2007

Quem tem medo de Donald Rumsfeld?

por Robert Stam

Resumo

Em 1964, no auge da Guerra Fria, Stanley Kubrick lançou Dr. Fantástico: como aprendi a parar de me preocupar e a amar a bomba, adaptação do thriller de suspense Alerta vermelho, de Peter George. Kubrick decidiu que o assunto da guerra nuclear só poderia ser tratado sob a forma da sátira e do humor negro. Dr. Fantástico fazia parte de uma corrente artística chamada ora de “humor doentio”, ora de “comédia de humor negro”. Essa tradição performativa ridicularizava assuntos “delicados” e aterrorizadores, como o racismo e a guerra nuclear.

Grande parte da comicidade de Dr. Fantástico funciona ao se articularem questões de conotação sexual com questões de ordem militar e política, de forma a fazer alusão à dimensão psicossexual da neurose da Guerra Fria. O título original [Strangelove] — em tradução literal: “Estranho amor”, já pressupõe perversão. O filme designa e dá forma artística a um pesadelo nuclear comum, indicando a nós, telespectadores, que não estamos sozinhos no nosso medo ou quando achamos que nossos “líderes” são loucos. Ao mesmo tempo, o filme exorciza esses mesmos medos, transformando os poderosos vilões do filme em objeto de riso e de escárnio satírico.

O filme foi realizado numa época em que o sistema dominante utilizava o medo para dar suporte a um sistema político dominado por aquilo que o presidente Eisenhower chamava de “complexo militar-industrial”. Os americanos eram induzidos ao medo, por pensar que “os russos estavam chegando”, que a União Soviética estava sempre prestes a desencadear um ataque nuclear, e que eles tinham de estar permanentemente preparados.

O outro tipo de manobra exterior e provocadora de medo diz respeito à política externa e aos orçamentos militares. Após a vitória contra inimigos reais, na Segunda Guerra Mundial, o “complexo militar-industrial” dos Estados Unidos tornou-se cada vez mais poderoso, passando a necessitar cada vez mais de inimigos, como justificativa para os imensos gastos alocados no orçamento militar. O medo, nesse sentido, serviu como combustível básico para o complexo militar-industrial.

Após a queda do muro de Berlim, a busca voltou-se para novos inimigos, os novos eixos do mal”. O sistema que gera uma necessidade estrutural por um inimigo — quer sejam eles comunistas, ou Estados fora-da-lei, ou traficantes de drogas, ou ainda o Eixo do Mal, ou terroristas.

A guerra declarada do governo, como indicaram muitos críticos, não é contra um país, ou uma organização, mas sim contra uma abstração, o que traz a vantagem de nunca terminar.

O medo geralmente favorece a direita. O nazista Hermann Goring sugeriu àqueles que desejavam aumentar o seu poder, quer numa democracia, quer numa ditadura, que dissessem às pessoas que estavam sendo atacadas. Atualmente, a direita fala do medo, enquanto a esquerda fala de esperança.

A sátira e a paródia tornaram-se armas poderosas em uma luta política e estão muito vivas na televisão e na internet.

 


O PENTÁGONO, A PARANOIA E A CULTURA DO RISO

Em 1964, no auge da Guerra Fria, Stanley Kubrick lançou seu brilhante filme, Dr. Fantástico: como aprendi a parar de me preocupar e a amar a bomba. O filme era uma adaptação de um thriller de suspense intitulado Alerta vermelho, de Peter George, que contava a história de um general psicótico que ordenava um ataque de B-52 à União Soviética. Embora o romance tratasse do assunto com seriedade, ao escrever o roteiro Kubrick decidiu que o absurdo e o ridículo estavam no âmago da história. Afinal, disse ele: “O que pode ser mais absurdo do que a ideia de dois superpoderes querendo destruir os seres humanos [em nome de] diferenças políticas que daqui a cem anos parecerão totalmente sem sentido, da mesma forma que os conflitos teológicos da Idade Média nos parecem agora?”

Kubrick decidiu que o assunto da guerra nuclear só poderia ser tratado sob a forma da sátira e do humor negro.

Dr. Fantástico fazia parte de uma corrente artística muito mais ampla do período, uma forma de comédia satírica, chamada ora de “humor doentio”, ora de “comédia de humor negro”. Representada por artistas como Lenny Bruce, Tom Lehrer, Mike Nichols e Elaine May, essa tradição performativa ridicularizava várias vacas sagradas, fazendo pouco de assuntos “delicados” e aterrorizadores, como o racismo e a guerra nuclear. Tom Lehrer, por exemplo, cantava canções satíricas sobre a destruição nuclear, de maneira inadequadamente animada. O refrão de uma canção sobre o holocausto nuclear consistia de variações da frase “Vamos nos queimar todos juntos”. Outra canção, interpretada num estilo country e western, louvava as delícias de olhar as nuvens de cogumelo nos locais onde eram feitos os testes, em Nevada. De uma forma brechtiana, a amargura das letras contrastava com o estilo cômico e o tom da música. Ao representar o pior, porém de maneira cômica, as canções invocavam simultaneamente temores, enquanto simbolicamente os afugentavam.

