.

A partir do momento em que não se sabe mais definir a depressão, mas que se dispõe de antidepressivos eficazes, manejáveis e que agem bem sobre o humor depressivo, seja este inibido ou ansioso, como definir esta patologia a não ser como aquela que os antidepressivos curam? Neste caso, a noção de conflito perde totalmente o interesse para guiar o diagnóstico. De fato, o paradigma descritivo se substitui ao paradigma etiológico[21].

O mais expressivo representante desta concepção utilitária da vida humana é o psiquiatra norte-americano Peter Kramer, que desde o final da década de 1990 propôs que não há nenhuma razão para que as medicações do “bem-estar” sejam ministradas apenas àqueles que se dizem doentes. Secundado no Brasil pelo psiquiatra Valentin Gentil, do HC de São Paulo, Kramer defende uma “medicina de comportamentos”; já não se trata de tentar curar o sujeito, nem mesmo a pessoa, mas pontualmente substituem-se comportamentos indesejáveis por outros, mais adequados. Dessa forma, não há razão para não se oferecerem medicamentos também às pessoas consideradas “normais”, de modo a eliminar um ou outro comportamento indesejado, um ou outro estado de humor desagradável, e assim possibilitar a conquista de um estado de ânimo estável e sem conflitos, uma saúde mental “melhor que bem”. O psicanalista André Green qualificou esta corrente pragmática de “psiquiatria veterinária[22]”.

Na mesma linha de raciocínio, alguns psiquiatras, nos debates de que tenho participado, apontam um elemento importante que pode falsear os números sobre o aumento das depressões nos países industrializados: as novas estratégias de vendas dos laboratórios farmacêuticos não se limitam à divulgação dos novos remédios lançados no mercado. A ênfase dos panfletos distribuídos nos consultórios de médicos e psiquiatras recai sobre os novos critérios de diagnóstico das depressões, de modo a incluir um número crescente de manifestações de tristeza, luto, irritabilidade e outras expressões de conflito subjetivo entre os “transtornos” indicativos de depressão a serem tratados com o emprego de medicamentos.

Assistimos, assim, a uma patologização generalizada da vida subjetiva, cujo efeito paradoxal é a produção de um horizonte cada vez mais depressivo. Embora o aperfeiçoamento das novas medicações ofereça um auxílio precioso ao analista no tratamento das depressões, a psicanálise não pode e não deve ser excluída desta abordagem. Onde quer que se encontre, encolhido pela depressão, o sujeito, é lá que o analista deve ir buscar a expressão significante de seu sofrimento. Não importa quanto ele demore até ter vontade ou forças para dirigir a palavra ao analista. O projeto pseudocientífico de subtrair o sujeito – sujeito de desejo, de conflito, de dor, de falta – a fim de proporcionar ao cliente uma vida sem perturbações, acaba por produzir exatamente o contrário: vidas vazias de sentido, de criatividade e de valor. Vidas em que a exclusão medicamentosa das expressões da dor de viver acaba por inibir, ou tornar supérflua, a riqueza do trabalho psíquico – o único capaz de tornar suportável a dor inevitável diante da finitude, do desamparo, da solidão humana, e lhe dar sentido.

As classificações em forma de transtornos oferecidas pelos DSM norte-americanos e pelo CID-10, da Organização Mundial da Saúde, fazem obstáculo a qualquer tentativa de abordagem metapsicológica desta forma epidêmica de sofrimento psíquico. Com quantos “transtornos” se faz uma depressão? O relatório da Organização Mundial da Saúde começa pelos transtornos do humor, que serão os primeiros a identificar o padecimento daqueles que se dizem depressivos. “Estados de ânimo depressivos” e “perda de interesse ou de capacidade para o prazer” são os primeiros critérios para a classificação dos TDM (transtorno de depressão maior)[23]. Segue-se uma lista de “transtornos” que podem caracterizar várias outras formas de sofrimento psíquico: insônia, fadiga, sentimentos de culpa e de inutilidade, diminuição do apetite, das funções sexuais, da sociabilidade, do pensamento (por exemplo, indecisão e incapacidade de concentração – sintomas frequentes também, como se sabe, entre neuróticos obsessivos).

Nos congressos internacionais de psiquiatria patrocinados pelos grandes laboratórios, mais do que a propaganda de novos produtos lançados no mercado, o que se divulga são novos métodos diagnósticos capazes de detectar os menores sinais de distúrbios depressivos. Trata-se de instruir os médicos e psiquiatras a detectar a depressão, assim como outros distúrbios medicalizáveis, a partir de praticamente todas as queixas de seus pacientes: diminuição do apetite, oscilações do humor, insônia ou excesso de sono, fadiga, pessimismo, desânimo, inapetência sexual…

A longa lista de sintomas de depressão divulgada em um folheto do laboratório Wyeth[24], por exemplo, inclui: tristeza, ansiedade, irritabilidade, medo, insegurança, indecisão, falta de prazer, fadiga, redução na autoestima e na capacidade de concentração, visão pessimista do futuro, sono e apetite perturbados, queixas físicas variadas, diminuição do apetite sexual além de, evidentemente, desejos suicidas. Sintomas semelhantes, acrescidos do vago e popular estresse, de preocupação excessiva e dores nas costas, constam de um folheto distribuído pelo laboratório Lilly, que convida o leitor a autodiagnosticar-se a partir de uma lista desenvolvida pela Universidade de Michigan. Por precaução, o autor do folheto recomenda que depois de preencher a lista o leitor procure a ajuda de um médico antes de concluir seu próprio diagnóstico. Outro folder, do LIBBS, depois de listar mais ou menos a mesma série de sintomas, dedica algumas linhas às “causas da depressão”: hereditariedade, “vulnerabilidade biológica” e alterações químicas nos neurotransmissores indicam que a depressão se situa entre as doenças do corpo a serem curadas com medicamentos. Mas “fatores ambientais” e diversos incidentes tristes da vida também participam da lista.

É importante notar que esses folhetos não são apenas distribuídos entre médicos e psiquiatras, mas também entre leigos, como forma de ajudá-los a detectar os primeiros sintomas de depressão e não demorarem a procurar tratamento. A divulgação, para o público leigo, da importância do diagnóstico precoce e do valor do tratamento farmacológico para todas as manifestações de tristeza que se pareçam com as depressões também tem um efeito expressivo no aumento de pessoas que procuram os consultórios dos psiquiatras dizendo-se deprimidas. “Em muitos casos, o que se fala é que uma tristeza mais profunda, mas passageira, passou a ser vista como depressão”, escreve Chris Martinez em reportagem para o jornal Valor[25]. A ideia que se propaga neste caso é de que as dores da vida deveriam ser todas dispensadas, eliminadas por meio de medicação, em busca de um grau ótimo de eficiência existencial. “O importante é que as pessoas tenham bem-estar e se aliviem das tensões que as acometem no dia a dia”, declarou à reportagem do Valor um psiquiatra do hospital Albert Einstein. Como não associar esta busca do conforto psíquico a qualquer preço com a atitude fatalista e a recusa a enfrentar conflitos que se encontram na origem das depressões?

Diante de tal unanimidade, o psiquiatra e pesquisador inglês David Healy, ex-secretário da Associação Britânica de Psicofarmacologia, lançou em 2004 Let them eat Prozac: the unhealthy relationship between the pharmaceutical industry and depression[26], em que contesta o mito criado pelas companhias farmacêuticas, segundo o qual as causas das depressões se reduzem à falta do neurotransmissor serotonina no cérebro. Healy também presta aos leitores o importante serviço de divulgar os efeitos colaterais do uso contínuo de antidepressivos, a começar de graves sintomas de dependência que, segundo o autor, as companhias farmacêuticas procuram justificar como se fossem efeitos da própria depressão. Além deste problema, os psicanalistas percebem com frequência que os tratamentos com antidepressivos deixam de fazer efeito depois de algum tempo, deixando o usuário em um estado crônico de desafetação sem dor, mas também sem desejo. “Já não sinto nem a depressão nem mais nada”, disse-me uma conhecida que, depois de uma década tomando Efexor, pediu uma indicação de analista. Estudos recentes revelaram também que o impacto benéfico dos medicamentos baseados na fluoxetina só é significativo para pacientes gravemente deprimidos[27].