Naquele momento, dois anos apenas após a crise dos mísseis de Cuba, a possibilidade de um confronto nuclear parecia bastante real. O próprio Kubrick escreveu que o ser humano tinha, então, o poder, num momento incandescente, de exterminar a espécie humana e que aquela geração poderia ser a última na Terra… o genocídio total. Ainda assim, o desafio para Kubrick era que o sujeito da guerra nuclear ainda parecia bastante abstrato, ao mesmo tempo real e irreal, impossível e inevitável. As pessoas estavam anestesiadas quanto à possibilidade de uma guerra nuclear. Kubrick tinha de tornar o problema real, dando ao terror, nas palavras de Shakespeare, “nome e endereço”, e os instrumentos que usou para isso foram o humor e a sátira. Kubrick lançou mão de diversos procedimentos. Um foi a lítotes, o eufemismo. Em certo momento, um general refere-se à morte de 20 milhões de pessoas, por exemplo, como o equivalente a “bagunçar o cabelo”. Por vezes, uma técnica de simplificação radical, remanescente da usada em Tempos de guerra, de Godard, retrata os generais como totalmente infantis. Quando um deles ouve falar do novo dispositivo nuclear do adversário, diz, do mesmo jeito que a criança que cobiça o brinquedo do vizinho: “Eu também quero!” Em outro ponto, a técnica funciona como oxímoro por contraste, como no clipe climático extraído de Dr. Fantástico, que superpõe uma canção romântica a imagens de destruição nuclear.

Como os quadrinhos de “humor doentio”, Kubrick faz pouco caso de figuras famosas da Guerra Fria, como o General Curtis LeMay, o cientista Edward Teller e o ex-nazista Werner von Braun. Muitos esquetes envolviam conversas telefônicas com apenas uma das partes, e vale a pena notar que Dr. Fantástico é cheio de cenas com telefones, interfones, sistemas de áudio público e outros dispositivos de comunicação. A técnica é incrivelmente eficaz para uma história em que o mínimo erro de comunicação poderia sem dúvida acabar em desastre nuclear, num momento em que as tecnologias militares e de comunicações se tornavam cada vez mais interligadas.

Grande parte da comicidade de Dr. Fantástico funciona ao se articularem questões de conotação sexual com questões de ordem militar e política, de forma a fazer alusão à dimensão psicossexual da neurose da Guerra Fria. O título original (Strangelove) — em tradução literal: “Estranho amor”, já pressupõe perversão. A imagem de abertura, dos bombardeiros sendo reabastecidos, coincide com uma canção romântica — Try a Little Tenderness (“Com um pouco de ternura”). Os chefes de Estado russo e americano falam como se tivessem uma pequena rusga amorosa: “Eu também amo você, Dmitri”. Os generais falam sobre sexo, utilizando terminologia militar, como, por exemplo, “contagem regressiva”, para as preliminares sexuais, e “decolagem”, para o orgasmo. De fato, pode-se ver o filme como conduzindo a uma espécie de orgasmo nuclear. Além disso, praticamente todos os nomes das personagens têm conotações sexuais: O premier russo é chamado Kissoff, que significa, entre outras coisas, “levar um fora”; o nome do general Ripper faz referência ao famoso psicopata sexual; o nome Buck Turgidson é triplamente masculino, pois “buck” faz referência a um veado macho, ou homem macho, “turgid” significa túrgido, ou seja, inchado como um pênis ereto e “son” significa filho homem. Já o nome do presidente americano — Merken Muffly — é redundantemente feminino, pois o primeiro nome refere-se aos pelos pubianos da mulher, e o segundo significa, em parte, um termo bastante usado para designar a genitália feminina. Em certo momento, os especialistas militares tecem especulações sobre um universo pós-nuclear, fantasiando sobre como ele seria uma espécie de harém, cheio de mulheres que ficariam totalmente à disposição deles. O ponto claro nesse filme homossocial, praticamente sem mulheres, é que a guerra é um jogo masculino. Embora os russos e americanos estejam prontos para ir à guerra por causa da ideologia, eles pelo menos concordam com a ideia de ter dez mulheres para cada homem.

Mas quais são as grandes fontes de prazer em um filme como Dr. Fantástico? Afinal de contas, o filme trata de um dos assuntos menos prazerosos que podem existir — a exterminação da raça humana. O mecanismo básico, eu diria, é o exorcismo cômico do medo. O filme designa e dá forma artística a um pesadelo nuclear comum, indicando a nós, telespectadores, que não estamos sozinhos no nosso medo ou quando achamos que nossos “líderes” são loucos. Ao mesmo tempo, o filme exorciza esses mesmos medos, transformando os poderosos vilões do filme em objeto de riso e de escárnio satírico.