A VIDA COMO INVESTIMENTO SEGURO

À aparente eficiência dos tratamentos medicamentosos soma-se a paixão pela segurança[28] que caracteriza a sociedade contemporânea, na qual a ideia de que a vida seja um percurso pontuado por riscos inevitáveis produz uma espécie de escândalo. A aliança entre os ideais de precisão científica e os de eficiência econômica produz uma versão fantasiosa da vida humana como um investimento no mercado de futuros, cujo sentido depende de se conseguir garantir, de antemão, os ganhos que tal investimento deverá render. É evidente, de acordo com a lógica subjacente a este projeto, que o campo incerto da subjetividade, tributário do movimento errante do desejo inconsciente, deve ser reduzido à sua dimensão mais insignificante a fim de que nenhum rodeio inútil se interponha entre cada projeto de vida e sua meta final. Tal desvalorização dos meios (e dos rodeios, dos descaminhos, da errância e de todas as formas de digressão que permitem certo usufruto desinteressado do tempo) em favor de uma finalidade urgente e inquestionável favorece o sentimento genuinamente depressivo de desvalorização da vida.

A infindável listagem dos transtornos indicativos dos diagnósticos de depressão poderia incluir também importantes transtornos existenciais, expressos através das (poucas) palavras daqueles que se queixam, nos consultórios dos psicanalistas, de que suas vidas não fazem sentido e não valem a dor de viver. Além disso, encontramos com frequência, entre os depressivos, transtornos na percepção temporal revelados por aqueles que sentem que o tempo cotidiano, sem a sustentação de uma fantasia a respeito do futuro, tornou-se um tempo estagnado, um tempo que não passa. Transtornos da esperança trazem graves efeitos colaterais de resignação e fatalismo, sintomas da anulação do sujeito (do desejo) quando ele vive a impressão, ou a certeza, de que sua existência não há de fazer nenhuma diferença no curso “natural” de uma vida que não lhe pertence, pois já está desde sempre determinada por interesses e poderes planetários imunes aos efeitos da ação política. Sem contar transtornos da imaginação, colonizada pela indústria onipresente do espetáculo. Ou seja: o que importa, no estudo das depressões, é entender em que consiste

o nó que amarra o conjunto de “transtornos” que se manifestam, acima de tudo, pela via da palavra, ainda quando tais incidências da linguagem atinjam também o funcionamento do corpo erógeno.

CEDER EM SEU DESEJO

Talvez seja possível ensaiar uma abordagem efetivamente teórica e buscar uma hipótese comum a esta série interminável e fragmentária de transtornos que não devem, nem podem, ser medicados ou escutados um a um. Escolho, para começar, a hipótese lacaniana que relaciona a depressão a uma posição específica do sujeito. Demissão subjetiva foi como Lacan designou a posição do sujeito que se deprime: aquele que sofre da única culpa justificável, em psicanálise: a culpa por ceder em seu desejo. Não se trata de supor que a alternativa para as depressões seria o domínio egoico e consciente do objeto do desejo. O desejo, em psicanálise, é por definição inconsciente – e seu objeto, perdido.

O modo como cada sujeito se posiciona ante o objeto cuja perda faz dele a causa do desejo determina sua posição subjetiva. Na tentativa de evitar uma perda que já ocorreu, o neurótico negocia seu desejo em troca da demanda do Outro. Explico: em vez de se responsabilizar pela sua condição sempre “desejante” e inventar objetos que possam satisfazer, ainda que precariamente, o desejo (numa busca que acompanha a vida inteira), os neuróticos preferem se colocar a serviço do desejo de um Outro. Escrevo Outro com maiúscula pois é assim que Lacan designa não só o lugar simbólico da linguagem como os seres que introduzem a criança na linguagem. O Outro primordial é a mãe, primeira mediadora do contato do bebê com o mundo. Seguem-se o pai, os professores, os ídolos, as autoridades, os deuses – enfim, todos os seres, reais ou inventados, sobre os quais recai uma suposição de saber.