Em Dr. Fantástico, a relação com o medo é semelhante à do carnaval na Idade Média. O carnaval, como todos sabem, acontecia contra o pano de fundo da peste — verdadeira — e do apocalipse — imaginário. Segundo Bakhtin, o “terror cósmico” e as “imagens escatológicas” associadas à peste serviram como ponto de partida para a ficção de Rabelais. É esse pano de fundo cataclísmico que explica os esqueletos e a imagem geralmente macabra dos festins medievais. Muitas das piadas mais obscenas de Rabelais giravam em torno de “joviais doenças” da gonorreia e da sífilis. Para Bakhtin, o carnaval era uma vitória simbólica sobre o medo, a piedade e a paranoia, pois alimentava o princípio da esperança, em uma época que apresentava inclinação para o desespero apocalíptico.

A sátira de Kubrick era tão eficiente que o epíteto “Strangelove” passou rapidamente a ser aplicado aos “guerreiros” da Guerra Fria, como Edward Teller e Henry Kissinger, no início, e a Dick Cheney, nos dias de hoje. O filme foi realizado numa época em que o sistema dominante utilizava o medo para dar suporte a um sistema político dominado por aquilo que o presidente Eisenhower chamava de “complexo militar-industrial”. Os americanos eram induzidos ao medo, por pensar que “os russos estavam chegando”, que a União Soviética estava sempre prestes a desencadear um ataque nuclear, e que eles tinham de estar permanentemente preparados.

Não acredito que o povo americano seja mais paranoico do que o povo de outras nações. Aliás, comentaristas estrangeiros [e norte-americanos] em geral sugerem justamente o oposto, ao observar o otimismo e a ingênua fé dos norte-americanos na humanidade e nos seus líderes. Tampouco devemos ver os Estados Unidos como tendo sido sempre uma nação intrinsecamente militarista. No seu Discurso de despedida, de 17 de setembro de 1796, George Washington alertou para o fato de que “um aparelho militar excessivamente inchado [seria] pouco propício à liberdade […]” Mas, mesmo que o povo norte-americano não seja particularmente paranoico, existem duas maneiras de suscitar medo e de fazer de alguém um bode expiatório — uma interna e outra externa — intrínsecas ao sistema político americano. Uma certa tendência paranoica da demonologia política na vida norte-americana ilude, ao se voltar para “bodes expiatórios determinados”, alguns internos, outros externos. A forma interna diz respeito à situação política na qual a direita — cujos “eleitores naturais”, de grande riqueza, seja pessoal, seja empresarial — é, por definição, minúscula e cujas políticas são profundamente impopulares, tem que ampliar essa base de eleitores por meio de intimidação, convencendo assim algumas pessoas a votar contra seus próprios interesses econômicos. Dessa forma, a direita explora o medo, enfatizando as questões sociais “tendenciosas” [social “wedge” issues], que dividem o eleitorado, por dizerem respeito a temores relacionados ao crime [implicitamente, crimes praticados por “negros”]; ao aborto [relacionado às mulheres]; à ação afirmativa [relacionado tanto às mulheres como aos negros] ou casamentos com pessoas do mesmo sexo [como reação ao medo dos gays]. Esse mecanismo populista utilizado pela direita é uma manobra ardilosa para desviar o medo e a hostilidade da elite corporativa, direcionando-os para a esquerda e as minorias, convencendo o povo a votar contra os seus próprios interesses. Thomas Frank chama tal situação de revolução francesa inversa, na qual os sans culotte exigem mais poder, não para o povo, mas para a aristocracia. E, até certo ponto, a manobra funciona, inchando a naturalmente minúscula base eleitoral com uma coalizão maciçamente zangada composta de ingênuos, ressentidos e desiludidos.

O presidente Bill Clinton foi um dos maiores alvos do medo e ressentimento da direita. Em um golpe de estado “abafado”, a direita tentou destituir Clinton por causa do seu relacionamento com Monica Lewinsky, quando aquelas mesmas pessoas de direita que perseguiam o presidente estavam atoladas até o pescoço em casos de aborto, relacionamentos ilícitos e filhos ilegítimos. Em geral, os esquetes humorísticos utilizam o humor para zombar das fobias da direita relativas à sexualidade. Quando a direita choramingava que “Clinton havia mentido,” o humorista Jerry Seinfeld colocou as acusações sob uma perspectiva correta. Clinton mentiu sobre sexo, disse Jerry Seinfeld, mas todo mundo mente sobre sexo. Aliás, sem mentiras nem haveria sexo! E em um popular cartaz antibélico lia-se: “Quando Clinton mentiu, ninguém morreu por isso!” Atualmente, a direita está explorando a homofobia e a questão do casamento entre homossexuais, em uma manobra para ganhar as eleições. Mais uma vez, a esquerda respondeu com humor. O humorista Bill Maher disse que não entendia toda a comoção sobre casamentos entre pessoas do mesmo sexo, porque quando se casavam, as pessoas começavam a ter o “mesmo sexo” indefinidamente.

O outro tipo de manobra exterior e provocadora de medo diz respeito à política externa e aos orçamentos militares. Após a vitória contra inimigos reais, na Segunda Guerra Mundial, o “complexo militar-industrial” dos Estados Unidos tornou-se cada vez mais poderoso, passando a necessitar cada vez mais de inimigos, como justificativa para os imensos gastos alocados no orçamento militar. O medo, nesse sentido, serviu como combustível básico para o complexo militar-industrial. Durante quase cinquenta anos, a Guerra Fria serviu a esse propósito. Podemos observar a natureza artificial desses medos, ao lembrar que às vésperas do colapso soviético os “especialistas” da direita ainda estavam advertindo para os terríveis perigos que a União Soviética representava. Após a queda do muro de Berlim, a busca voltou-se para novos inimigos, os “novos eixos do mal”, que pudessem justificar os gastos, que iam muito além dos gastos assumidos por qualquer outro país ou coalizão. Enquanto louvavam “mercados” por princípio, o complexo construiu um sistema perfeitamente azeitado. Um Pentágono, sem auditoria — apesar da exigência constitucional — domina o país, enriquecendo aqueles que se encontram no alto da escada corporativo-militar. Nesse ponto, os exorbitantes gastos militares estão entrelaçados na trama da economia e do governo norte-americano. O sistema que gera uma necessidade estrutural por um inimigo — quer sejam eles comunistas, ou Estados fora-da-lei, ou traficantes de drogas, ou ainda o Eixo do Mal, ou terroristas. Bin Laden veio preencher essa lacuna e forneceu a justificativa perfeita para os gastos e uma guerra sem-fim, como parte do keynesianismo dos guerreiros corporativos”. A guerra declarada do governo, como indicaram muitos críticos, não é contra um país, ou uma organização, mas sim contra uma abstração, o que traz a vantagem de nunca terminar.

O caráter de excepcionalidade norte-americano que leva a “guerras preventivas” e ao unilateralismo, do nosso ponto de vista, é tremendamente nociva, não apenas para o mundo, mas para os norte-americanos também. O candidato à presidência Denis Kucinich expressou isso muito bem, ao comparar a política da elite dominante à sugestão de Maria Antonieta feita ao povo francês, às vésperas da Revolução Francesa: “Qu’ils mangent les brioches” [“Que comam brioches”]. Como disse Kucinich, é como se o governo Bush dissesse ao povo norte-americano: “Qu’ils mangent la guerre!” [“Que comam a guerra”] . Os enormes gastos da dita “defesa” não protegeu os norte-americanos dos ataques de 11 de setembro, tampouco garantiram que o Pentágono, o North American Aerospace Defense Command [Norad] e a Federal Aviation Administratrion [FAA] pudessem reagir a um ataque real. De fato, é impressionante que no dia 11 de setembro, as pessoas comuns — os controladores aéreos, os passageiros dos aviões, os bombeiros, os policiais, os milhares de pessoas que se apresentaram para doar sangue ou para ajudar — tenham tido um desempenho brilhante. As pessoas lá de cima — um Bush confuso e amedrontado e um Cheney sedento de poder —, que deram as ordens que violaram a cadeia de comando constitucional, o comando aéreo estratégico e assim por diante é que foram totalmente incompetentes. Foram as comunicações dessas pessoas, como as do Dr. Fantástico, que deram errado.

Encontrar bodes expiatórios, demonizar os inimigos e inflacionar as ameaças geram o medo que justifica drenar os recursos para o poço sem-fim do desejo militar-corporativo — o que o general Wesley Clark chamou de “máquina desejante”. Tal ênfase no medo encontra-se codificada nos nomes de algumas dessas instituições neo-escroques, como por exemplo o “Comitê para o Perigo Atual”. David Frum e Richard Perle, transpondo de forma ilegítima os perigos históricos contra o povo judeu, como se atualmente tais perigos também se aplicassem à poderosa nação norte-americana, alertou contra um “holocausto” anti-americano.