O que o neurótico pergunta ao Outro é: “O que você quer de mim?”. É fácil perceber a inversão que resulta desta operação: ao se colocar a serviço da demanda do Outro, o sujeito tenta esquivar-se do duro destino de desejar. Não é ele quem quer, é o Outro. Ele apenas tenta obedecer. A fantasia de conseguir oferecer ao Outro o que lhe falta é uma tentativa de reverter o efeito da castração. Se eu for o objeto privilegiado de satisfação do Outro, nada me faltará.

Desta posição sobre a qual se sustenta a própria estrutura neurótica, todo sujeito, forçosamente, deverá cair – se não na vida, certamente ao longo de uma análise. Mas o depressivo é aquele que se deixa cair, ou – tomo de empréstimo a expressão de Mauro Mendes Dias[29] – aquele que “cai antes da queda”. Ele nem tenta enfrentar o desafio de servir ao gozo do Outro; não por uma constatação, que poderia ser realista, sobre a inutilidade da empreitada. Ele não tenta porque desiste antes. Prefere recolher-se. Há uma covardia neste deixar-se cair, uma covardia no que toca ao enfrentamento com a castração – já que o neurótico pelo menos se arrisca a fracassar no projeto de satisfazer o Outro.

No que toca à demissão subjetiva, o que varia de um sujeito a outro não é o maior ou menor “conhecimento” do objeto do desejo, mas o compromisso – ou não – com a condição desejante, através das escolhas de vida que representam o que mais importa para cada um. A via do compromisso com o desejo é a única via não alienada de produção de sentidos para a vida, ou seja, a única cuja escolha não serve a um suposto desígnio do Outro. O desejo, em Lacan, é “metonímia do nosso ser”. À impossibilidade de reencontro com a totalidade do ser, para sempre perdido, as moções do desejo representam o ser a partir de pequenos fragmentos, de frações metonímicas, como as ruínas das grandes edificações desaparecidas permitem deduzir que um dia elas estiveram inteiras, ali. Ceder desta dimensão equivale assim a desistir de ser.

O que chamo ceder de seu desejo acompanha-se sempre, no destino do sujeito, […] de alguma traição. Ou o sujeito trai sua via, se trai a si mesmo […]. ou, mais simplesmente, tolera que alguém com quem ele se dedicou mais ou menos a alguma coisa tenha traído sua expectativa, não tenha feito com respeito a ele o que o pacto comportava, qualquer que seja o pacto […], pouco importa. Algo se desenrola em torno da traição, quando se a tolera, quando, impelido pela ideia do bem – quero dizer, do bem daquele que traiu – se cede a ponto de diminuir suas próprias pretensões e dizer-se: “Pois bem, já que é assim, renunciemos à nossa perspectiva” […]. Aqui, vocês podem estar certos de que se reencontra a estrutura que se chama ceder de seu desejo[30].

Esta seria, para Lacan, a única causa justificada dos sentimentos de culpa; não a culpa do neurótico em dívida para com as pretensões incestuosas que o supereu herdou do complexo de Édipo, mas a culpa daquele que se deprime, que se vê abatido e sem razão de viver porque intui que traiu a si mesmo, traiu a via que o representava como sujeito de um desejo marcado pelo significante. E, se ele traiu, pensa Lacan, foi sempre na tentativa de responder a um ideal de Bem – um ideal cristão? – que coloca o bem do outro à frente do bem do sujeito: “pois, se é preciso fazer as coisas pelo bem, na prática deve-se deveras sempre perguntar pelo bem de quem[31]”.