A geração artificial do medo geralmente vai de par com um processo de demonização projetiva dos inimigos. Vemos tal processo com relação à ridícula francofobia, promovida pela direita norte-americana, quando a França transformou-se no bode expiatório de uma condenação da guerra contra o Iraque, que na verdade era mundial. Segundo René Girard, os bodes expiatórios são odiados por seus supostos atributos maléficos, mas amados por sua função unificadora. Mas, o que é impressionante em relação a alguns dos recentes inimigos é que eles foram criações parciais dos Estados Unidos — Noriega, os mujahedin do Afeganistão, Saddam Hussein, todos receberam inicialmente apoio dos Estados Unidos, dando a todo esse processo uma qualidade estranhamente incestuosa. O mesmo Dick Cheney, que mais tarde demonizou Hussein, “vendeu mais equipamento ao Iraque do que qualquer outro grande empresário”.[1]

O ódio mútuo existente entre Bin Laden e Bush assemelha-se ao ódio mútuo de alteregos. Ambos foram playboys ricos e mimados, que, mais tarde, se tornaram religiosos, e ambos reivindicam um mandato de Deus, estando prontos para matar em nome de suas crenças fundamentalistas. Bush e Saddam Hussein eram sem dúvidas sósias. Assim, os pronunciamentos virtuosos de Bush sobre o mal do regime de Saddam, que torturava e matava, acabou provocando um efeito bumerangue, quando veio à tona que soldados norte-americanos, assim como interrogadores contratados, também torturavam e matavam, às vezes nos mesmos locais, como Abu Ghraib, em que Saddam em pessoa havia torturado e matado.

O medo, assim parece, geralmente favorece a direita. O nazista Hermann Goring sugeriu àqueles que desejavam aumentar o seu poder, quer numa democracia, quer numa ditadura, que dissessem às pessoas que estavam sendo atacadas, denunciando os pacifistas por falta de patriotismo. Atualmente, a direita fala do medo, enquanto a esquerda fala de esperança, como no slogan do PT “Sem medo de ser feliz”, ou no de Clinton [se é que ele pode ser considerado de esquerda] “Votem por suas esperanças, não por seus temores”, ou ainda no de Jesse Jackson “Mantenha acesa a chama da esperança”. Sem dúvida, o medo está no âmago da mensagem de Bush. O lema de Roosevelt no auge da grande depressão econômica foi “A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo”. O lema de Bush, entretanto, era “A única coisa de que deveríamos ter medo é do fim do medo”.

O que Bakhtin chama de “cultura do riso” é a resposta à “cultura do medo”. A cultura do riso, central à concepção de carnaval de Bakhtin, é enorme, criativa, barulhenta e subversiva. Tem valor cognitivo. Diz Bakhtin que o riso demole o medo e a piedade de um objeto, limpando assim a área para uma investigação absolutamente isenta.

Neste ponto, gostaria de examinar o aspecto carnavalesco de certo gênero de humor encontrado na televisão a cabo dos Estados Unidos. Para mim, essa forma de humor dá seguimento, dentro de uma linha evolutiva, à corrente inicial de Kubrick e da “comédia doentia” dos anos 1950 e 1960. Aqui, tanto a sátira como a paródia fazem parte do arsenal cômico. Embora mais delicada do que a sátira, a paródia também tem valor cognitivo. Bakhtin retrata a carnavalização paródica como o braço privilegiado dos fracos. Como a paródia apropria-se de um discurso existente para fins próprios, ela adapta-se bem às necessidades dos relativamente impotentes, porque assume a força do discurso dominante, apenas para mobilizar tal força, por meio de uma espécie de jiu-jitsu, contra o discurso dominante.

A sátira e a paródia tornaram-se armas poderosas em uma luta política. E também nesse caso a batalha é travada entre a cultura do medo e a cultura do riso. O filme de Michael Moore Tiros em Columbine ridiculariza a tendência da direita de provocar medo a fim de ganhar as eleições. O seu filme atual Fahrenheit 9/11 também zomba dos medos manipulados pelo governo Bush. Considerado o mais bem-sucedido documentário jamais produzido, estima-se que tenha sido visto por metade da população norte-americana. Sem dúvida, o filme tornou-se parte do debate eleitoral.

A sátira e a paródia também estão muito vivas na televisão e na internet. Surgiu um grande número de páginas anti-Bush na internet, muitas das quais usam a sátira e a paródia, transformando, por exemplo, o Senhor dos Anéis [Lord of the Rings] em o “Senhor da Direita” [“Lord of the Right Wing”]. Com relação a isso, porém, eu gostaria de enfatizar apenas uma figura, o humorista Jon Stewart e seu programa The Daily Show. O show segue a lógica do entertainment news, até a sua conclusão lógica, fazendo com que as notícias sejam realmente um entretenimento. Mas, paradoxalmente, esse programa humorístico conta-nos mais sobre os acontecimentos que os programas de notícias sérios e convencionais. O programa tornou-se um tal sucesso que agora é citado com regularidade nos “programas sérios de notícias”. De fato, estudos mostraram que os jovens norte-americanos buscam com mais frequência saber das notícias no programa de Jon Stewart do que nos telejornais “verdadeiros”.