Neste ponto, é preciso fazer um pequeno rodeio. A culpa de ceder de seu desejo supõe uma condição subjetiva particular, muito característica do que venho chamando do indivíduo moderno: a condição de que a verdade do sujeito esteja em desacordo com o que seu meio social estabeleceu como sendo o Bem. Este desacordo entre o sujeito e o Bem pode ocorrer em qualquer época, em qualquer cultura. Mas, nas condições da modernidade, até mesmo de nossa modernidade tardia, ele se generaliza. Arrisco afirmar que, nas condições anteriores à modernidade, o Bem não seria necessariamente incompatível com a verdade de um sujeito uma vez que este se reconheceria, acima de tudo, como partícipe da mesma tradição a partir da qual este Bem se estabelecera. É quando as tradições perdem a força de determinar os destinos das novas gerações; quando a Verdade deixa de ser entendida como revelação divina e se multiplica em versões parciais e saberes especializados; quando o Outro deixa de estar representado, imaginariamente, por uma única e incontestável figura de autoridade, que o indivíduo é obrigado a se afirmar como centro de suas referências e a se responsabilizar por estabelecer alguma concordância entre a verdade do ser e o Bem, entendido como convicção coletiva estabilizadora do laço social.

Dito de outra forma: é na modernidade que a verdade do sujeito advém do inconsciente. O sujeito da psicanálise se constitui como efeito da operação de recalque necessária para separá-lo do gozo do Outro. Desta operação resulta a ignorância do indivíduo (este, compreendido como uma função do eu) a respeito da verdade que sustenta seu desejo[32]. Em Freud o recalque primário que funda o inconsciente é entendido como condição universal da fundação do sujeito[33]. Não é esta, portanto, a condição do inconsciente afetada pelas transformações do laço social ao longo da história.

O que varia da passagem das sociedades tradicionais para a modernidade é, por um lado, o estatuto imaginário do Outro, que se fragmenta em inúmeras representações. Por outro lado, aumenta a responsabilidade do eu – que se individualiza – por suas escolhas, o que favorece a culpa neurótica[34].

Lacan, em sua formulação, inverte a razão do que o senso comum entende como culpa moral: em vez de se abater por ter se deixado levar para longe do caminho do Bem, entendido como organizador supremo das regras morais, o depressivo da psicanálise sente-se derrotado por ter cedido de um bem muito mais precioso, o caminho singular e intransferível de comunhão com a força inconsciente que o sustenta.

A depressão, em Lacan, é indissociável do sentimento fatalista que se encontra no centro das reflexões de Walter Benjamin sobre as causas da melancolia[35].

Mas esta não é a única razão pela qual os depressivos continuam a chegar aos consultórios dos psicanalistas. Alguns porque já não suportam o empobrecimento da vida interior produzido pelo uso prolongado de antidepressivos. Outros porque julgam que as várias experiências com psicofármacos não surtiram o efeito esperado, ou deixaram de fazer efeito depois de um período de uso mais ou menos prolongado – o que é mais frequente do que se acredita. Ou ainda porque o tratamento medicamentoso não foi capaz de torná-los totalmente inapetentes para falar e eles vêm em busca de escuta, quando não de “bons conselhos”, sem saber que em pouco tempo estarão mais interessados em escutar a si mesmos do que em “aprender” a atender a demanda do Outro a partir do suposto saber do analista.

Em uma sociedade na qual as formações discursivas apagam o sujeito do inconsciente, em que a felicidade e o sucesso são imperativos superegoicos, a depressão emerge – como a histeria na sociedade vitoriana – como sintoma do mal-estar produzido e oculto pelas condições imaginárias que sustentam o laço social. O vazio depressivo, que em muitas circunstâncias pode ser compensado pelo trabalho psíquico, é agravado em função do empobrecimento da subjetividade, característico das sociedades consumistas e altamente competitivas. A “vida sem sentido” de que se queixam os depressivos só pode ser compensada pela riqueza do trabalho subjetivo, ao preço de que o sujeito suporte, amparado simbolicamente pelo analista, seu mal-estar. A eliminação farmacológica de todas as formas de mal-estar produz também, paradoxalmente, o apagamento dos recursos de que dispomos para dar sentido à vida.