Jon Stewart é o nosso pequeno Derrida da cultura pop, o nosso desconstrucionista da televisão a cabo. Noite após noite, ele desconstrói as contradições e as aporias do discurso da direita. Um dos seus temas favoritos é a tensão que existe no discurso da Casa Branca entre, por um lado, tentar assustar e, por outro, tentar acalmar. De um lado, um discurso tenta assustar: “Os terroristas estão chegando, vão nos matar! Tenham medo”. De outro lado, outro discurso tenta acalmar: “Está tudo normal, nós estamos mais seguros”. Geralmente, Stewart justapõe clipes que contrastam as duas tendências, uma que tenta assustar e a outra que tenta acalmar. Por um lado, o governo tenta assustar os norte-americanos, fazendo-nos pensar que o momento de “mudar de montaria” não é propício, que o voto para Kerry é um voto pró-terroristas e que a eleição devesse talvez até ser suspensa. Ao mesmo tempo, entretanto, Bush quer acalmar a população com a afirmação de que ele nos dá mais segurança. O povo tem de ser assustado, mas só até um certo ponto.

Como eu já disse, uma das técnicas de Stewart é simplesmente revelar as contradições, por meio da justaposição. Num dos programas ele justapôs a negação de Dick Cheney a propósito de algo que ele teria dito e um clipe onde ele aparece dizendo exatamente aquilo que havia negado ter dito. Esse tipo de tática acaba por exercer impacto nos telejornais convencionais, que citam as montagens feitas por Stewart. Da mesma forma que Walter Benjamin descreveu a dramaturgia brechtiana como sendo um “teatro de interrupções”, Stewart entrecorta o discurso do governo, às vezes interrompendo literalmente para fazer uma mímica do medo ou fazer gozação com a incapacidade de Bush em se expressar, incentivando-o ironicamente. “Vamos lá… ponha para fora… você vai conseguir.”

Outra técnica utilizada é uma espécie de jiu-jitsu, durante a qual Stewart faz com que o discurso do governo acabe por ter um efeito bumerangue contra si mesmo. A técnica do efeito bumerangue é especialmente adequada a um presidente que constantemente projeta nos outros as suas próprias agressões e que é dado a demonizações projetivas. É assim que Bush repetidamente acusa outros de fazer exatamente o que ele está fazendo. Foi assim que ele acusou Saddam de “desafiar o mundo” e “fazer pouco caso das Nações Unidas”, quando era exatamente o que ele, Bush, estava fazendo. A técnica de bumerangue de Stewart “manda de volta” a Bush as agressões que ele próprio cometeu. Em um episódio, Stewart mostrou Condoleezza Rice falando do regime de Saddam como sendo obcecado com segredos e disposto a usar a força. Stewart simplesmente repetiu as palavras, fazendo com que o público as ouvisse de outra maneira: “Obcecado por segredos e disposto a usar a força … Humm… Nem vou comentar a ironia dessas palavras”. A clara insinuação era que o governo Bush também é “obcecado por segredos e disposto a usar a força”. Outro episódio mostra Bush descrevendo o Iraque como um país controlado por um homem cruel. O adendo de Stewart, tendo como pano de fundo uma foto de Rumsfield e Cheney, foi: “E agora, está controlado por dois homens cruéis”. [O insulto ainda continha a insinuação adicional de que Bush não era realmente o presidente.]

Outra das técnicas de Stewart é cortar as idealizações mentirosas tão típicas de Bush: “Sou um homem paciente”, “Os terroristas detestam a nossa democracia!”, “Somos um povo generoso”— esclarecendo a natureza narcisística e ilógica das suas afirmações.
Quando Bush disse que os abusos da prisão de Abu Ghraib não “representavam a verdadeira e essencialmente boa América”, o Daily Show fez zombaria dessa negação tão narcisista, fazendo com que o falso repórter dissesse o seguinte: “John, a questão não é se os soldados americanos de fato torturaram aqueles prisioneiros iraquianos, o mais importante é que não somos o tipo de gente que torturaria aqueles prisioneiros”.

Em outro momento, Stewart corta os eufemismos que os militares usam para embelezar o que é cruel e feio. Um dos memorandos de alto escalão sobre o uso da tortura nas prisões militares americanas fala de um “novo paradigma” que pode contornar as convenções de Genebra. O comentário de Stewart: “Que alívio! Então, não é tortura, é apenas um novo paradigma. Mas, nesse caso, por que você não liga este novo paradigma no seu saco?”

O discurso de Bush é geralmente autoritário e tautológico. “Eu fiz porque era a coisa certa a fazer! Eu fiz porque era o certo para os Estados Unidos!” Mas Stewart interrompe as tautologias de Bush e, além de questioná-las, faz piada. O texto a seguir brinca com todos os truques que acabamos de examinar, a flutuação entre causar medo e acalmar, as tautologias, a recusa em assumir responsabilidade.

Jon Stewart: Bem-vindo ao Daily Show. A última notícia é que a inteligência estava totalmente errada sobre o Iraque, as justificativas da guerra eram fracas e a guerra não foi legítima. Mas hoje o presidente Bush ofereceu uma resposta. Ele usou oito vezes a mesma frase, refutando os críticos de maneira poderosa.

George Bush: Dado o fato que invadimos o Iraque e que livramos o Iraque do seu ditador, o povo americano está mais seguro.

Jon Stewart: Agora, algumas pessoas dizem que o Iraque virou um novo foco de terrorismo e que a al-Qaeda poderia nos atacar amanhã, e que por isso estamos menos seguros. Mas vamos ver como ele vai explicar isso.

George Bush: O povo americano está mais seguro.

Jon Stewart: “Uau! Falou a mesma coisa outra vez! Mas, o Departamento de Estado acaba de publicar um relatório que disse que o terrorismo no mundo aumentou até um ponto nunca antes registrado.

George Bush: O povo americano está mais seguro.

Jon Stewart: [falando com Bush] Está bem, estamos mais seguros. Mas cá entre nós, deixe-me fazer uma pergunta. Qual é exatamente o seu critério para dizer que estamos mais seguros? Qual é a prova, além da sua palavra?

George Bush: O povo americano está mais seguro. O povo americano está mais seguro. O povo americano está mais seguro. O povo americano está mais seguro.

Jon Stewart: Agora entendi… A nossa estratégia contra o terrorismo é…. a repetição! [falando com Bush outra vez] Bom, agora repita aquela frase mais uma vez, mas desta vez com brilho, com um toque extra, só para confirmar.

George Bush: O povo americano, e o mundo, estão muito mais seguros.

Jon Stewart: [parodiando Bush] Estamos mais seguros. Estamos mais seguros.

Falando sobre segurança nacional, o chefe de segurança da nação, Tom Ridge, disse, numa entrevista coletiva, o que segue:

Tom Ridge: A al-Qaeda está planejando um ataque em grande escala contra os Estados Unidos, com a intenção de interromper o processo democrático.

Jon Stewart: Nós estamos mais seguros, mas ainda assim é um pouco assustador. Mas não vamos deixar a al-Qaeda nos dizer como deveríamos votar! Então, o nosso governo respondeu à ameaça de o inimigo interromper o processo democrático. Como? Decidindo interromper o processo, antes dos terroristas.

Aí parece que o governo americano está contemplando a possibilidade de suspender as eleições. O chefe de eleições Soires escreveu para o Departamento de Justiça para ver a possibilidade de adiar as eleições.

Mas é só um balão-de-ensaio, uma tentativa sem importância de ver se o presidente americano, em certas circunstâncias, poderia se declarar — César!

Mas antes de exagerar ou de reagir com um medo exagerado, parece que Condoleezza Rice deu uma entrevista à televisão. E tenho certeza de que ela vai explicar o mistério de por que os Departamentos de justiça e de Segurança da nação estão mexendo numa área na qual não têm jurisdição.

Wolf Blitzer: [na TV] As pessoas estão preocupadas porque parece que houve uma troca de memorando sobre a ideia de adiar a eleição.

Condoleezza Rice: Wolf, não sei de onde vem essa ideia. Não sabemos de onde vem tudo isso de que estão falando.

Jon Stewart: Não entendeu? Então vou explicar. Este cara aqui [foto], chefe das eleições, nomeado pelo seu patrão [foto] — eis os dois juntos —, escreveu para Tom Ridge, também nomeado pelo seu patrão Bush, que entrou em contato com o Departamento de Justiça [foto de John Ashcroft], também nomeado pelo seu patrão Bush. É de lá que veio tudo isso. Mas eu entendo que você esteja confusa, porque é uma questão de segurança nacional. E você é somente a Conselheira em…. Segurança Nacional.

É por meio da comédia que Jon Stewart explorou as mais sérias questões — a mentira no mais alto escalão, a justificativa para a guerra do Iraque e a possibilidade de um golpe de Estado da direita. Mas, ele fez isso de maneira atraente para os jovens, adequada a uma era pós-moderna, saturada de mídia.

Dizem que Eisenhower, em seu discurso de despedida, pensou em alertar a nação sobre o complexo “militar-industrial-congressional”, mas decidiu não usar a palavra “congressional”. Hoje, teríamos que acrescentar a palavra “entretenimento”: o complexo “militar-industrial-congressional e de entretenimento”. Com George Bush, deparamos, talvez pela primeira vez, com uma situação em que o presidente não apenas é influenciado por esse complexo, mas, de certa forma, encarna esse complexo. Mas Bush possui muitos aliados na imprensa. E, embora o objeto direto da crítica de Stewart seja George Bush, o objeto indireto da crítica é a própria mídia e a sua passividade e cumplicidade diante das mentiras do governo. Nesse sentido, o escândalo é que esse tipo de crítica esteja sendo deixado aos humoristas, não fazendo parte do debate político normal na mídia.