Notas

  1. Alusão ao título do livro de Georges Perec, 2009.
  2. Andrew Solomon, O demônio do meio-dia, Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
  3. Ver Maria Rita Kehl, Ressentimento, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
  4. Daniel Delouya, Depressão, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000, p. 24. Kehl, Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
  5. Colette Soler, Des Mélancolies, Paris: Éditions du Champ Lacanien, 2002, p. 105.
  6. Cf. Pascal Bruckner, A euforia perpétua: ensaio sobre o dever da felicidade, Rio de Janeiro: Difel, 2002, tradução de Rejane Janowitzer, p. 59.
  7. Ana Cristina César, “Adolescência”, A teus pés. São Paulo: Brasiliense, 1982.
  8. Alain Ehrenberg, La fatigue d’être soi: dépression et société, Paris: Odile-Jacob, 2000.
  9. Ibidem, p. 269.
  10. Danièle Silvestre, “L’obligation au bonheur (ou le devoir d’être Heureux). Em: Colette Soler (org.), Des Mélancolies, op. cit. pp. 47-52.
  11. Para um bom resumo dos diagnósticos psiquiátricos das depressões a partir do DSM-IV ver: Luis Hornstein: Las Depressiones; afectos y humores del vivir. Buenos Aires: Paidós, 2006. Ver também Bernard Granger: “Les Français n’ont jamais autant consomméd antidépresseurs”. Em: Granger, La Depression. (Idées Reçues), Paris: Le Cavalier Bleu, 2006.
  12. Citado por Alain Ehrenberg, La fatigue d’être soi: dépression et société, p. 138.
  13. Ibidem, p. 231.
  14. É importante questionar a precisão do termo psiquiátrico bipolar, associado sempre a depressões graves já que podemos observar oscilações bipolares também na histeria e na neurose obsessiva. O diagnóstico não deve se basear nos sintomas, mas em hipóteses sobre a estrutura clínica de cada paciente.
  15. Cf. Paulo Rossi Menezes e Andréia F. Nascimento: “Epidemiologia das depressões nas diversas fases da vida”. Em: Beny Lafer et al., Depressão no ciclo da vida, Porto Alegre: Artes Médicas, 2000, p. 28.
  16. José Alberto Del Porto: “Conceito de depressão e seus limites”. Em: Beny Lafer, Depressão… op. cit., p. 20.
  17. Cf. Donald Winnicott, O brincar e a realidade (1971), trad. José Octávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre, Rio de Janeiro: Imago, 1975.
  18. Gardiner Harris, do New York Times. Publicado no caderno Mundo da Folha de S.Paulo, 26 nov. 2006, p. A32.
  19. Denise Godoy, de Nova York, para a Folha de S.Paulo, 5 set. 2007: “EUA veem surto de jovens tratados por transtorno bipolar”. Caderno Mundo, p. A15.
  20. Ibidem.
  21. Ehrenberg, La fatigue… op. cit., p. 191.
  22. Apud Ehrenberg, op. cit., pp. 261-264.
  23. Hornstein, op. cit., p. 144.
  24. Depressão: comprometa-se com seu tratamento, assinado pelos professores Ângela Miranda Scippa e Irismar Reis de Oliveira.
  25. Chriz Martinez, “Uma indústria do bem-estar”… op. cit.
  26. David Healy, Let them eat Prozac: the unhealthy relationship between the pharmaceutical industry and depression. Nova York: New York University Press, 2004.
  27. Jeremy Laurance, do Independent, traduzido para a Folha de S.Paulo, 26 fev. 2008: “Estudo aponta que antidepressivos têm baixa eficácia”.
  28. Cf. capítulo XI, parte final.
  29. Mauro Mendes Dias, Neuroses e depressão, Campinas: Escola de Psicanálise de Campinas, 2004.
  30. Jacques Lacan, O Seminário, livro 7, A Ética da psicanálise (1959-1960), 1988, tradução de Antonio Quinet. São Paulo: Zahar, pp. 384-385.
  31. Ibidem, p. 383.
  32. Daí o sentido da subversão feita por Lacan sobre a verdade do sujeito cartesiano, que pode ser resumida como: “eu penso onde não sou/ sou onde não penso”. Cf. Jacques Lacan: “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”. Escritos (1966) vol. 1. Madri: Siglo Veintiuno, 1975, pp. 473-509.
  33. Freud, Totem e tabu (1914).
  34. Cf. Maria Rita Kehl, Sobre ética e psicanálise, São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
  35. Cf. Walter Benjamin, A origem do drama barroco alemão (1925) e Teses sobre o conceito de história (1940).

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