O que é interessante sobre a questão do medo, com relação à direita americana, é que ela fomenta falsos medos, nos quais ela não acredita — ou seja, o seu falso medo de um Iraque na verdade enfraquecido —, ao mesmo tempo em que esconde seus verdadeiros medos [a perda do poder ou dos lucros, a revelação dos escândalos, o fim do império norte-americano].

Assim, gostaria de terminar especulando sobre os medos de George Bush. Embora eu não queira reduzir complexas questões econômicas e políticas a uma psicologia popularesca, vejo problemas sérios com relação ao nosso sujeito do medo. Um livro recentemente lançado pelo psiquiatra Justin A. Frank, intitulado Bush on the Couch [Bush no divã], oferece um retrato devastador do presidente. Frank diagnostica Bush como uma pessoa paranoica, sádica e com déficit de aprendizado, incapaz de sentir empatia e de assumir a responsabilidade pelos seus atos. Cheio de raiva em relação ao seu distante pai, George Bush Jr. destrói pelo prazer de destruir. Ou, fazendo um trocadilho compreensível apenas em inglês: Édipo, o demolidor. Édipo, Rei. Édipo, o destruidor. Alguns dos famosos atos falhos de Bush revelam, inadvertidamente, sua tendência para a destruição. O mais recente: “O meu governo nunca deixará de pensar em novas formas de prejudicar o nosso país e o nosso povo”. Segundo Frank, Bush ataca constantemente porque se sente sempre atacado. Seus impulsos são os de uma criança emocionalmente deficiente. Aterrorizado por ter de confrontar a violência dentro da sua própria psique, Bush maltrata os outros e injeta temores no coração dos seus concidadãos. Em seu temor de sequer parecer ter medo, ele talvez seja um dos homens mais aterrorizados dos Estados Unidos. E foi isso que Michael Moore capturou em tempo real, durante os minutos que durou a expressão de animalzinho encurralado de Bush, ao ouvir a notícia do 11 de setembro. Sua exibição de bravata, expressada em um discurso, emprestado de filmes de bangue-bangue e de gângsteres, encobre os seus próprios temores: “Utilizando o primitivo mecanismo infantil de se desligar de uma parte intratável do seu ser e projetando-a no ambiente que o cerca, o sádico desliga-se da sua destrutividade e a atribui a outra pessoa”.[2] Saddam torna-se um alvo fácil sobre o qual Bush pode impor sua própria violência. (É claro que isto não quer dizer que Saddam Hussein não seja, ele próprio, violento.)

Mas aqui temos o paradoxo do poder de Bush. O machão George Bush, tão rápido em dar ordens ao mundo todo, demonstra claramente medo em falar com qualquer líder mundial que discorde dele ou de aparecer diante de uma plateia que não seja acomodável. Ele tem medo de entrevistas coletivas e mesmo de comparecer diante da Comissão do 11 setembro, dominada por republicanos, sem a proteção do seu pai substituto, Dick Cheney. Ele tem medo de se preocupar com os verdadeiros medos deste governo. Que medo lemos nos rostos dos “falcões”? Eles estão no ponto mais alto do planeta, em termos de hierarquia de riqueza e poder, e ainda assim vemos medo no permanente sorriso afetado de gângster de Dick Cheney, no rosto sem expressão de Richard Perle, no olhar de profunda depressão de Paul Wolfowitz e na expressão grave de criança maltratada de John Ashcroft. Eles são alguns dos homens mais ricos e poderosos do mundo, capazes de desencadear o poder de fogo do “choque e pavor” da mais poderosa máquina militar jamais inventada, e ainda assim olham para o mundo como se um holocausto estivesse prestes a acontecer [e, graças a eles, talvez aconteça].

Não estou dizendo que todos os medos são artificiais, tampouco que a sátira e a paródia bastam. Mas estou dizendo que, diante dos medos manipulados, artistas como Jon Stewart oferecem uma sátira destemida. Os prazeres do Dr. Fantástico, no período inicial, e o do Daily Show, hoje, consistem no exorcismo cômico tanto da raiva como do medo. De uma maneira leve, eles dizem coisas muito sérias. [Como Bakhtin nos lembra, quanto mais ria, mais profundo Rabelais ficava]. Chateado com as mentiras de Bush e em razão da cumplicidade da mídia com essas mentiras, o Daily Show funciona como bálsamo e estimulante. Ele nos diz que as mentiras de Bush são risíveis, que nossos líderes são loucos e perigosos e que o Rei está nu. Como um iconoclasta, Stewart destrói a imagem de “líder forte” de Bush. Ele remove a máscara piedosa para revelar o palhaço. E o riso da multidão tranquiliza-nos e tomamos consciência de que não estamos sozinhos.

Tradução de Heloisa Martins Costa.

Notas

[1] Cf. Nicholas Kristof, “Revolving-Door Master”, em The New York Times, 11-10-2001, A-33.

[2] Justin A. Frank, Bush on the Couch. Inside the Mind of the President [Nova York: Regan Books, 2004].

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